IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Com queda dos juros, a poupança volta a valer a pena?

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Téo Takar

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/07/2017 04h00

O Banco Central reduziu a taxa básica de juros (Selic) de 10,25% para 9,25% ao ano nesta quarta-feira (26) e sinalizou que pode levar os abaixo dos 8,5% na sua próxima reunião, em setembro. Com juros abaixo de 10%, será que a poupança vai ficar mais atraente do que outras aplicações de renda fixa?

O UOL ouviu especialistas para responder. Confira.

Poupança ganha da maioria dos fundos DI

Com a queda da Selic para 9,25%, a grande maioria dos fundos de renda fixa disponíveis nos grandes bancos perde competitividade em relação à poupança, diz a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Apenas os fundos com taxa de administração abaixo de 1% ao ano talvez ainda sejam interessantes, dependendo do prazo da aplicação (veja a tabela abaixo).

Isso ocorre porque a taxa de administração "come" parte do rendimento. Além disso, a alíquota de Imposto de Renda pode chegar a 22,5% nos saques com prazo inferior a seis meses.

Segundo os cálculos da Anefac, mesmo um fundo DI com taxa de administração de apenas 0,5% ao ano não conseguirá mais bater a poupança nas aplicações de curtíssimo prazo, de até seis meses.

A situação só começa a melhorar para os fundos DI nas aplicações com prazo acima de seis meses. Nesse cenário, os fundos com taxa de 0,5% ao ano ainda valem a pena. Se a taxa de administração for de 1%, o dinheiro precisa ficar aplicado no fundo por, no mínimo, dois anos para superar a poupança. Nesse prazo, o IR cai para 15%. Já a poupança é isenta, independentemente do prazo da aplicação.

Agora, se o fundo cobrar taxa de administração acima de 1% ao ano, ele perderá do rendimento da poupança, qualquer que seja o prazo da aplicação, considerando a taxa Selic em 9,25% ou abaixo disso.

CDB continua atraente se pagar ao menos 100% do CDI

Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) continuarão sendo uma alternativa mais rentável do que a poupança, se a taxa oferecida pelo banco for de, no mínimo, 100% do CDI. O CDI é uma taxa usada no mercado financeiro praticamente igual à Selic.

"Nos grandes bancos você não vai encontrar essa taxa (de 100% do CDI). Em geral, eles pagam em torno de 85% do CDI", afirma Sandra Blanco, especialista em investimentos da Órama. "Em geral, você só vai encontrar papéis com boa rentabilidade em corretoras, plataformas de investimento e bancos médios."

Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper, também vê os CDBs ainda como boas opções de investimento. "Você consegue encontrar no mercado CDB que rende 100% do CDI e oferece liquidez diária [possibilidade de transformar em dinheiro vivo em um dia]. Ou seja, tem a mesma característica da poupança, só que rende mais, mesmo depois de descontado o Imposto de Renda", afirma.

Segundo ele, mesmo se os juros caírem mais, o CDB com taxa igual ou acima de 100% do CDI ainda terá um ganho líquido maior que a poupança, porque a regra de rendimento da caderneta muda quando a Selic fica igual ou abaixo de 8,5% (leia mais abaixo).

Tesouro IPCA e Tesouro Selic continuam atraentes

O professor Ricardo Rocha também recomenda quem possui papéis no Tesouro Direto a manter a aplicação. "Para investimentos de longo prazo, o Tesouro IPCA, que paga inflação mais uma taxa de juros, vai continuar sendo um bom negócio."

No caso das pessoas que precisam aplicar o dinheiro por um prazo menor ou manter uma reserva de emergência, Rocha sugere que essa parcela do investimento seja colocada em papéis do Tesouro Selic.

Mesmo que a aplicação seja inferior a seis meses, sujeita a uma alíquota de imposto de renda de 22,5%, o dinheiro ainda renderá mais do que a poupança, qualquer que seja a taxa Selic, afirma o professor.

Fundos multimercados: ganhos maiores, mas há risco

Sandra Blanco, da Órama, diz que todos os investimentos conservadores, como poupança, CDBs e fundos DI, renderão menos daqui para frente, justamente por causa da queda da Selic. "Não veremos mais rendimentos de 12% ao ano como no ano passado."

Portanto, se o investidor quiser manter o ritmo de ganhos do passado, terá que buscar opções de investimento que implicam em maior risco. "Uma alternativa para quem não quer se expor tanto ao risco ou não conhece o funcionamento do mercado financeiro são os fundos multimercados."

Esses fundos investem em diversos tipos de ativos, como taxas de juros, dólar, ações e derivativos. E há diversos perfis de risco, dependendo do tamanho da exposição do fundo a cada um desses ativos. "Há multimercados mais conservadores, que oferecem menor risco com bom retorno, entre 105% e 120% do CDI", diz Sandra.

Nesse caso, o investidor deve ficar atento ao nível de instabilidade do fundo. Quanto menor a instabilidade, também diminui o risco de perder dinheiro, mesmo que por um período curto de tempo.

Remuneração da poupança mudará com Selic a 8,5%

Quando a Selic atingir 8,5% ou ficar abaixo desse patamar, o que pode acontecer na próxima reunião do BC, em setembro, a poupança deixará de render 0,5% ao mês (6,17% ao ano) mais TR, e passará a ter remuneração equivalente a 70% da Selic vigente mais a TR.

Essa regra vale desde maio de 2012, quando o governo alterou a remuneração da poupança para evitar justamente que outras aplicações de renda fixa perdessem atratividade e houvesse uma fuga de recursos desses investimentos para a poupança.

Como a poupança não está sujeita ao IR, se ela continuasse pagando juros de 6,17% ao ano mais TR, passaria a render mais que os títulos do Tesouro Selic ou do que um CDB que pague 100% do CDI.

Com a Selic em 8,5%, o rendimento líquido dessas aplicações, após o desconto de imposto de 22,5% (maior alíquota, para saques em prazo inferior a seis meses), seria de 6,58%. Se a Selic caísse ainda mais, para 8%, o ganho líquido seria de apenas 6,2%. Mas, pela nova regra, o rendimento da poupança também cairia nesse cenário, para 5,6% ao ano mais TR.