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Bitcoin é investimento de risco, mas dá para ganhar sem cair em golpes

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

12/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Bitcoin foi um dos ativos que mais se valorizaram no mundo em 2019,com um ganho de 96% na cotação em dólar
  • Fique longe de toda empresa que prometer enriquecimento rápido ou fórmulas mágicas para ficar rico rapidamente
  • Por causa das fortes oscilações, o bitcoin deve responder por fatia limitada na carteira de investimentos, de 1% a 5%

O bitcoin foi um dos ativos que mais se valorizaram no mundo em 2019, saltando de US$ 3.729 para US$ 7.300, um ganho de 96%. Em reais, a cotação da criptomoeda mais que dobrou, de R$ 14.476 para R$ 29.542.

É difícil que esse ganho expressivo não atraia pelo menos a atenção do investidor. Especialistas dizem que dá para ganhar com a moeda virtual, mas é preciso ter uma série de cuidados para não cair em golpes e para minimizar o risco de o bitcoin se desvalorizar.

Do céu ao inferno

O problema da criptomoeda, dizem consultores de investimentos, é que ela é muito instável. Para se ter uma ideia, o bitcoin já chegou a valer quase R$ 70 mil, em dezembro de 2017. Pouco mais de um ano depois, em fevereiro de 2019, valia R$ 10 mil.

Por causa das fortes oscilações, o bitcoin deve responder por uma fatia bem limitada numa carteira de investimentos, de 1% a 5%, afirmou Bruno Ramos de Sousa, diretor jurídico e de compliance da gestora de recursos Hashdex.

Mesmo com uma fatia tão pequena, os cuidados devem ser redobrados.

As duas principais ameaças à segurança de quem aplica nesse mercado são os ataques cibernéticos e o uso do bitcoin como isca para criminosos aplicarem velhos golpes.

Fuja de quem promete enriquecimento rápido

Fique longe de toda empresa que prometer enriquecimento rápido ou fórmulas mágicas para ficar rico rapidamente. O risco de golpe é enorme, dizem especialistas.

"Em grande parte das vezes —para não dizer em 100% dos casos— essas ofertas não passam de iscas para as famosas pirâmides financeiras", afirmou Revoredo.

A prática de pirâmide é proibida no Brasil e configura crime contra a economia popular (Lei 1.521/51). Com promessas de retorno expressivo em pouco tempo, os esquemas de pirâmide só são vantajosos enquanto atraem novos investidores. Assim que os aplicadores param de entrar, o esquema não tem como cobrir os retornos prometidos e entra em colapso.

Ainda não existe regulamentação no Brasil

É importante saber que as criptomoedas são um assunto muito novo —o bitcoin foi criado apenas em 2008.

Por isso, os órgãos reguladores ainda estão discutindo no Congresso as regras para essa classe de ativos, explica Tatiana Revoredo, professora do Insper e membro-fundadora da Oxford Blockchain Foundation, uma associação de professores, especialistas e profissionais do mercado de criptoativos.

"O mercado brasileiro ainda opera de forma não regulamentada e, portanto, você deve agir com extrema cautela, buscando, por exemplo, corretoras que possuam pelo menos boa reputação, tempo de mercado e transparência"
Tatiana Revoredo, membro da Oxford Blockchain Foundation e professora do Insper

Como comprar

Diretamente: O investidor compra de uma corretora de criptomoedas, conhecida como exchange, ou de outra pessoa. Nesse último caso, a transação é semelhante a uma transferência bancária usando TED ou DOC. Quem vai comprar deve acessar sua carteira e informar o endereço da carteira para aonde irão os bitcoins. Quem vai vender envia a moeda para a carteira do comprador. A transação é verificada pela rede, e o comprador recebe a criptomoeda em sua carteira.

Indiretamente: Aplicador busca uma gestão profissional. Por exemplo, comprando cotas de um fundo nacional que invista em criptoativos por meio de fundos no exterior. O fundo precisa ser do exterior porque, no Brasil a CVM (Comissão de Valores Mobiliários, o órgão regulador do mercado) ainda não considera o bitcoin um ativo.

Operações com bitcoins podem ser fechadas em um mesmo dia. O prazo para o dinheiro cair na conta do comprador depende do meio usado na operação, podendo ser de um a três dias.

"Se você não entende muito bem o funcionamento da venda de pessoa para pessoa, é aconselhável realizar suas primeiras compras em uma corretora, que aproxima compradores de vendedores de modo seguro. Hoje, é o principal meio utilizado pelos brasileiros para adquirir criptoativos", afirmou Revoredo.

A Hashdex, por exemplo, criou um índice que acompanha as criptomoedas mais negociadas no mundo. Por aplicar em mais de um tipo de moeda virtual, a gestora de recursos consegue oferecer uma opção de investimento com menor volatilidade.

Procure informações sobre a corretora

Se você decidir comprar de uma corretora, antes de se cadastrar e transferir dinheiro verifique o site da empresa. Gaste tempo checando se aparecem os nomes dos responsáveis pela plataforma, os termos de uso, o CNPJ da companhia e o tempo de existência da empresa. Verifique se há queixas de clientes no Reclame Aqui.

"São coisas simples, mas importantes para garantir a segurança do comprador", disse João Canhada, presidente e fundador da Foxbit, que opera há cinco anos no mercado.

Uma dica é verificar se existe um cadeado na barra de endereços do navegador ao acessar o site da empresa. Esse é o certificado que garante a comunicação segura e criptografada entre seu computador e o da corretora. Cibercriminosos até conseguem falsificar o certificado, mas geralmente um bom navegador detecta quando isso acontece.

Corretora cobra taxas

Chegou à conclusão de que a corretora é confiável? É hora de comparar taxas e escolher a exchange que cobra menos.

As corretoras costumam disponibilizar algumas formas de pagamento para você comprar bitcoin, mas elas cobram uma taxa por isso. Pagamento via cartões de débito ou crédito podem custar de 4% a 5% por transação. As transferências bancárias podem ser mais baratas, porém são mais lentas.

Outra taxa é a de negociação, cobrada sobre cada transação. Se você comprar US$ 1.000 em bitcoin, e a taxa de negociação for de 1%, você pagará US$ 10 à corretora.

Como guardar

Quem compra bitcoin indiretamente, via fundos, não precisa se preocupar com o armazenamento da moeda virtual. Nesse caso, o investidor comprou uma cota do fundo, e não o bitcoin, em si.

Mas essa é uma preocupação importante para quem compra diretamente de alguém ou de uma corretora. Quando isso acontece, o próprio investidor é responsável por cuidar das suas criptomoedas.

Para acessar a carteira, precisa usar a chave de segurança, que não é nada além de uma senha, como as que existem para proteger contas de email ou bancárias.

"Os bitcoins representam dinheiro em forma de dados. O cliente precisa proteger os dados para proteger seus recursos", afirmou Safiri Felix, diretor executivo da Abcripto (Associação Brasileira de Criptoeconomia), entidade que representa corretoras e outras empresas desse mercado.

Há duas formas de armazenar os bitcoins.

  1. Carteiras digitais: Serviço de custódia oferecido por plataformas que negociam bitcoins. Vale a pena checar as taxas cobradas --em várias corretoras, esse é um serviço gratuito.
  2. Carteira de hardware: Nada mais é que um "pendrive" com mecanismos de segurança. A cada transação, você transfere os bitcoins da plataforma para esse dispositivo. Como ele fica offline, sem conexão com a internet, não está sujeito a ataques de hackers. Por outro lado, é um objeto pequeno, que pode ser esquecido, perdido ou danificado. Se optar por essa alternativa, tenha sempre um "backup" (cópia de segurança).

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