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Empresas têm de falar melhor com pequeno investidor da Bolsa, diz entidade

Presidente da Amec (Associação De Investidores No Mercado De Capitais), Fabio Coelho, defende maior transparência por parte das empresas de capital aberto - Divulgação
Presidente da Amec (Associação De Investidores No Mercado De Capitais), Fabio Coelho, defende maior transparência por parte das empresas de capital aberto Imagem: Divulgação

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

04/10/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Com mais pessoas físicas na Bolsa, empresas devem melhorar comunicação, diz presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais
  • Para Fábio Coelho, ainda falta transparência na relação das empresas com acionistas minoritários
  • Executivo diz que juros baixos vão manter migração de pequenos investidores da renda fixa para renda variável

Em pouco mais de dois anos, a quantidade de pessoas físicas na Bolsa brasileira saltou de 800 mil para 3 milhões. Apesar do aumento, a participação no mercado de renda variável do país ainda é baixa, comparada à média de 5% da população em países emergentes. Nos Estados Unidos, 40% das pessoas aplicam em ações.

Mas os juros baixos devem seguir alimentando essa migração dos investidores brasileiros para a Bolsa, diz o presidente da Amec (Associação de Investidores no Mercado de Capitais), Fabio Coelho, que representa os investidores. Para ele, as empresas podem melhorar a comunicação com os pequenos acionistas, pois historicamente se acostumaram a dialogar apenas com grandes investidores.

Esse processo vale especialmente para as empresas que estão chegando agora ao mercado, na onda de IPOs (sigla em Inglês para Ofertas Públicas Iniciais), quando companhias abrem o capital e passam ter ações negociadas em Bolsa.

Veja abaixo os principais trechos dessa conversa.

UOL: Como o aumento do número de investidores pessoas físicas na Bolsa tem influenciado o mercado?

Fábio Coelho: A chegada da pessoa física deve ser comemorada. A despeito da conjuntura de juros baixos que está amentando a procura pela renda variável, é um movimento salutar. Esse ciclo gera maior liquidez, mexe com o perfil das ofertas públicas de ações, pois o apetite deixa de ser dominado apenas por investidores estrangeiros e institucionais.

A chegada da pessoa física no mercado vai estimular o relacionamento da empresa com os investidores.

As pessoas físicas não sacaram tanto na volatilidade. A educação financeira é um dos motivos para isso?

Com juros tão baixos, para mim uma explicação mais plausível para mim seria que as pessoas não sacaram da Bolsa porque não viram muita alternativa de aplicação fora dela? Acho que foi mais por falta de alternativa que por convicção.

Isso foi bom de certa forma porque à medida que o próprio Ibovespa e o valor de mercado das ações foram se recuperando, houve um alívio geral entre os aplicadores. Essa volatilidade acabou virando parte do processo de aprendizado para os investidores.

Mesmo que ainda exista risco de segunda onda de volatilidade, parece que o pior já passou e muitos investidores perceberam isso, como uma aprendizagem.

A regulação do mercado de capitais no Brasil hoje é suficiente para proteger o pequeno investidor, ou haveria espaço para ajustes?

A lei é antiga, mas se mostra ainda muito atual. Esse tema é um assunto mundial. As regras no Brasil podem permitir maior proteção ao investidor com mecanismos de celeridade, canais de arbitragem que funcionem e deem mais proteção aos acionistas minoritários. Vemos oportunidade de mais avanços

Quais?

Por exemplo, com o aperfeiçoamento de arbitragem. Sobre o minoritário, por mais que a Lei das S/As seja ainda uma lei moderna, ela não foi feita no contexto de participação de pessoas físicas. Há espaço para ajustes legais que possam incentivar mais minoritários.

Olhando os casos que foram questionados por acionistas minoritários nos últimos anos, quais você destacaria como exemplos em que a Amec participou?

Teve o caso do IRB, como um exemplo de como as corporações precisam resolver conflitos de interesses que não têm origem nos acionistas, mas entre os próprios administradores e os acionistas.

Tivemos ainda o caso Linx, de incorporação pela Stone. A Linx, que tem base acionária diluída, precisou discutir conflitos de interesse. E tivemos ainda o caso das compras de passagens pela Smiles da Gol, novamente um caso de conflitos de interesses.

As empresas brasileiras que estão acessando o mercado de capitais nessa onda de IPOs estão de fato preparadas para atender às demandas dos investidores em termos de governança, por exemplo?

É importante destacar que muitas dessas empresas não estão fazendo a primeira captação no mercado, porque muitas delas já receberam investimentos de venture capital, por exemplo.

Por isso, nem todas elas estão cruas para o mercado de capitais. Mas de fato, o nível de abertura de informações exigido das empresas abertas é muito, mas muito maior, que o exigido das empresas fechadas.

A abertura de capital é um aprendizado, que passa pela qualidade da comunicação. E existe, sim, um dever de casa a ser feito.

Olhando para o longo prazo, enxerga que a queda da taxa de juros veio para ficar, e a ampliação do mercado de capitais tende a acelerar?

Acredito que sim. Quando tínhamos a taxa Selic a 7,25%, diziam que era o piso. Depois, a Selic caiu a 4,25%, e disseram a mesma coisa. Mas desde lá, já víamos países com juros reais negativos. É um novo momento.

Por outro lado, se os juros de curto prazo estão entre negativo e positivo, quando olhamos para juros no futuro, já vemos aumento de Selic. Não sabemos se haverá uma convergência rápida ou não de juros de curto e longo prazo. Por isso, devemos enxergar volatilidade por algum tempo.