Outbêco, que surgiu em favela no Rio, tem 72 lojas e vai a SP e ES em 2022
Após fazerem sucesso no Rio em plena pandemia, as marcas "genéricas" Outbêco (que reproduz o cardápio do Outback) e Spobreto (referência ao Spoleto) estão expandindo o negócio com franquias. O Outbêco surgiu em favelas no ano passado, já tem 72 unidades e prevê abertura de mais 40 lojas até fevereiro de 2022, incluindo São Paulo e Espírito Santo.
A barraquinha de massa Spobreto, criada no centro do Rio, também está investindo em franquias. Foi assinado um contrato para abertura de três barraquinhas em Teresópolis, cidade da região Serrana do Rio. Outras estão em negociação, segundo o dono do negócio.
Ambos os negócios foram inaugurados no ano passado, em meio à pandemia de covid-19 e nenhum teve problemas com os restaurantes originais. No entanto, especialistas na área recomendam cautela e explicam que é necessário autorização para um negócio desse tipo.
Restaurantes em favelas
O Outbêco foi criado em agosto de 2020 e o foco era abertura de restaurantes em favelas. No entanto, já é possível encontrar lojas nos bairros da Glória e Copacabana, na zona sul, e no Méier e em Madureira, na zona norte. No entanto, 70% das unidades estão localizadas mesmo em comunidades do Rio.
A rede conta hoje com 72 pontos no RJ e no DF, e até fevereiro do ano que vem há previsão de abertura de mais 40 lojas incluindo SP e ES.
De acordo com Daniel Felix, 48, idealizador do projeto, o crescimento da rede foi um processo natural.
"Nunca fiz propaganda para classe média, mas teve uma procura muito grande de pessoas com experiência no ramo e acabamos abrindo algumas unidades em bairros, mas essas lojas não faziam parte do projeto inicial, que focava só em comunidades. Foi um projeto que ganhou muita empatia de todos".
Atualmente, o Outbêco emprega mais de mil pessoas de forma direta e indireta. De acordo com Felix, o investimento para ingressar no grupo mais o gasto com estrutura não ultrapassa R$ 30 mil.
Em mais de um ano no mercado, quatro unidades fecharam as portas por desobedecerem ao padrão Outbêco. "Não mantiveram a comida nem o cardápio. Trata-se de um padrão visual que rende muito. Por isso mandamos fechar", afirmou.
No cardápio, os nomes dos pratos são iguais aos do restaurante original, mantidos em inglês para "valorizar o produto". Os preços são mais acessíveis.
A batata frita com queijo e bacon do Outback custa na rede original R$ 59,90, enquanto no Outbêco, R$ 39,90. Meia costela (Ribs Júnior) no Outback sai por R$ 65,90 enquanto na unidade genérica o mesmo prato custa R$ 34,90.
Como surgiu o Outbêco
Felix nasceu no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, e cresceu em Vilar dos Teles, na Baixada Fluminense. Ele conta que a ideia de abrir o Outbêco surgiu após um episódio de preconceito: em 2009, quando ele comandava uma rede de franquias de curso de inglês, ouviu um deboche de um conhecido durante um coquetel, em um hotel bacana na Barra da Tijuca, na zona oeste.
"Imagina o povo da tua terra aqui?", escutou. Onze anos depois, ele inaugurou a rede de franquias com o objetivo de levar uma comida boa para os moradores de comunidades.
Antes, quando as duas filiais do curso de idiomas faliram, ele chegou a prestar serviço para o Outback. Ele entregava mercadorias em balcões. Ao longo do trabalho, foi conhecendo gente, envolvendo-se na cozinha e ajudando nos pratos.
Spobreto
Inaugurado em março do ano passado, o Spobreto oferece a quem passa na calçada da Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, a "carta spobretana de experiência gastronômica", que nada mais é que o cardápio da barraquinha.
Nela, o cliente encontra três opções de massas: penne, parafuso e espaguete e tem a opção de escolher entre 7 tipos de molhos. Diferentemente do restaurante original, a barraca do Nuno, como é conhecido, não permite a escolha de ingredientes um a um.
Os molhos disponibilizados já estão temperados e contam com ingredientes extras. Tudo é preparado em casa e finalizado na barraca, que abre às 12h.
O empreendimento tem feito tanto sucesso, que hoje Leandro da Cruz Lopes, 44, dono da marca, se dedica a abertura de franquias.
Serão 25 unidades, que deverão ficar distantes da rede Spoleto original em um raio de no mínimo 1 km para manter uma boa relação com a rede.
Em entrevista ao UOL, Nuno contou que tem autorização da prefeitura para trabalhar no local e mantém a barraquinha de comidas na região há 13 anos. Ele explicou que já vendeu sopas, estrogonofe, angu e yakisoba, mas nunca havia investido no marketing do negócio.
A ideia de renomear a barraca e passar a vender massas surgiu em uma noite quando ele saiu de casa, no Morro do Dendê, na Ilha do Governador, na zona norte do Rio, com vontade de comer macarrão e não encontrou nenhuma barraquinha com o produto.
"Eu queria algo que não fosse sazonal. Um dia saí de casa para comer macarrão e não encontrei, me dei conta que a venda de massa poderia ser minha oportunidade disfarçada. Li dois livros sobre isso. Pensei: se eu quero macarrão, outros também vão querer".
Depois de achar um novo produto para vender, Nuno conta que o nome Spobreto surgiu em meio a conversas com os clientes.
"Avisei que ia fazer um macarrão na chapa, só que ninguém entendia. Até que uma menina falou: vai ser tipo Spoleto? Eu disse que seria um "spobretão" e veio o nome "Spobreto", conta feliz.
No mês de inauguração, em março de 2020, Nuno chegou a vender cerca de 100 pratos por dia, só que com a imposição do isolamento social, as vendas caíram pela metade.
Para impulsionar as vendas, a "lojinha" foi registrada em um aplicativo de entrega de comida, onde permaneceu por três meses. Posteriormente, quando o Centro do Rio voltou a ficar mais movimentado, ele deixou o app e voltou a atender apenas os clientes na rua.
"Não consigo atender os dois [clientes e entregas], pois sou sozinho", explicou ao UOL.
Especialistas opinam
O advogado e professor da Uerj José Carlos Vaz e Dias explica que os empreendimentos "genéricos", ao lançarem um nome similar no mercado, acabam se associando às marcas originais e por isso recomenda aos idealizadores que procurem negociar com os escritórios antes da inauguração.
"A melhor saída é a utilização de marcas criativas próprias ou solicitar autorização à empresa para o uso, pois algumas delas podem não aceitar um nome caricato e mover uma ação judicial. Outras podem gostar e avaliar que a marca será promovida de forma lúdica. O melhor caminho é negociar e buscar essa autorização."
No caso do Outback e do Spoleto, as duas marcas não criaram empecilhos aos negócios. O primeiro solicitou ajustes no empreendimento e o segundo ofereceu orientações no preparo dos alimentos e informações jurídicas.
Segundo o professor Nilton Flores, advogado e professor da UFF (Universidade Federal Fluminense), pedidos de ajustes formalizados podem resguardar os empreendedores.
"Hoje, o direito tem sido cada vez mais um direito aberto, no sentido da negociação, da conciliação. Então, se o titular da marcar falar que não se importa desde que você promova ajustes e essa composição é formalizada, isso vai resguardar esses empreendedores".
Procurado, o Spoleto disse que apoia o empreendedorismo e que se sente grato por servir de inspiração para novas iniciativas.
"Prezamos muito a higiene e segurança alimentar, dessa forma, assim que soubemos da iniciativa estivemos pessoalmente com o proprietário a fim de orientá-lo e nos colocamos à disposição", disse o grupo através de nota.
A Bloomin' Brands, grupo detentor da marca Outback Steakhouse, disse que apoia e admira empreendedores e instituições que fazem trabalhos de impacto positivo na sociedade e, principalmente, no entorno onde atuam e destacou que realiza um trabalho de educação e entendimento sobre a utilização indevida ou imitação de marcas - o que é contra lei.
"Por isso, estamos sempre reforçando com esses pequenos empreendedores que se inspiram em grandes marcas a importância da atenção e análise cuidadosa desse caminho e temos focado em tentar ajudar para que esses negócios entendam a melhor forma de seguir atuando, sem riscos de violação à lei".
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