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Empresa promete relaxamento e combate a dor com flutuação em água salgada

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/07/2018 04h00

Para relaxar, que tal entrar num tanque --do tamanho de uma cama de casal e cheio de água salgada-- e flutuar como se estivesse no Mar Morto? Essa é a proposta da Flutuar Float Center, que oferece a prática da flutuação. O espaço começou a funcionar em abril deste ano, em Pinheiros (zona oeste de São Paulo).

A empresa afirma que, além de relaxar, a flutuação traz benefícios à saúde, como redução de dores crônicas e artrose e reforço do sistema imunológico. Mas essas supostas vantagens não têm comprovação científica, segundo o clínico reumatologista Morton Scheinberg, 72, do hospital Albert Einstein e professor da USP (Universidade de São Paulo).

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A ideia de abrir a Flutuar veio de Tobias Nold, 36, um alemão radicado no Brasil, que disse ter conhecido a prática da flutuação durante viagens a trabalho aos EUA, em 2015 e 2016, quando atuava como executivo de vendas de uma rede social.

“Como sempre tive vontade de ter um negócio pioneiro para atuar no Brasil, vi na prática da flutuação essa oportunidade. Nos EUA, esse mercado é bem consolidado, com mais de 450 centros de flutuação. Também existem centros na Europa, Austrália e Japão”, afirmou.

De volta ao Brasil, Nold reuniu 11 amigos para desenvolver o projeto. A empresa tem hoje dez sócios investidores e dois sócios que administram o negócio: ele e Melina Pichotano, 30.

O investimento inicial não foi revelado. A empresa não divulga faturamento nem lucro.

A ideia é relaxar e desligar a mente, diz empresário

O serviço funciona assim: com roupa de banho e usando protetores nos ouvidos (para ajudar no isolamento acústico), o cliente toma uma ducha e, numa sala privativa, entra num tanque de flutuação cheio de água (temperatura de 35,5ºC) com sal de Epsom (mineral composto por sulfato de magnésio), conhecido popularmente como sal amargo. A alta concentração do sal possibilita a flutuação pela densidade elevada da água.

Esse tanque é uma espécie de cápsula com tampa, e a pessoa pode optar por deixar a tampa aberta ou fechada. É o flutuador que controla também a luz.

“A ideia é proporcionar uma experiência de desligar a mente, para que a pessoa possa relaxar. Para isso, os estímulos sensoriais são rigorosamente controlados e planejados, com isolamento da sala e do tanque, os protetores auriculares, o som ambiente e o silêncio, a sensação de gravidade zero, a temperatura da água a 35,5ºC e o controle da intensidade da luz”, afirmou Nold.

Para cada litro de água, é adicionado meio quilo de sal de Epsom. O tanque comporta 1.000 litros de água e 500 quilos de sal.

Música, escuridão e volta ao ventre

Nos primeiros dez minutos, a pessoa ouve uma música relaxante e depois fica na escuridão ou sob luzes de cromoterapia, enquanto flutua. Há a opção de usar um travesseiro de apoio.

“A sensação é de aconchego e total segurança, como se estivéssemos de volta no ventre de nossa mãe. Muitos de nossos clientes descrevem uma experiência intrauterina”, declarou Nold.

Segundo ele, é possível ouvir apenas os sons produzidos pelo seu próprio corpo, como a respiração e as batidas do coração. Nos minutos finais, a música volta para avisar que a sessão está terminando. A flutuação tem duração de uma hora.

Dentro do tanque, há um botão que pode ser acionado em caso de mal-estar ou desconforto na flutuação. A pessoa pode sair a qualquer momento da cápsula.

Após a sessão, o cliente deve tomar banho para tirar o excesso de sal do corpo. A empresa coloca à disposição sabonete, toalha, xampu e condicionador.

Água é filtrada quatro vezes após cada flutuação

Nold disse que a empresa tem “total preocupação com a higiene”. Segundo ele, a água é filtrada e tratada quatro vezes após cada sessão de flutuação.

“O processo utiliza esterilização, ozônio e raios UV, que eliminam os microrganismos, e um filtro de partículas retira qualquer sólido que tiver até um centésimo da espessura de um fio de cabelo”, afirmou. Como o volume no tanque diminui a cada sessão, os níveis de sal e água são ajustados também, diz ele.

Flutuação de uma hora custa R$ 240

A Flutuar Float Center oferece 24 sessões por dia, de segunda a sábado. São três tanques no local. O espaço atende oito clientes por dia, em média.

O preço da sessão de uma hora de flutuação é R$ 240, mas há pacotes com preços mais em conta. O pacote com seis flutuações (de uma hora cada) custa R$ 720 (cada flutuação sai por R$ 120); deve ser usado dentro de três meses e pode ser compartilhado com amigos.

Além da flutuação, a empresa oferece alguns serviços de massagem, cujos preços variam de R$ 120 a R$ 180. Um dos serviços mais vendidos é o combo flutuação + massagem, que sai por R$ 280.

A meta da empresa é ampliar o número de salas e de horários das sessões até o final do ano, segundo Nold.

Benefícios à saúde são questionáveis

Nold disse que seus clientes relatam que buscam reduzir dores crônicas, estresse, fadiga muscular, inflamações, artrite, artrose e enxaquecas, além de relaxar, reforçar o sistema imunológico e melhor a qualidade do sono.

A prática, diz ele, não é recomendada a pessoas com doenças mentais graves, como esquizofrenia, ou doenças graves de pele. Quem tem pressão baixa deve ter acompanhante na sessão.

O clínico reumatologista Morton Scheinberg afirmou, no entanto, que não há evidências científicas de que o relaxamento muscular da prática de flutuação ajude na artrose e no reforço imunológico, por exemplo.

“Comparando com métodos convencionais de fisioterapia ou medicamentosos, os benefícios da flutuação não existem. O que existe é que as pessoas sentem algo melhor no conjunto de queixas que acompanham as doenças crônicas”, declarou.

Quanto ao relaxamento, ele disse que outras medidas alternativas, como meditação e ioga, causam o mesmo efeito. “Um banho de imersão em casa, numa jacuzzi, leva aos mesmos resultados, assim como a adição de sais de magnésio”, afirmou.

Sobre os benefícios à saúde, Nold disse que a flutuação é uma prática nova. “As pesquisas realizadas até agora apontaram resultados interessantes, mas ainda estão no estágio inicial. A flutuação deve ser vista como uma prática complementar à saúde humana. Há muito o que ser estudado e observado a longo prazo”, declarou.

Empresa deve explicar funcionamento e desfazer mitos

Adriano Augusto Campos, 36, consultor do Sebrae-SP, disse que o negócio da Flutuar é coerente com o novo estilo de vida saudável que as pessoas procuram.

“As pessoas, principalmente as que moram em grandes centros urbanos, procuram fazer algo para combater o estresse e relaxar. Portanto, a prática da flutuação chama a atenção por ser algo diferente. Os tanques de flutuação despertam curiosidade.” Para ele, a empresa tem público que aceita pagar mais caro por um serviço diferente.

Campos disse, no entanto, que, justamente por ser algo diferente, a empresa deve focar muito na comunicação, para mostrar os diferenciais do serviço.

“Eles têm o desafio de explicar muito bem como as cápsulas funcionam e até desfazer alguns mitos, como o uso do sal na prática da flutuação. Se não fizer isso, os clientes não vão entender os diferenciais.”

Os clientes também podem questionar, segundo ele, a eficácia do serviço. “Eles não vendem apenas relaxamento, vendem também benefícios para a saúde. Se não tiverem um bom embasamento para comprovar isso, podem comprometer o trabalho da empresa”, declarou.

Onde encontrar:

Flutuar Float Center - www.flutuar.me/