Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Tudo Golpe

Estação 171: Quantas irregularidades você identifica numa viagem de metrô?

TudoGolpe
Imagem: TudoGolpe

12/05/2020 05h00

Quem utiliza o metrô em São Paulo certamente já percebeu. Se é o seu caso, caro leitor, já parou para contar quantas fraudes ou irregularidades você consegue identificar em uma simples viagem nos trens da capital paulista?

A face negativa do que se convencionou chamar de jeitinho brasileiro está no ato de colocar seus interesses pessoais acima de quaisquer normas. E são em eventos corriqueiros que isso fica evidente.

Pouco antes do início da pandemia do coronavírus, eu estava em uma estação da linha vermelha, que liga as regiões leste e oeste de São Paulo, quando percebi uma discussão entre um homem e uma mulher. Ambos gritavam e, enquanto ele a ofendia com palavras de baixo calão, ela dizia: "Você nem idoso é, seu cafajeste".

Consegui entender o que havia ocorrido. O jovem cidadão, bem distante dos 60 anos, era um golpista que, de posse de um bilhete único especial para idosos, oferecia passagens por um preço menor a usuários que não se importassem em incentivar a prática criminosa e comprar pelo método "não convencional". E, aqui, um parênteses: não estou colocando em discussão se o valor oficial do bilhete é alto ou não, mas do que é legal e do que é ilegal.

O golpista acabara de conseguir um "cliente" e, apressado, desrespeitou uma regra básica de convivência: "a fila". A moça que, aparentemente, estava fazendo tudo certo, ficou indignada, reclamou e, em vez de um pedido de desculpas, ouviu os impropérios do oportunista. Um funcionário do metrô acompanhou, inerte, tudo de perto.

Na fila da bilheteria

Quem tem o hábito de comprar os bilhetes de papel testemunha, diariamente, outra irregularidade. Nas bilheterias, praticamente em todas as estações, forma-se uma fila de mendicantes. Aqui, mais uma observação: não vou entrar no mérito das questões sociais que levam as pessoas a recorrerem à esmola como meio de sobrevivência.

Há até uma espécie de rodízio entre os pedintes. De certa forma, eles se organizam, estabelecendo quanto tempo cada um tem direito a debruçar-se sobre os usuários que, muitas vezes, sentem-se acuados e obrigados a "colaborar". O metrô anuncia, em seus cartazes e alto-falantes, tratar-se de uma prática proibida, mas quase nada se vê para coibir.

O relato que nos fez um usuário é emblemático:

"Eu me vi envolvido em uma discussão entre duas mulheres que me abordaram: uma jovem e a outra, idosa. Ao me dirigir à bilheteria, a idosa me pediu R$ 1. Diante de minha negativa, ela começou a me xingar. Quase que simultaneamente, a mais jovem, com uma criança no colo e outra de mão dada, começou a berrar palavrões contra a senhora. Havia uma nítida disputa pelo espaço, pelo horário, e que terminou com uma advertência feita pela mais nova: 'Estou dizendo, hein, velha, se você não sumir daqui eu vou te matar'. E, no segundo seguinte à ameaça de morte, ela virou para mim e disse, em tom suave, como se o diálogo anterior não tivesse acontecido: 'Moço, pode me ajudar, em nome de Jesus?'."

Isso quando não chegam às vias de fato, como nos contou outro usuário:

"Uma vez, na estação República, neguei dar o meu troco para um pedinte e ele me agrediu."

Dentro do trem

Já dentro do trem, as irregularidades continuam. Ouviu um assobio? Quem está habituado a andar de metrô já sabe que este é o sinal que precede a oferta:

  • "Olha aí, patrão, olha aí, patroa... Desculpe incomodar sua viagem, esta não é minha intenção..."
  • "A porta fechou, o perigo passou e o vendedor do shopping metrô voltou..."
  • Lá fora R$ 10, mas é melhor vender barato do que perder para os seguranças... então, chamou agora o vendedor, leva 3 por R$ 10"

Mais do que os comentários carregados de ironia, o que precisa ser dito é que, além do comércio dentro dos trens ser proibido, desconhece-se a procedência das mercadorias que estão à venda: balas, chocolates, proteção e suporte para celular, porta-documentos, fones de ouvido...

Há toda sorte de produtos, incluindo máscaras de proteção, agora, durante a pandemia. E, se há tantos vendedores, certamente, é porque há compradores.

Aliás, alguns desses compradores são, na verdade, comparsas dos vendedores. Já ouviu o bordão: "Mais alguém, alguém mais? Mais um pra moça aqui...".

Muitos desses vendedores andam com um parceiro que faz o papel do cliente interessado no produto. Eles simulam uma compra para que o produto pareça mais interessante. E aí, deixa de ser "estratégia de marketing", se é que poderíamos chamar assim uma prática que já se inicia ilegal, para tornar-se uma indução ao erro do consumidor.

O depoimento de uma de seguidora do TudoGolpe nas redes sociais, além do comércio ilegal, escancara uma triste realidade em relação à (falta de) segurança no Brasil:

"Eu estava indo para um bloquinho [de carnaval] no centro e, acho que em menos de cinco estações, entraram dois vendedores de doleiras... depois que eu desci, tinha mais duas vendedoras na plataforma. Aí, elas diziam que lugar de dinheiro não era no bolso, nem na carteira, que tinha que ficar preso no corpo, porque estava acontecendo muito furto nos bloquinhos...".

O que a linha amarela faz de diferente?

Depois de denúncias que recebi e da própria experiência que tive, percorri muitas estações das linhas azul, verde, vermelha e prata, administradas pelo Metrô. Em praticamente todas, identifiquei os problemas relatados nesta reportagem e foram raríssimas as oportunidades em que percebi algum funcionário coibindo-os. Por outro lado, também estive em estações da linha amarela, privada e administrada pela ViaQuatro. Nestas, não identifiquei tais falhas.

Entramos em contato com a ViaQuatro e perguntamos quais medidas adotam para evitar tais infrações.

"A ViaQuatro busca, por meio de ações e campanhas de conscientização, inibir a prática do comércio ilegal e comportamentos inconvenientes nas estações e trens da linha para preservar a segurança e oferecer maior comodidade a seus passageiros.
As informações veiculadas por mensagens sonoras e nos monitores dos trens e estações alertam os passageiros que o comércio ambulante é proibido e ilegal.
A concessionária ressalta que conta com a atuação dos Agentes de Atendimento e Segurança, que estão distribuídos em pontos estratégicos nas estações e trens, para coibir a prática de comércio irregular e os comportamentos inconvenientes.
Outra ferramenta que auxilia no combate dessas atividades é o circuito interno de monitoramento. Mais de 2 mil câmeras registram, em tempo real, o movimento em toda a extensão da linha, no interior dos trens, nas estações e no pátio de manutenção e estacionamento."

Por meio de sua assessoria, a ViaQuatro também ressaltou a importância da contribuição dos passageiros.

"Para evitar que os ambulantes atuem nos trens e plataformas, a Linha 4-Amarela conta com a colaboração dos passageiros. Para isso, a concessionária disponibiliza o contato da Central de Atendimento 0800 770 7100, de segunda a sexta-feira, das 6h30 às 22h, e aos sábados e domingos, das 8h às 18h".

Também entramos em contato com o Metrô, mas até a publicação deste texto não tivemos retorno. Permanecemos à disposição e, caso se manifestem, atualizaremos a reportagem.

Estações do metrô recebem doações

Nota positiva: o Metrô está recebendo doações de produtos como: máscaras de proteção facial, alvejante com cloro, desinfetante, álcool em gel, álcool 70%, detergente, sabão, entre outros insumos de auxílio à proteção e ao combate à propagação do vírus da Covid-19. Interessados em colaborar podem se informar clicando aqui.

As concessionárias ViaQuatro e ViaMobilidade, responsáveis pelas operações e manutenção das linhas Amarela e Lilás, também estão com uma campanha de arrecadação e disponibilizaram caixas de coleta localizadas próximas às salas de atendimento ao público das estações. Para mais informações, acesse este link.

Lembro que decreto da Prefeitura de São Paulo determina que usuários do transporte público de São Paulo estão obrigados, desde o dia 4 de maio, a usar máscaras para combater o avanço do coronavírus. Mas, antes de tudo, se puder, fique em casa. É o que as autoridades médicas continuam recomendando.