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Por que o dólar foi de R$ 4,90 a quase R$ 5,20 em menos de 3 semanas?

Mitchel Diniz

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/07/2021 17h50

Em menos de três semanas, o dólar, que parecia estar se firmando abaixo dos R$ 5, deu um salto e voltou ao patamar de dois meses atrás, apesar dos recuos verificados nas últimas sessões. Nesta terça (13), a moeda fechou o dia cotada a R$ 5,181 na venda. A alta de 0,13% é a sétima registrada em julho, mês em que a moeda norte-americana já acumula valorização de 4,18% frente ao real. Em três semanas, o dólar foi de R$ 4,90 a quase R$ 5,20.

Os analistas não ficaram exatamente surpresos. Eles sabiam que a moeda poderia voltar a subir ao menor sinal de alta de juros nos Estados Unidos ou de desdobramentos mais sérios da CPI da Covid, no Congresso. Foi o que aconteceu. Mas será que o dólar volta a ser negociado abaixo de R$ 5 ainda este ano? Analistas ouvidos pelo UOL Economia+ explicam o comportamento da moeda, e o que esperar daqui para frente. Veja abaixo o que eles disseram.

Desdobramentos da CPI espantaram investidores

Para Rafael Ramos, especialista em câmbio da Valor Investimentos, o mercado já esperava que a CPI da Covid pudesse chegar mais perto do Palácio do Planalto e envolver diretamente o nome do presidente do Jair Bolsonaro (sem partido).

"Tínhamos no radar de que isso podia acontecer, mas pegou de surpresa com relação ao momento. A gente está em um cenário de inflação alta e o dólar subindo coloca uma pressão a mais sobre os preços", diz Ramos.

Segundo ele, foi o componente político que jogou o dólar para cima. Os investidores se sentem menos seguros de investir no Brasil e compram dólares, fazendo com que a cotação da moeda norte-americana suba.

Bruno Komura, estrategista da Ouro Preto Investimentos, explica que o movimento é oposto ao visto no mês passado. Naquele momento, os investidores compravam reais para se posicionar na Bolsa, o que fez com que o dólar caísse.

Segundo Komura, o que aconteceu logo depois dessa valorização do real foi a piora do cenário político no Brasil e esse seria o principal causador da alta recente do dólar.

"A CPI da Covid se transformou em uma investigação sobre casos de corrupção na compra de vacinas e isso causa muitas incertezas para o investidor", afirma o estrategista da Ouro Preto.

Reforma tributária e juros nos EUA também estão no radar

Outros analistas chamam a atenção de indicadores da economia dos EUA que podem levar a uma alta de juros no país e impactam diretamente na alta do dólar.

"A aversão ao risco sobre os EUA aumentou em escala global, com dados aquém do esperado sobre mão de obra qualificada, trazendo uma expectativa de alta da inflação e a consequente alta dos juros", afirma João Guilherme Silva, analista da Aware Investiments.

Se os juros sobem nos EUA, os títulos do tesouro norte-americano passam a oferecer retornos maiores e atraem o capital de investidores estrangeiros que estava alocado em países emergentes, como o Brasil.

"Os investidores buscam sinais de que os juros possam subir a cada comunicado do Banco Central dos Estados Unidos. Mas eu acredito que isso não vai acontecer por agora", afirma Patrícia Krause, economista-chefe para a América Latina da Coface.

Filipe Ferreira, diretor da Comdinheiro, diz que a proposta da reforma tributária é um outro componente que ajuda a explicar a alta do dólar. O texto, que ainda vai ser votado no Congresso, propõe a tributação sobre dividendos.

"O dólar caiu no mês passado porque a Bolsa estava atraindo fluxos de capital estrangeiro para o país. Incertezas vindas da reforma tributária podem ter assustado esses investidores", diz Ferreira.

Dólar acima de R$ 5 é o novo normal?

Para Rafael Ramos, da Valor Investimentos, o desempenho do dólar vai continuar diretamente ligado ao noticiário político no Brasil. As chances de a moeda ser negociada abaixo dos R$ 5 dependem de como o governo vai ser afetado pelas suspeitas de corrupção na compra de vacinas.

"Apenas um cenário em que o Planalto não esteja envolvido diretamente nas acusações de prevaricação e desvios pode puxar o dólar para baixo", afirma o especialista em câmbio.

Já Filipe Ferreira, da Comdinheiro, acredita que o dólar pode voltar a cair se a retomada da economia brasileira se mostrar consistente e não for ameaçada por uma nova variante da covid-19.

"Se a gente conseguir levar um noticiário positivo para o investidor lá fora, eles voltam para o mercado e jogam a taxa de câmbio para baixo", diz Ferreira.

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