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Não se deve gastar tudo o que se ganha num negócio; é preciso reinvestir

Patricia Stavis/Folhapress
Imagem: Patricia Stavis/Folhapress

Alberto Ajzental*

Colaboração para o UOL, em São Paulo

05/01/2018 04h00

Soraia tem um negócio de rotisseria em um bairro periférico de São Paulo. Ela começou seu negócio quando perdeu o emprego de auxiliar administrativo em um escritório de advocacia, há quatro anos. 

Com o pouco dinheiro que juntou da demissão, ela comprou um daqueles fornos que assam frango, também chamados carinhosamente de "televisão de cachorro". Preparava as aves na cozinha de sua casa, e o forno ficava na varanda.

Por sorte, sua casa ficava em uma via movimentada de seu bairro, o que lhe conferia visibilidade.

Utilizando um tempero que sua mãe lhe ensinara, logo nos primeiros meses seu negócio se transformou em um sucesso. Vendia os frangos acompanhados de farofa e batatas, que eram assadas na própria gordura que escorria da carne, dando um sabor maravilhoso.

Ela vendia por volta de 200 frangos aos domingos. Aos sábados, também vendia bem -coisa como 60% do movimento do domingo. Mas de segunda a sexta-feira, praticamente não vendia nada.

Para quem não sabe o que é uma rotisseria, é aquele negócio de comida onde há assados, como frangos, carnes bovinas e suínas, farofa, maioneses, e massas (em geral frescas, preparadas no próprio negócio, para cozinhar ou já cozidas) e molhos. 

É um negócio que, em geral, tem um pico de vendas aos domingos, quando as pessoas não desejam cozinhar e, em termos de custo para o cliente, se situam no meio-termo entre preparar alimento em casa (mais barato e dá mais trabalho) e se alimentar fora em restaurante (mais caro e dá menos trabalho).

Hoje, Soraia tem um negócio mais consolidado e, em dezembro, ela vendeu muito bem, porque aproveitou para explorar as grandes festas. Vendeu muitas ceias completas de Natal e de Ano Novo. Mais de 600 ceias foram vendidas, das mais completas às mais simples. Inclusive, vendeu também muitos itens isolados que os clientes pediam, como sua deliciosa maionese ou um assado extra que alguns pediam como reforço.

Mas chega janeiro, muitos de seus clientes estão de férias na praia, e o movimento cai abruptamente. Ela, que é boa gestora, deu férias para seus funcionários e reduziu bastante seus estoques, e só vai começar a repô-los depois do Carnaval.

Como juntou um bom dinheiro com as ótimas vendas de final de ano, e como sua cozinha está quase que parada, em vez de viajar o mês inteiro e gastar tudo o que ganhou, ela aproveitou e chamou um técnico em forno e fogão e vai realizar uma limpeza geral e a troca de peças que estão desgastadas. É o que se chama de manutenção preventiva, pois não pode correr o risco de ter de parar a produção durante o ano.

Também foram alvo de manutenção uma instalação elétrica que sempre dava problema, fazendo um disjuntor cair quando ligava o exaustor, e uma pintura nova no forro, que já tinha marcas de gordura.

Negócio é assim: não se deve gastar tudo que se ganha. Parte dos resultados devem ser reinvestidos, e deve-se pensar em manter e cuidar das instalações nos momentos calmos, para não ter surpresas nos momentos agitados.

* Alberto Ajzental é Engenheiro Civil pela POLI-USP. Mestre e Doutor pela EAESP-FGV. Foi e é Professor de Estratégia de Negócios, Marketing e de Economia nas escolas ESPM-SP e EESP-FGV. Autor dos livros A Construção de Plano de Negócios - Ed. Saraiva, História do Pensamento em Marketing - Ed. Saraiva e Complexidade Aplicada à Economia - Ed. FGV.