Empreendedorismo cresce e bate recorde em meio à pandemia
No dia 5 de outubro, comemora-se o Dia do Empreendedorismo em homenagem ao estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte e aos 52 milhões de brasileiros que possuem negócio próprio, segundo levantamento da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em 2019. Deste total, 9,031 milhões são microempreendedores individuais (MEIs), segundo pesquisa do Sebrae. Em 2020, o Brasil caminha para recordes em número de empreendedores na história, com esta parcela correspondendo a 30% do Produto Interno Bruto brasileiro.
"Embora seja um dia de celebração para os micro e pequenos negócios, vivemos um momento muito difícil, onde a micro e pequena empresa está dentro de um redemoinho causado pela pandemia. Estamos começando a ter que voltar a pagar os impostos que foram suspensos por alguns meses, entre abril e setembro, e o acesso a crédito ainda é um dos principais problemas", comenta Carlos Melles, diretor do Sebrae.
Como empreender pode ser uma alternativa para um ambiente de incerteza onde, mesmo com a baixa da taxa básica de juros, não encontramos crédito para os pequenos negócios? Como estruturar uma iniciativa pautada em inovação com processos e canais pautados no digital sem investimento primário, com a alta do desemprego e o aumento da precarização do trabalho causado por inúmeros fenômenos, como, por exemplo, a "gig economy"?
Para entendermos como empreendedorismo compulsório pode se tornar oportunidade quando um negócio é estruturado destaco três iniciativas inovadoras pautadas em diversificação de produtos, economia criativa colaborativa e digital service em educação, que se reinventaram ou alavancaram durante a crise:
DaMinhaCor
As iniciativas para lançamentos das linhas de produtos da DaMinhaCor e Nubia.Afri vêm da observação de dentro de casa das mulheres da família. Num segundo momento, ratificaram que o problema identificado não era uma particularidade familiar, e sim de muitas pessoas, ou seja, identificaram um MERCADO ainda não atendido. A partir deste momento, geraram um modelo de negócios, onde buscaram referências em outros países e até uma produção é feita fora do país, na busca de um produto inovador. Desta maneira, confeccionam toucas de natação e toucas descartáveis para cabelos volumosos (atendendo cabelos crespos, cacheados, trançados e com dread locks, um mercado esquecido e marginalizado pelas concorrentes), moda esportiva e linha de maquiagem (com uma vasta diversificação para peles mais melaninadas). Ainda neste ano 2020, destacam que possuem mais dois lançamentos para fazer nas áreas de maquiagem e educação.
Antes de empreender na DaMinhaCor eu já praticava intraempreendedorismo em uma empresa do segmento de energia, onde idealizei e implantei o "paperless" na área de Compras e Negociações, como parte desta ação de maneira pioneira no Brasil o uso do token e-CPF para assinatura digital de contratos, transformando a área em benchmark para o mercado.
Mauricio Delfino, fundador das iniciativas
A empresa tem 2 anos e meio, e o faturamento no primeiro ano foi acima de R$ 1 milhão.
Nós estamos conquistando e ocupando espaços, e esses lugares precisam estar preparados para nos receber. Seja uma escola de natação para receber um aluno com os cabelos afro super volumosos ou um hospital, clinica ou restaurante para fornecer uma touca descartável para seus profissionais.
Mauricio Delfino, fundador das iniciativas
A Pequena África
A Pequena África Boutique nasceu em 2019 pelo desejo de fortalecer marcas de empreendedores pretos a partir da força do coletivo. Uma loja colaborativa situada no coração do centro da cidade do Rio de janeiro onde afroempreendedores compartilham e potencializam seus negócios. A inovação se dá em ocupar um espaço que muitos deles não conseguiriam arcar sozinhos e ainda dividir outros serviços reduzindo custos, ampliando networking, compartilhando público (que, em sua maioria, é um cliente em potencial para quase todos), utilizando a estratégia de community building como força de marca e propósito.
A Pequena África Boutique é composta por nove marcas de produtos diferenciados criados especialmente para seus clientes, um espaço onde você encontra a Modash, que é uma marca de moda afro brasileira, a Clichêe Acessórios, marca de bijuterias afro, Ilé Décor, decoração e mesa posta afro, Lylli Afro, arte de vestir vestidos e bijuterias em resina pintados à mão, Kurandé Cosméticos, produtos de cosmética natural, Lira_Camisaria, autoral de estampas exclusivas, Negrei, marca de comunicação antirracista, Estampa Brasil, marca de bolsas com estamparia autoral e sustentável, e cosméticos da Negra Rosa, maquiagem especializada para pele negra.
Na pandemia, a loja passou a fazer um evento virtual chamado Lonlon. Escolhemos esse nome pelo significado em África: afeto! E é isso o que todos precisamos nesse momento inusitado. Esse evento online era interativo, com participação de convidados, bate-papo, empreendedores convidados, intervenções artísticas e, nos intervalos, nossos empreendedores apresentando seus produtos e mostrando o que fizeram durante o isolamento social. As lojas também aproveitaram para digitalizar seus negócios aderindo ao marketplace do Mercado Black Money e também desenvolvendo lojas próprias virtuais.
Segundo Gisele Barthar, uma das fundadoras
HB Consulting
A HB Consulting, educação em língua estrangeira com foco à distância, nasceu por duas razões: as dificuldades geradas pelo racismo estrutural e a necessidade do engajamento preto em iniciativas de fortalecimento, reconhecimento, representatividade e autonomia.
Em 2005, o mercado de petróleo e gás estava em alta, e a maioria das empresas oferecendo oportunidades nessa área eram multinacionais que exigiam inglês intermediário dos funcionários. Havia também muitas oportunidades fora do Brasil, e alguns engenheiros iam trabalhar nessas empresas cursando inglês online pelo Skype.
Humberto Baltar, fundador da iniciativa, começou a trabalhar em um curso que oferecia esse modelo de aulas, mas a remuneração era muito baixa e não havia perspectiva de crescimento. Nos demais cursos de inglês, o cenário era o mesmo. As oportunidades de promoção e ofertas de turmas eram menores para professores iniciantes, especialmente pretos, independente da qualificação. Mas ele não se achava digno de ter seu próprio negócio e também não tinha acesso à informação sobre como abrir um microempreendimento. As pessoas diziam que precisava ter um contador, pagar uma quantia altíssima por mês e diversas taxas.
Quando, finalmente, Humberto decidiu abrir a HB, no dia em que foi tirar o alvará, a funcionária da Prefeitura pediu a procuração de quem estava abrindo o negócio, como se fosse impossível uma pessoa preta ter esse tipo de iniciativa.
O ano era 2013 e, mesmo hoje, os empreendedores pretos encontram as mesmas dificuldades.
Comecei com pouquíssimos alunos e com a ajuda de outros empreendedores, especialmente no Movimento Black Money, aprendi a cobrar fora do país usando o PayPal e hoje me orgulho de ter as maiores empresas do país e alunos em todos os continentes na nossa carteira de clientes. Valeu a pena acreditar. Buscamos facilitar o acesso da comunidade negra ao ensino de inglês com condições especiais e ofertas de parceria e marketing, onde todos saem ganhando. Dessa forma, ajudando outros empreendedores e a comunidade negra em geral, o negócio decolou em receita e parcerias.
Humberto Baltar, fundador da iniciativa
São casos que demonstram que empreender, além de abrir um negócio ou gerar renda para subsistência, é transformar socio e economicamente o ecossistema em que se encontra.
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