Ameaça cibernética: 'piratas' confundem sinais de GPS e põem voos em risco
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Uma nova ameaça cibernética pode colocar a aviação em risco em pouco tempo. Falsificações e interferências diárias nos sinais de localização das aeronaves estão afetando voos em pleno ar, confundindo os sistemas dos aviões e atrapalhando pilotos com coordenadas e horários falsos.
O principal alvo é o GNSS (Global Navigation Satellite System, ou Sistema Global de Navegação por Satélite), que engloba várias tecnologias de navegação, incluindo o mais popular, o GPS (Global Positioning System, ou Sistema de Posicionamento Global).
Essa tática pode ser usada por "piratas" para terrorismo ou como ferramenta de guerra, e a quantidade de casos cresce a cada dia.
Aviação em risco
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Um levantamento do OPS Group, grupo de profissionais especializados em operações de voo, mostrou que cerca de 1.500 voos são afetados diariamente por falsificações do sinal de posicionamento por satélite. Com a chegada do inverno no hemisfério norte, o risco pode aumentar, devido às más condições climáticas, que tornam a navegação aérea mais dependente desses sistemas.
A falsificação ocorre quando a aeronave está em uma posição específica no mapa, mas os sistemas de bordo indicam que ela está em outro local ou em velocidade diferente. A interferência, por sua vez, pode ser a ausência total de sinal ou ruídos que tornam a localização instável e imprecisa.
Essas interferências no GNSS podem ocorrer de forma acidental ou criminosa. Recentemente, o aeroporto de Guarulhos (SP) enfrentou problemas durante vários dias devido a falhas no sistema. Após investigação, descobriu-se que o problema vinha de uma antena de celular próxima ao centro de São Paulo. A situação foi resolvida e considerada um incidente isolado.
No entanto, algumas interferências podem ser intencionalmente criminosas, assim como a falsificação de sinal.
Como ocorre?
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A falsificação do sinal pode ser realizada a partir de bases em solo especialmente montadas para essa finalidade, algumas até em caminhões.
Em agosto, uma plataforma de petróleo utilizada pelas forças russas para interferir em sinais de GPS foi destruída por militares ucranianos, reduzindo drasticamente a quantidade de falsificações de navegação na área. Embora o alvo fossem navios na região, aviões civis acabavam em risco devido à guerra.
Jato brasileiro quase parou no Irã
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Em setembro, um jato Embraer Legacy 650 que voava da Europa para Dubai (Emirados Árabes Unidos) foi alvo de uma falsificação de sinal de GPS. Enquanto sobrevoava Bagdá, no Iraque, o GPS da aeronave e os dois tablets iPad usados para navegação apresentaram erro.
Os pilotos perceberam o problema ao notar que o avião fazia curvas para a direita e para a esquerda e que mensagens de erro surgiam nos sistemas de navegação. Eles então solicitaram ajuda do controle de tráfego aéreo, que informou que estavam cerca de 150 km fora da rota, quase entrando no espaço aéreo do Irã sem autorização.
A área de fronteira entre os dois países é considerada delicada, devido à presença de bases de mísseis no Irã. Em 2020, a Guarda Revolucionária Iraniana (GRI) lançou mísseis contra um voo que partiu da capital, Teerã, com destino à Ucrânia, derrubando a aeronave e matando todos a bordo.
Dias após o incidente, o governo iraniano admitiu que a GRI havia efetuado o ataque por engano, ao confundir o voo com um míssil de cruzeiro dos Estados Unidos.
Um incidente semelhante ocorreu com um Bombardier Challenger 604 ao norte de Bagdá. A aeronave seguia para Doha, no Qatar, e os sistemas de navegação só voltaram ao normal após a reinicialização dos circuitos.
Onde ocorre mais?
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As áreas mais afetadas estão concentradas entre a Europa e o Oriente Médio. Um mapa interativo com essas regiões pode ser consultado aqui.
Algumas áreas no Brasil também relatam interferência de sinal. As regiões mais críticas para interferência e falsificação de sinal de posicionamento das aeronaves estão, principalmente, entre os seguintes países:
- Noruega
- Finlândia
- Rússia
- Estônia
- Lituânia
- Romênia
- Turquia
- Síria
- Jordânia
- Israel
- Palestina
As motivações desses atos ainda são incertas, mas os pilotos podem seguir uma série de procedimentos para evitar problemas durante o voo. O principal deles é estar atento às informações sobre a região onde o voo será realizado e, se possível, desviar a rota.
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Algumas Regiões de Informação de Voo, ou FIR (Flight Information Region, na sigla em inglês) foram mais afetadas do que outras. Veja o ranking dessas áreas de espaço aéreo delimitado com mais sinais de GPS falsificados entre os dias 15 de julho e 15 de agosto de 2024, segundo relatório do OPS Group:
- Nicosia (Chipre): 5.655 voos afetados
- Tel Aviv (Israel): 3.228 voos afetados
- Cairo (Egito): 2.375 voos afetados
- Ancara (Turquia): 1.195 voos afetados
- Samara (Rússia): 1.186 voos afetados
- Moscou (Rússia): 988 voos afetados
- Laore (Paquistão): 492 voos afetados
- Minsk (Belarus): 372 voos afetados
- Beirute (Líbano): 371 voos afetados
- Delhi (Índia): 316 voos afetados
- Sofia (Bulgária): 235 voos afetados
- Bucareste (Romênia): 231 voos afetados
O que é o GNSS?
O GNSS é um sistema de posicionamento que utiliza uma série de satélites em órbita na Terra. Existem vários deles, como o mais popular, o GPS, operado pelo governo dos Estados Unidos.
Ainda existem outros sistemas como o Glonass (Rússia), Galileo (União Europeia) e o Compass (ou BeiDou, da China). Todos funcionam através de ondas de rádio, como ocorre com os telefones celulares, televisão (digital, analógica ou via satélite) e outros sistemas de navegação dos aviões.
Fontes: OPS Group, FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA), SkAI, Easa (Agência Europeia para a Segurança da Aviação)
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