IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Sala de sal e com ar salgado promete aliviar rinite e estresse por R$ 120

Sala de sal da empresa Halosal, em São Paulo - Divulgação
Sala de sal da empresa Halosal, em São Paulo Imagem: Divulgação

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

11/02/2019 07h54

Você ficaria por 45 minutos dentro de uma sala revestida de sal e respirando ar salgado para aliviar o estresse ou ajudar no tratamento de rinite? Pois é isso que oferece a empresa Halosal, em São Paulo, que aplica a haloterapia, uma terapia natural à base de sal.

Paula Barretto, 28, uma das sócias da empresa, disse que a haloterapia não é um tratamento médico, "mas ajuda a complementar os tratamentos convencionais de problemas respiratórios, como asma, bronquite e rinite, e na diminuição do estresse e ansiedade".

Mas esses supostos benefícios à saúde não têm comprovação científica, segundo o médico Gustavo Prado, coordenador da Comissão de Câncer de Pulmão da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). "Não existem resultados clinicamente relevantes sobre os potenciais benefícios da haloterapia para o tratamento das doenças respiratórias", afirmou.

Inaugurada em setembro de 2017, a Halosal teve um investimento inicial de R$ 200 mil e não revela faturamento nem lucro do ano passado.

Sala revestida de sal e ar salgado

A Halosal tem apenas uma sala de 11m², com paredes, piso e teto revestidos de sal. O espaço é seco, estéril e sem janelas, com música ambiente e temperatura e umidade controladas. A capacidade é para oito pessoas.

Funciona assim: o paciente fica por 45 minutos na sala revestida de sal. Nesse período, uma máquina chamada halogerador joga no ar micropartículas de sal, que matariam fungos, vírus e bactérias, além de ter propriedade anti-inflamatória. A quebra do sal também libera íons negativos, que combateriam estresse e ansiedade, segundo a empresa.

"A haloterapia proporciona um alívio imediato quando se trata dos problemas respiratórios, ajuda a regular as noites de sono, diminui manchas e ameniza coceiras causadas por problemas de pele, além de ajudar a controlar o estresse e a ansiedade. Causa bem-estar e deixa a pessoa bem mais relaxada", afirmou Paula.

Ela disse que conheceu a haloterapia em uma empresa de Campinas (SP) que oferece também a terapia. "Essa terapia alternativa melhorou minha imunidade a gripes. Vi que tinha efeito e decidi abrir uma unidade em São Paulo", disse. A outra sócia é Ana Maria Nader Sampaio, 61.

Originário da Holanda, o sal utilizado na Halosal tem o grau de pureza alto (entre 97% e 99%) e é sem iodo, disse a empresa.

Sessão avulsa custa R$ 120

A Halosal cobra R$ 120 pela sessão avulsa (45 minutos). Há opções de pacote. Em média, são atendidas 50 pessoas por mês.

Segundo a empresa, a sessão pode ser feita com qualquer tipo de roupa e é fornecido ao paciente proteção para os pés e cabelos antes de entrar na sala de sal. Não é preciso tomar banho após a sessão.

Na sala há um visor de vidro, por meio do qual a pessoa é constantemente observada. A pessoa pode sair da sala a qualquer momento. "A qualidade do ar é feita periodicamente por laboratório especializado. Além disso, temos utensílios próprios para manutenção da sala de sal", disse Paula.

Empresa segue protocolo de associação

Segundo Paula, a empresa segue o protocolo da Associação Brasileira de Haloterapia e Terapias Integrativas e Complementares (ABH-TIC).

O presidente da ABH-TIC, José Ervolino Neto, 62, disse que a haloterapia não substitui qualquer tratamento médico ou medicamento. "É uma terapia complementar, coadjuvante, sendo utilizada em diversos países. Como não sendo uma terapia médica, obviamente ela encontra resistência, assim como já aconteceu com a acupuntura e a homeopatia", afirmou.

Mas, segundo ele, existem estudos e pesquisas sobre a haloterapia em outros países, como Rússia e Israel. "No Brasil, ela é ainda incipiente e encontra resistência da classe médica", disse Ervolino Neto.

"Não há aprovação desta intervenção como terapia, mesmo que complementar da asma, por nossa agência regulatória de saúde, a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], o que torna a oferta deste serviço no mínimo irregular e sua prescrição como uma prática eticamente reprovável", disse o médico Prado, da SBPT.

Empresa deve divulgar dados de estudos sobre a terapia

Para Ariadne Mecate, consultora de marketing do Sebrae-SP, sala de sal é algum inovador para o brasileiro e isso pode ajudar na estratégia de marketing da Halosal. "Quando uma empresa tem ideia inovadora, como a Halosal, ela tem argumentos de venda, e essas estratégicas de marketing podem ser mais assertivas para captar clientes", afirmou.

Ariadne disse que o público-alvo da empresa são pessoas que buscam por terapias alternativas e uma vida mais saudável. "O mercado de soluções para qualidade de vida está em expansão. A empresa deveria investir mais em ações de marketing para poder sensibilizar a clientela."

Ela disse, no entanto, que a falta de comprovação científica do método é um ponto negativo do negócio. "A empresa pode explorar dados de pesquisas existentes sobre o assunto, depoimento de clientes que praticam e melhorias que sentem", disse.

Para ela, é importante também a empresa esclarecer sobre os cuidados com a higiene do local. "O cliente pode ficar preocupado de entrar numa sala fechada com outras pessoas, se não souber sobre a higienização do espaço", afirmou.

Onde encontrar:

Halosal - https://www.halosal.com.br/