Digital First, caminho sem volta
Trabalho na área de tecnologia há 20 anos e na última década tenho descortinado o mundo da transformação digital. Lembro que vários projetos das consultorias de alta performance em que atuei foram negados por tubarões do mercado que não viam que a era digital é um caminho sem volta.
Empresas robustas que, por falta de crença ou medo de seus sistemas legados não desenvolveram um plano de como adaptar processos e metodologias ao mindset #DigitalFirst . A pandemia pegou em cheio esses grandes tubarões que tiveram que adaptar três anos em três semanas, e o processo de digitalização desde estruturas do employer home office até o lançamento/ampliação dos canais digitais de vendas.
Tudo aconteceu como num passe de mágica para aqueles que tinham fluxo de caixa e fôlego empresarial para esse investimento e os próximos meses de adaptação. Ainda me preocupa uma transformação de fora para dentro em meio a uma crise que não propicia a busca de melhores ferramentas, parceiros de desenvolvimento, diagnóstico e blueprint para implementação.
Como garantir que médias e grandes empresas com raízes institucionais profundas comecem a pensar suas soluções, cultura e relações originariamente a partir do digital? Este é um papo que aprofundaremos em um próximo texto. Por hora, me debruço sobre os pequenos negócios que, por falta de acesso, não nasceram como negócios digitais e não possuem capital de giro.
Divulgado na semana passada novo levantamento do Sebrae para analisar o impacto da pandemia do coronavírus nos pequenos negócios: de acordo com a pesquisa, 42% dos empreendedores participantes fizeram dívidas ou empréstimos e estão com o pagamento dessas obrigações financeiras atrasado.
A população negra é a parcela que mais abre negócios no país, mas é também a que possui faturamento mais baixo. Segundo o estudo Global Entrepreneurship Monitor de 2017, 51% dos empreendedores brasileiros são negros, mas eles correspondem a apenas 1% dos pequenos negócios que lucram de 60 mil a R$ 360 mil.
A transformação digital pode ser a solução ou a aniquilação desse tipo de empreendimento, que possui mais facilidade de digitalização por já operar num caos e sem legado sistêmico. No entanto, são os que não possuem recursos para realizar essa inserção digital de maneira estruturada.
Vimos que a Bolsa no mês de agosto se encerra com queda por conta dos riscos fiscais e custos públicos que têm preocupado o mercado nas últimas semanas, caminho contrário das grandes Bolsas ao redor do mundo.
Mesmo em momento de queda, são as empresas do comércio eletrônico que continuam em valorização no período e que vem nadando de braçada no redemoinho da crise com valorização de 80% ao ano, como Magalu, B2W e Via Varejo.
Sim, empresas que estão ligadas diretamente ao varejo digital e que foram inovadoras em implantar processos e laboratórios para pensar na experiência dos seus consumidores, parceiros e colaboradores pelo digital.
É sabido que ambientes tecnológicos podem propiciar mais flexibilidade e eficiência até mesmo para os microempreendimentos, mas como trazê-los para essa realidade?
Uma oportunidade inicial para estes grupos são os marketplaces criados no conceito de community building (grupos de indivíduos que possuem interesses comuns e que, unidos, podem movimentar ações com impacto social, muita das vezes movidos a um propósito).
Não é por acaso que a quarentena nos trouxe a EmpoderaTrans , primeira plataforma de empreendedorismo trans do Brasil, e o marketplace da RME, Rede de Mulheres Empreendedoras. Ambas as plataformas colocam grupos minorizados de acesso a crédito, investimentos e aceleração em um ambiente tecnológico para fomento a negócios, visibilidade e interações com possíveis parceiros.
Oportunidades de conhecermos e investirmos em produtos e serviços criados e liderados por pessoas transgêneras e mulheres.
Há três anos que o Movimento Black Money, hub de inovação tecnológica para autonomia da população negra, o qual sou uma das fundadoras, vem instrumentalizando afroempreendedores para estratégias digitais.
No início de março deste ano a pandemia nos pegou prevenidos —foi lançado o Mercado Black Money, um marketplace de venda de produtos e serviços exclusivos de lojistas negros.
Além de uma plataforma de e-commerce segura os empreendimentos negros encontram ebooks e artigos para gestão de negócios, uma comunidade de mais de 100 mil pessoas que transitam em nossas redes à procura da prática do black money e do fortalecimento da luta antirracista, além de outros 330 lojistas que podem construir pontes entre negócios e fomentar cadeias produtivas mesmo nesse momento de escassez.
Para quem quiser saber mais sobre era digital e se engajar no Mercado Black Money:
Enquanto temos mais de 120 mil mortos contabilizados, o e-commerce neste momento deveria ser a única loja aberta no Brasil.
Acredito que a era digital é a revolução que pode construir ou derrubar castelos, basta colocarmos estruturas nos espaços e grupos onde investimentos intencionais edificarão novos modelos de negócios pautados em oportunidades e não escassez.
Seguimos vendo e apoiando novos espaços sendo erguidos em bases coletivas pautadas em propósito, reequilíbrio de poder e, por que não, lucratividade.
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