Todos a Bordo

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Avião de Lula voou em círculos por horas antes de pousar; por quê?

Na noite desta terça-feira (1º), o VC-1, avião presidencial brasileiro, precisou voar por várias horas para queimar combustível antes de pousar no aeroporto Aeroporto Internacional Felipe Angeles, a cerca de uma hora da capital, Cidade do México. A aeronave decolou durante a tarde e teve problemas técnicos, precisando retornar ao solo.

O procedimento ocorreu com segurança, segundo a FAB (Força Aérea Brasileira), que opera a aeronave. O modelo é um Airbus A319 VIP, batizado de Santos Dumont.

Por que precisou voar tanto?

De acordo com plataformas de monitoramento de voos online, após decolar, o VC-1 voou em órbitas, que têm o formato de um oblongo (similar a uma elipse). Esse procedimento durou cerca de cinco horas, e foi necessário para reduzir o peso a bordo da aeronave, consumindo o máximo de combustível possível.

Essa redução de peso é necessária devido às limitações das aeronaves na hora do pouso. Os aviões possuem peso máximo de decolagem e peso máximo para pouso. O primeiro costuma ser maior do que o segundo, já que estará levando mais combustível do que na hora da chegada.

A força que o pneu exerce sobre o solo na decolagem é diferente da do pouso, onde há um impacto maior. Caso esteja com peso acima do limite, esse choque pode causar danos ao trem de pouso, à estrutura da aeronave e à própria pista.

Devido a isso, é necessário reduzir o peso para evitar que a aeronave sofra alguma avaria, podendo até mesmo ficar impossibilitada de voar dependendo da situação. Daí a necessidade de se adequar ao peso máximo de pouso, que é menor que o de decolagem, já que o combustível vai sendo consumido durante o voo, reduzindo o peso da aeronave como um todo.

Como um exemplo, podemos comparar essa situação à de uma pessoa obesa que precisa praticar exercícios. Em muitos casos, médicos recomendam a caminhada em vez da corrida, já que, na segunda situação, pode haver impacto negativo para as articulações, quando a primeira é menos prejudicial, em tese.

Não dá para jogar o combustível fora?

Algumas aeronaves possuem sistemas de alijamento de combustível, justamente para situações como essa. Esse procedimento precisa ser feito sobre áreas específicas do mapa, e tem de ser autorizado pelos controladores de tráfego aéreo.

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Aeronaves menores e médias não precisam contar com esse sistema, pois seu peso máximo de decolagem é próximo ao peso máximo de pouso. É o caso da maioria dos jatos executivos, do Airbus A320, do Boeing 737 e do próprio VC-1, um Airbus A319.

Aviões de maior porte, geralmente utilizados para rotas mais longas, acabam contando com o sistema, pois precisariam voar por muito mais horas para queimar o combustível extra. É o caso dos aviões Airbus A350 e Boeing 787, utilizados para trajetos mais distantes.

Essas aeronaves, quando passam por uma situação como essa, podem alijar o combustível e diminuir o seu peso enquanto realizam órbitas, tornando o regresso ao solo mais rápido.

Exemplo hipotético

Para explicar a operação, tomemos como exemplo hipotético um Airbus A319 que pode decolar pesando até 75,5 toneladas, mas que o pouso deve ser feito pesando até 64 toneladas.

Se após a decolagem o avião precisar pousar, serão 11,5 toneladas que terão de ser reduzidas no peso, caso esteja na capacidade máxima. Sem sistema para alijamento de combustível, uma alternativa é voar mais baixo, onde o ar oferece mais resistência e aumenta o consumo do avião.

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Com uma carga típica, o avião seria capaz de voar 7 mil km, aproximadamente, o que daria cerca de oito horas de voo. Se o avião consumir uma média de 3.600 litros por hora de voo, que pesam 2.800 kg ao todo, seria necessário voar entre quatro a cinco horas para reduzir o peso em 11,5 toneladas, tornando o avião apto a pousar sem maiores riscos.

Esses valores são aproximados, e estão sendo utilizados apenas para fins didáticos. Cada voo é único, e é necessário de levar em consideração características daquela aeronave, combustível, carga, passageiros, temperatura, altitude, entre diversos outros fatores, para fazer os cálculos citados acima.

E se precisar pousar?

Em situações críticas, os pilotos podem optar por pousar mesmo acima do peso. Seria o caso de uma emergência que foge do controle da tripulação, como um princípio de incêndio ou perda da capacidade de manobra do avião.

Em 2018, um Boeing 777 da Latam precisou fazer um pouso de emergência no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins (MG). A aeronave fazia a rota de Guarulhos (SP) a Londres (Inglaterra), quando uma pane elétrica afetou a capacidade do avião continuar o voo.

A bordo estavam 336 passageiros e 15 tripulantes, que desembarcaram em segurança. Como ainda estava no começo do voo, a aeronave estava muito mais pesada, o que acabou causando danos a oito dos 12 pneus.

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