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ANÁLISE

Mineração de bitcoin é muito criticada; entenda por que não é um problema

Getty Images
Imagem: Getty Images

Nicolas Meireles Nogueira

31/08/2022 04h00

A mineração de bitcoin é uma das atividades mais criticadas no universo dos criptoativos. Alguns grupos e pessoas a acusam de ser extremamente prejudicial ao meio ambiente.

Para os críticos, as máquinas de mineração gastam energia demais, e a produção e o descarte destes equipamentos acabam gerando lixo eletrônico. Para eles, a rede do bitcoin deveria mudar e adotar o mecanismo de funcionamento supostamente sustentável de Cardano e Solana, por exemplo.

Mas o que exatamente é a mineração de bitcoin?

O que é a mineração de bitcoin?

A mineração é o processo de validação das transações de bitcoin. Os mineradores competem pelo direito de validar as transações em troca de recompensas em BTC; para isso, eles utilizam ASICs, ou seja, computadores fabricados especialmente para a mineração.

As máquinas são necessárias para resolver cálculos matemáticos complexos —e é por isso que elas gastam muita energia. Porém, esse consumo energético é proposital, para garantir a segurança da rede; caso contrário, seria relativamente fácil corrompê-la e falsificar transações.

O bitcoin funciona há 13 anos ininterruptamente e sem ter sido hackeado justamente por conta da mineração - o que aconteceu recentemente foi o ataque a algumas plataformas que negociam os ativos, mas a moeda em si não foi atacada. É por causa disso que os defensores da moeda preferem manter a rede como ela está: o bitcoin funciona bem há anos, permitindo que pessoas de todos os países façam transações entre si de forma rápida, barata e sem censura.

Assim, para afastar os preconceitos relacionados à atividade e explicar melhor seu funcionamento, listamos algumas inverdades contadas sobre a mineração de bitcoin.

1) A mineração de bitcoin gasta energia demais

A tradicional Universidade de Cambridge, no Reino Unido, estima que a mineração de bitcoin gasta cerca de 98 Terawatt/hora de energia por ano em todo o mundo. Para efeito de comparação, esse volume é maior do que a energia consumida anualmente em países como o Cazaquistão e Filipinas e quase o mesmo utilizado na Holanda, por exemplo.

Para muitos, é absurdo que uma moeda digital gaste a mesma quantidade de energia de um país; afinal, essa energia poderia estar sendo utilizada para fins mais nobres, como a produção de alimentos, ou em comunidades afastadas, certo? Não é bem assim.

Na realidade, máquinas de secar roupas gastam 108 TWh por ano apenas nos Estados Unidos, segundo o Fórum Econômico Mundial. Além disso, os aparelhos domésticos que ficam em modo standy-by (aquele que permite que a TV ligue mais rápido, por exemplo) gastam cerca de 100 TWh por ano no país, segundo a Energy Star.

Ainda, segundo Cambridge, o bitcoin gasta apenas 0,44% da energia consumida no mundo por ano. Assim, não é verdade que a mineração de bitcoin consome eletricidade em excesso.

2) A mineração de bitcoin utiliza energia não sustentável

Antigamente, a maioria dos mineradores de bitcoin estava concentrada na China, que é famosa por utilizar fontes de energia não renováveis. Contudo, a China baniu a mineração cripto em 2021, o que causou a debandada da maioria das empresas do setor para outros países.

O banimento chinês contribuiu, de forma indireta, para que a rede do bitcoin se tornasse mais sustentável. Atualmente, os Estados Unidos lideram a indústria de mineração cripto, com cerca de 40% do total global. Por lá, há muito mais pressão pela utilização de fontes de energia renovável do que na China.

Nessa linha, um estudo do Bitcoin Mining Council, que reúne mineradoras e outras empresas importantes do setor cripto, indica que aproximadamente 60% da mineração de bitcoin utilizou energia de fonte renovável no segundo trimestre de 2022; no mesmo período de 2021, esse número era cerca de 54%.

Cada vez mais, a tendência é o uso de energia renovável pelas mineradoras de criptoativos. Inclusive, algumas delas criaram um mecanismo para consumir o gás natural que é queimado (ou seja, desperdiçado) na produção de petróleo para fornecer energia às suas máquinas.

3) A solução é trocar o mecanismo de validação da rede bitcoin

Em vez de minerar moedas, outras redes, como Cardano e Solana, têm um sistema de validação das transações bem diferente: elas não têm mineradores, mas, sim, pessoas ou grupos que utilizam os seus próprios tokens para ter o direito de competir para validar as transações: os validadores.

Para que isso seja possível, os validadores são obrigados a deixar os tokens depositados nestas redes como uma espécie de "garantia". Quanto mais criptos eles deixam em depósito, mais chances têm de ganhar o direito de validar as transações e, com isso, serem recompensados financeiramente por este esforço.

Não há como negar que estas redes gastam muito menos energia do que a rede bitcoin. Alguns estimam que a validação gasta 99,9% menos energia do que a mineração. No entanto, por outro lado, estas redes privilegiam quem já tem muito dinheiro, já que estas pessoas e empresas têm mais chances de ganhar as disputas pelas validações.

Na visão dos defensores do bitcoin, a validação privilegia os mais ricos e exclui os mais pobres. A rede ethereum, que vai adotar esse sistema em breve, pede um depósito mínimo de 32 ETH para quem deseja se tornar um validador; isso equivalia a US$ 50 mil em 30 de agosto de 2022.

Na prática, a mineração de bitcoin é uma escolha em prol da segurança da rede e em detrimento do consumo de energia. Porém, a atividade está longe de ser uma "vilã ambiental", já que utiliza energia sustentável e é responsável por uma pequena fração do consumo elétrico global.

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