As ações da Petrobras iniciaram com forte queda na Bolsa de Valores (B3) depois das declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre os reajustes de preços dos combustíveis. Em live que faz toda quinta-feira, o presidente disse que "alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias".
Analistas ouvidos pelo UOL veem risco com a fala do presidente e sua postura em relação à empresa nas últimas semanas. No início de fevereiro, a Petrobras anunciou aumento nos preços dos combustíveis nas refinarias da empresa. O aumento veio após fala do presidente de que isso aconteceria e acendeu um alerta ao mercado sobre possível interferência do governo na companhia.
Pressionado pelos caminhoneiros, o presidente criticou os reajustes feitos pela Petrobras e anunciou ontem (18) que a partir do dia 1º de março vai zerar os impostos federais sobre o diesel por dois meses e sobre o gás de cozinha por tempo indeterminado. "Tem de mudar alguma coisa. Vai acontecer", disse.
Para os analistas, a fala do presidente não é um bom sinal. Nem para a Petrobras e nem para outras estatais. Veja a análise.
Risco para os próximos dias
Apesar de não ser possível tecer conclusões sobre os eventuais impactos das declarações do Presidente da República, consideramos que elas implicam uma maior percepção de risco para investidores a respeito da independência da Petrobras e de sua política de preços de combustíveis.
Gabriel Fonseca Francisco, analista da XP Investimentos
Para o analista, "o mercado deve continuar a penalizar as ações enquanto houver incertezas sobre a manutenção de uma política de preços de combustíveis alinhada com referências internacionais".
Rodrigo H. Yamamoto, analista de investimentos da Levante, a live de Bolsonaro "gera uma incerteza grave sobre os rumos da companhia".
A fala do presidente da república é uma das mais preocupantes em termos de política econômica desde a sua posse em 2019, sinalizando ao mercado de que as estatais não terão vida fácil caso não atendam aos interesses e lobby de grupos específicos de sua base eleitoral.
Rodrigo H. Yamamoto, analista de investimentos da Levante
Petrobras pode mudar de comando?
Henrique Esteter, analista de mercado da Guide, enxerga a fala do presidente como um sinal de mudança de comando na empresa.
O mercado interpretando essa frase como claro desejo do presidente de mudar o comando da empresa. O Castello Branco é de fato uma referência na reestruturação da empresa. Ele tem conseguido transformar numa empresa eficiente. Isso tudo pode ser colocado em xeque, com a incerteza de não saber quem vai assumir.
Impacto pode ser negativo para outras estatais
Para Yamamoto, a vida não deve ser fácil para a Petrobras na Bolsa, mas ele também avalia que o impacto pode ser negativo em outras estatais.
"As repercussões terão consequências negativas para as ações da Petrobras, sobretudo se houver uma intervenção mais forte como a demissão de Roberto Castello Branco de seu posto, o que também trará um impacto negativo em todas as estatais como a Eletrobras, que já sofreu a renúncia de um dos CEOs mais bem sucedidos da história, e Banco do Brasil, que acaba de trocar de comando", avalia.
Falta de clareza da compensação de isenção também é risco
Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos, avalia que a fala do presidente é uma "ameaça indireta ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco"
Para o analista, a redução do PIS/Cofins no óleo diesel anunciada por Bolsonaro atende a demanda de caminhoneiros, base de apoio do presidente que tem pressionado o governo por conta do aumento do custo do combustível. E essa isenção cria outro problema.
Como será a compensação do imposto federal? Ainda não ficou claro como acontecerá essa compensação e isso traz à tona a preocupação do quadro fiscal brasileiro, já pressionado.
Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos
Apesar disso, ele enxerga um "sinal positivo". O corte de imposto pode ser um caminho melhor para os acionistas do que efetivamente "alterar" a política de reajuste de preços da Petrobras.
Para analista, presidente precisa se explicar
Paloma Brum, analista de investimentos na Toro, também enxerga impacto negativo nas falas recentes de Bolsonaro e acredita que, para diminuir os riscos vistos pelo mercado, o presidente deve se explicar.
O que é esperado agora é que o presidente Bolsonaro venha a público esclarecer as suas falas, trazendo uma nova sinalização, seja positiva ou negativa, mas que permita uma melhor avaliação do mercado do risco esperado para Petrobras e o desdobramento sobre os preços de suas ações. Até que a situação fique clara, podemos esperar muita volatilidade nos preços dos papéis nas Bolsas.
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