Investir fora do país protege dinheiro da tensão política local; veja como
A tensão política se acirrou após falas golpistas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) feitas no último 7 de setembro. De lá para cá, a Bolsa acumulou quedas e o dólar acumulou altas, acentuando as oscilações do mercado brasileiro, que se descolou ainda mais dos indicadores de investimentos fora do país.
Nessa situação seria o caso de colocar uma parte dos investimentos em aplicações relacionadas ao dólar ou a economias fora do Brasil para proteger a carteira dessas oscilações? Veja abaixo o que dizem profissionais de mercado.
Impacto das incertezas nos mercados
Segundo profissionais de mercado ouvidos pelo UOL, o Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa brasileira, está com um desempenho este ano muito abaixo do registrado pelo S&P 500, da Bolsa de Nova York, em parte por causa das incertezas com relação à economia local justamente em meio às tensões no campo político, com as rixas entre os poderes da República.
Retrato dessa situação, apontam analistas, é que o Ibovespa este ano acumula baixa de 4%, tendo recuado quase 20% desde que atingiu a máxima no ano, enquanto o S&P 500, índice que reúne as 500 maiores empresas de ações da Bolsa de Nova York, já soma 19% de valorização em 2021, numa trajetória que tem sido predominantemente de alta.
No mercado de câmbio, especialistas dizem que o dólar deveria estar oscilando na casa de R$ 4,70 —considerando os fundamentos da economia brasileira— em vez dos atuais R$ 5,30, se não fosse pelas incertezas relacionadas ao ambiente político.
O que aconteceu depois do 7 de setembro é um claro exemplo de como ter todos os ativos em um mesmo país pode fazer com que a carteira toda reaja negativamente de forma sincronizada. Investir em ativos globais é uma forma de proteção, de reduzir a exposição à volatilidade totalmente doméstica.
Rodrigo Lobo, sócio da Nextep Investimentos
5 motivos para investir fora do país
Para profissionais de mercado, o aplicador brasileiro deve considerar investimentos relacionados a ativos —empresas, moedas, governos— internacionais por pelo menos cinco motivos. Veja abaixo.
- Moedas fortes: em momentos de incertezas, os investidores buscam segurança em moedas fortes das maiores economias do mundo, como o dólar norte-americano, o euro ou a libra.
- Economia forte: a busca por essas moedas acontece porque essas economias são mais resistentes a crises, possuem empresas globais e de atuação em todo o planeta, emitem moedas aceitas nas transações internacionais e apresentam um PIB também maior que o do Brasil. Esses fatores ajudam essas economias a saírem mais rapidamente de momentos adversos.
- Diversificação: mesmo que um investidor tenha ações de companhias que atuam em áreas totalmente diferentes, se a economia brasileira for mal, de alguma forma, todas essas ações podem ser impactadas. Já ao colocar uma parte da carteira em ativos não relacionados à economia brasileira, a pessoa consegue alguma proteção contra as oscilações provocadas por fatores locais, como as questões políticas, por exemplo.
- Variedade de opções: ao colocar uma parte dos investimentos em ativos internacionais, o brasileiro consegue acessar uma quantidade muito maior e mais diversa de opções. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Bolsa tem listadas mais de 6 mil companhias, contra menos de 500 na Bolsa brasileira.
- Menor volatilidade: justamente por ter um histórico mais longo de crescimento econômico e de empresas globais, as economias desenvolvidas apresentam um comportamento mais estável ao longo do ano. São economias com maior previsibilidade e, portanto, menor volatilidade.
Ao diversificar a carteira com ativos que acompanham o dólar, por exemplo, é possível minimizar perdas provocadas por eventos e incertezas locais, já que o dólar é a primeira coisa que responde em momentos de incerteza. Investimento no exterior funciona como um colchão que absorve perdas da carteira em momentos de instabilidade.
Igor Seixas, sócio da Inove Investimentos
Quanto aplicar de acordo com o perfil de risco?
Segundo os profissionais consultados pelo UOL, a pessoa pode ter de 5% a 20% da carteira em ativos globais, considerando um investidor pessoa física, seguindo também cada perfil de risco.
Conservador: para um investidor conservador, por exemplo, as opções de diversificação da carteira incluem ETFs (fundos que acompanham algum índice), títulos de renda fixa de governos de países desenvolvidos, como os dos Estados Unidos, e papéis de renda fixa emitidos por grandes companhias com classificação AAA, ou seja, de baixíssimo risco de calote.
Moderado: para investidores moderados, há espaço para aplicações nesses ativos acima e mais ações ou BDRs de índices de ações de Bolsas estrangeiras, ou de empresas de grande porte e de setores de atividade já maduros (como indústria ou bancos).
Arrojado: e para os arrojados, os profissionais de mercado ouvidos pelo UOL dizem que o aplicador pode avaliar como opções ações e BDRs de empresas de maior crescimento, como as de tecnologia ou de varejo digital, além de fundos imobiliários e fundos cambiais ativos.
Quando começar a aplicar?
A diversificação da carteira de investimentos com ativos globais deve fazer parte da estratégia de cada pessoa, independentemente do momento de maior ou menor volatilidade, ou de maior ou menor valor do dólar ante o real, dizem consultores financeiros.
- Quem não tem nada: vale começar aos poucos, sem cair no erro de fazer uma transferência de uma outra aplicação de maneira única, dizem especialistas. O ideal é ir aplicando dinheiro novo em vez de sacar de outra aplicação para se posicionar em ativos ligados a economias estrangeiras.
- Quem já tem: para quem já tem parte da carteira atrelada a ativos globais, a decisão de aumentar o percentual internacional dos investimentos pode ser uma alternativa para realizar lucro de alguma aplicação que já tenha batido a meta --seja porque atingiu um ganho já planejado, seja porque chegou ao vencimento.
Não adianta querer calcular se o dólar está alto ou baixo. A taxa de dólar não deve ser o componente de decisão para se investir lá fora. O que deve ser considerado é o retorno que a aplicação vai dar, afinal será um rendimento já sobre o dólar.
João Manuel Campanelli, diretor de operações do Travelex Bank
Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.
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