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Investir no Tesouro Direto é arriscado no curto prazo, dizem analistas

Epaminondas Neto

Do UOL, em São Paulo

18/04/2013 06h00

É possível que uma das maiores frustrações dos investidores neste ano seja o desempenho dos títulos do Tesouro Direto e dos chamados “fundos de inflação” (os fundos Renda Fixa Índices).

Somente para ficar no pior dos casos, a NTN-B de longo prazo (título que cobre a inflação mais uma taxa de juros prefixada) registra perdas acima de 6% neste trimestre, ante ganhos superiores a 25% no ano passado.

O que aconteceu? Uma reversão brusca de expectativas entre 2012 e 2013.

Os títulos do Tesouro Direto favorecem o investidor quando o cenário é de queda dos juros, e entre 2011 e 2012, aconteceu uma redução da taxa básica (de 12% para 7,25% ao ano) pouco vista nos últimos anos.

Títulos do Tesouro DiretoVariação
nos últimos 30 dias
Variação em 2013Variação em 12 meses
LFT 20150,56%1,99%7,35%
LTN 20150,49%0,45%11,57%
NTN-B Principal 20150,12%-0,16%12,76%
NTN-B Principal 2035-8,13%-6.42%22,53%
Fundos de Inflação (até dia 11/04)-0,51%-0,50%14,28%

Até dezembro, a expectativa predominante de manutenção da taxa básica em seu menor patamar histórico manteve os títulos do Tesouro Direto como um alternativa atraente.

Mas a inflação de janeiro surpreendeu. E teve início uma gradual mudança de cenário no mercado: a corrente de economistas que esperava um aumento dos juros para 2013, antes minoritária, ganhou força e se tornou dominante.

Ainda há no mercado quem não acredite em aumentos da taxa básica neste ano, mas esses especialistas se tornaram a minoria.

Os títulos do Tesouro Direto NTN-B e LTN sofreram com essa mudança porque possuem taxas prefixadas. Com a perspectiva de taxas de juros maiores, os papéis perderam atratividade e desvalorizaram.

E os fundos de inflação, que aplicam recursos principalmente em NTN-Bs, tiveram perdas por consequência.

Ainda há chance de recuperação neste ano?

Para especialistas, os preços atuais dos títulos do Tesouro Direto já embutiram o ajuste da taxa básica de juros do patamar atual de 7,25% para 8,50% até dezembro, e uma taxa de inflação abaixo de 6%.

Caso a economia (e o governo) siga o roteiro previsto, as perdas nos títulos do Tesouro Direto podem parar. E por consequência, os fundos Renda Fixa Índices também têm chances de recompensar melhor o investidor.

“Acho que daqui para frente os fundos de inflação vão ter um desempenho melhor. Mas não o suficiente para bater os fundos de renda fixa mais tradicionais [considerando todo o período de 2013], por causa do tamanho das perdas no início do ano”, diz Paulo Petrassi, especialista da área de renda fixa da Leme Investimentos.

Quais os riscos? Se a inflação surpreender desfavoravelmente, isto é, subir mais do que esperado, o governo pode ser forçado a subir os juros mais que o mercado antecipava. E os títulos e fundos de inflação vão continuar a decepcionar os investidores.

O investidor do Tesouro Direto deve saber

Os títulos do Tesouro Direto ganham em um cenário de juros básicos mais baixos, e desvalorizam com a expectativa de uma taxa Selic maior
No cenário predominante dos economistas (juros em 8,50% e inflação abaixo de 6%), há perspectivas de que os títulos do Tesouro Direto parem de desvalorizar no curto prazo
Caso as perspectivas para a inflação piorem, a tendência é de novas rodadas de perdas para os títulos públicos, já que o mercado vai começar a prever juros ainda mais altos
Se as expectativas para a inflação melhorarem, no entanto, o rendimento dos títulos do Tesouro Direto pode voltar a favorecer o investidor
Os fundos de inflação podem recuperar valor nos próximos meses. Dificilmente, no entanto, devem superar os fundos de renda fixa mais tradicionais em 2013

O panorama contrário, no entanto, tende a favorecer essas aplicações.

“Se o Banco Central [que fixa a taxa básica de juros] fizer a lição de casa direito, e mostrar que vai subir os juros de forma parcimoniosa, mas que a inflação vai permanecer sob controle, as expectativas do mercado vão mudar”, diz Samy Balassiano, diretor da Lecca Investimentos.

O comportamento dos investidores

Os números mais recentes do Tesouro Direto (até fevereiro) mostram que não está ocorrendo uma fuga em massa desses papéis, pelo menos por enquanto.

No caso das NTN-Bs do tipo “Principal” (que pagam o valor investido mais os juros acumulados somente no vencimento) as aplicações somaram R$ 384,8 milhões entre janeiro e fevereiro ante R$ 170,9 milhões em resgates (recompras) no mesmo período.

As LTNs mostram padrão semelhante: as aplicações somaram R$ 223,42 milhões no primeiro bimestre ante resgates de R$ 52,30 milhões.

Títulos continuam a ser recomendados

Especialistas em finanças pessoais ainda continuam a recomendar títulos como as NTN-Bs para investidores de perfil conservador.

Vale a lembrança: os prejuízos somente se materializam no bolso dos aplicadores caso vendam antes do prazo final.

No vencimento, o Tesouro garante o combinado no momento da compra: no caso das NTN-Bs, a inflação do período (entre a data de compra e a data de resgate) mais uma taxa de juros prefixada; no caso das LTNs, uma taxa de juros prefixada, e no caso das LFTs, a taxa básica de juros calculada para o período.

“A LFT é mais indicada para quem pode precisar dos recursos em um prazo de tempo muito curto [em torno de 12 meses]”, diz Beto Veiga, consultor de investimentos e autor do livro “O essencial sobre o Tesouro Direto”.

“A NTN-B não é recomendada para quem vai precisar do dinheiro em poucos meses. É um título muito instável, e você pode perder dinheiro”, acrescenta. Por ser negociado com vencimento de longo prazo, usualmente, especialistas recomendam esses papéis para a acumulação de recursos com o objetivo de poupar para a aposentadoria.

“A LTN, das três, é a mais arriscada e somente ganha em um ambiente de baixíssima inflação e juros estáveis. E hoje, ninguém pode dizer para onde vai a taxa básica”, acrescenta.