Empresa vende saladas em favelas, mas preço baixo também atrai classe média
A rede Saladorama oferece cerca de cem combinações de saladas, com preços que variam de R$ 8 a R$ 28. As cozinhas são instaladas em favelas, mas os preços baixos têm atraído também clientes de classes A e B. A empresa tem serviço de entrega. Em 2016, o faturamento foi de R$ 1,2 milhão, e o lucro de R$ 360 mil.
“O serviço de entrega de saladas, pratos quentes e frutas, voltado principalmente para moradores de favelas, foi desenvolvido com um propósito social: universalizar o acesso à alimentação saudável em regiões mais pobres”, afirma Hamilton Silva, 28, que criou a empresa em 2014. No início, ele investiu R$ 250 para preparar as saladas em casa.
Um ano depois, instalou sua primeira cozinha com serviço de entrega no Morro Santa Marta, em Botafogo (zona sul do Rio de Janeiro) com ajuda das sócias Mariana Fernandes, 26, e Maria Isabela, 28.
Classe média é a maior consumidora
Juntos, os três levaram a Saladorama para outras quatro cidades em 2016 e este ano: Comunidade Kolping Padre Justino do Éden, em Sorocaba (SP), Nova Descoberta, em Recife (PE), Vila Conceição (Coroadinho), em São Luís (MA), e Monte Cristo, em Florianópolis (SC). O custo para implantar uma cozinha hoje é R$ 35 mil.
Silva diz que o projeto recebeu apoio da Yunes Negócios Sociais Brasil, organização ligada a Muhammad Yunes, vencedor do Nobel da Paz em 2006. A Yunes colaborou com orientação de estratégia de negócios, por meio de palestras, consultoria e cursos.
Apesar de o negócio ter sido criado para atender pessoas de baixa renda, clientes das classes A e B representam 60% das vendas. Segundo Silva, os preços atrativos e a divulgação em redes sociais “despertaram o interesse de pessoas de outras classes”.
Lasanha de berinjela: inspiração para o negócio
Silva diz que o negócio surgiu a partir de uma experiência pessoal: durante um curso, ele experimentou lasanha de berinjela.
“Era um ambiente de classe A. Sem dinheiro para comer fora, fui obrigado a experimentar. E não é que era boa? Comecei a procurar por São Gonçalo (região metropolitana do Rio), onde morava, e percebi que essa comida não existia por lá”, relata Silva, que percebeu a oportunidade do negócio.
Até 2018, Silva diz que pretende abrir uma cozinha em São Gonçalo, onde está instalado o polo de capacitação profissional, com cursos na área de alimentação.
Cada cozinha tem cinco funcionários. Parte dos alimentos é comprada de pequenos produtores locais, diz ele. Os profissionais (98% mulheres) são moradores da própria favela.
Rede oferece saladas, frutas e pratos quentes
O cliente pode montar o próprio pedido de salada, com até oito ingredientes, entre folhas, uma proteína (frango, frango orgânico, peixe, crepioca e ovo) e complementos (como abóbora ao forno com alecrim). Crepioca é uma espécie de massa de crepe que leva tapioca, ovo e leite.
Pode também escolher opções já definidas, como a salada atlética (folhas verdes, feijão fradinho, peixe, cenoura, cebola, tomate, ovo e alho torrado), que sai por R$ 18. As opções de saladas variam de R$ 8 a R$ 28. Há oito opções de molhos. Cada prato serve até duas pessoas.
Há ainda um mix de frutas e três pratos quentes: massa orgânica (R$ 13), risoto verde (R$ 13) e escondidinho de frango (R$ 16). Apesar de ter sido a sua inspiração, Silva não tem lasanha de berinjela no cardápio.
A rede vende cerca de 3.000 refeições por mês. As entregas são feitas em um raio de até cinco quilômetros da unidade. Os pedidos são feitos pelo site.
Maior problema é a violência, diz especialista
O coordenador do curso de pós-graduação da ESPM/RJ (Escola Superior de Propaganda e Marketing), Antonio Carlos Morin, diz que a Saladorama é um modelo a ser seguido.
“Além de oferecer alimentos saudáveis, o negócio transforma o ambiente. Ele emprega população local e serve como inspiração para outros moradores. O negócio mostra que a população local é capaz de resolver problemas na sua própria comunidade por meio de boas ideias.”
Além disso, o empreendimento mostra, diz ele, que as áreas de favelas são locais economicamente viáveis para negócios.
No entanto, a desvantagem é a violência, segundo Morin. “Ela pode limitar a área de atuação na própria comunidade e arredores e paralisar as entregas durante um dia inteiro, dando prejuízo”, diz.
Onde encontrar:
Saladorama - www.saladorama.com
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