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6 erros que fazem você perder dinheiro, segundo Cerbasi; imóvel é um deles

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/09/2021 04h00

O Brasil tem mais de 62 milhões de endividados e 29% deles têm uma das dívidas mais caras do mercado, o cartão de crédito, segundo dados da Serasa. Resolver esse problema é possível, segundo Gustavo Cerbasi, um dos maiores especialistas em finanças do país. E essa solução não depende de quanto você ganha, mas de como você gasta.

O especialista, que conquistou seu primeiro milhão aos 36 anos, conta como evitar os erros mais comuns que fazem os brasileiros se endividarem e que impedem uma vida financeira mais saudável. Cerbasi participou do Guia do Investidor UOL, série de eventos gratuitos e quinzenais do UOL, para quem quer aprender a cuidar do próprio dinheiro. Leia abaixo que erros são esses e como evitá-los.

1. Lidar com dinheiro de forma impulsiva

Boa parte dos brasileiros, segundo Cerbasi, ainda lida com o orçamento de maneira muito impulsiva. "É algo como: comecei a trabalhar e já vou comprar a casa própria".

Para o especialista, há gastos impregnados na cultura de consumo do brasileiro que dificultam muito a criação de um patrimônio sólido, como a compra da casa e do carro —financiamentos caros, mas feitos muitas vezes no impulso.

Cerbasi acredita que, para se livrar dos impulsos de grandes gastos como esses ou dos menores, é preciso antes definir prioridades de maneira crítica, saindo do senso comum, e entender o que de fato é importante para você e para seu estilo de vida: a resposta pode não ser financiar um carro ou mesmo gastar dinheiro num restaurante que você nem gosta só porque seus amigos foram.

2. Apostar muito alto no "sonho" da casa própria

"Eu não tenho que gastar 30% a 40% da minha renda com moradia. Eu tenho que, na verdade, no momento em que eu começo a receber minha renda, avaliar quais são os grandes planos da minha vida", diz Cerbasi.

A ideia ao investir é ter capacidade de fazer a renda crescer com o tempo e, para isso, a melhor opção, segundo o especialista, é investir em educação num primeiro momento, com cursos profissionalizantes, técnicos, faculdade ou pós-graduação.

Já ficar amarrado num financiamento pesado e longo, além de comprometer boa parte da renda, também mantém o investidor preso a um lugar —impedindo que ele visualize oportunidades para aumentar a renda em outros lugares.

3. Abrir mão do bem-estar presente

Empregar uma parte muito grande da renda em bens duráveis não dificulta só o crescimento do patrimônio ao longo do tempo, mas também a qualidade de vida das pessoas.

"É a lógica da sacada gourmet. Você tem a sacada, mas não consegue reunir amigos porque não tem dinheiro para comprar o churrasco. É melhor praticar o seu esporte, ter o seu lazer, aproveitar os seus amigos, manter seu circuito cultural, ainda que o preço seja ter uma casa mais simples e um carro popular", afirma.

Além disso, segundo o especialista, um bom planejamento financeiro não usa a lógica do sacrifício de longo prazo. Para Cerbasi, se o planejamento requer um sacrifício de renda por muito tempo, a probabilidade de o investidor abandonar esse planejamento é muito alta.

"Sacrifício é válido no curto prazo, quando tem data para acabar", afirma.

4. Definir os gastos primeiro

Segundo Cerbasi, o brasileiro costuma, primeiro, definir os seus gastos para aquele momento da vida, ver se consegue pagar o estilo de vida que ele quer ter e depois torcer para que nada dê errado.

"A tendência é de que as pessoas se frustrem ao longo do tempo porque existem imprevistos, a inflação, os pequenos acidentes da vida. E as pessoas vão se resignando, se conformando em manter o estilo de vida [mesmo assim]", afirma.

Assumir uma vida de custos altos e ainda querer investir vai pesar no bolso e a conta não vai fechar, segundo Cerbasi.

"Problemas vão acontecer, e a pessoa pode ter que usar a poupança para resolver esse problema de curto prazo. É aquela lógica do constrói depois desconstrói", afirma Cerbasi.

O especialista defende que o investidor inverta a lógica: separe uma parcela da renda para investir e ter um estilo de vida que caiba no que sobra, considerando uma parcela para usufruir o presente. É olhar a renda primeiro para definir os gastos, e não o contrário.

5. Ter dinheiro na poupança

Em se tratando de investimento, Cerbasi diz que a tradicional poupança deve ser descartada como maneira de fazer o dinheiro render, porque essa modalidade tem apresentado valorização abaixo da inflação há anos, o que reduz o poder de compra com o passar do tempo.

Uma pesquisa realizada pela B3 no começo deste ano mostrou que 40% dos brasileiros ainda mantêm o dinheiro nessa modalidade. Nos últimos três anos, a inflação, medida pelo IPCA, subiu 16,51%, enquanto a rentabilidade da poupança foi quase a metade disso, 9,48%, segundo um levantamento da XP publicado em julho.

O CDI, por exemplo, índice mais importante entre os investimentos mais conservadores e que acompanha de perto da taxa de juros (Selic), subiu 13,33%. Embora ainda perca para a inflação, investimento atrelado ao CDI vence a poupança por uma larga diferença.

6. Entrar na Bolsa sem conhecimento

Já na Bolsa de Valores, que conta com uma porção de investidores mais arrojados, o problema passa pela má gestão do dinheiro na hora de aplicar em ações. Para Cerbasi, a falta de conhecimento e inexperiência de grande parte dos investidores atrapalha a construção de bons resultados na renda variável.

Ele diz que rendimentos pequenos podem estar atrelados também à impulsividade excessiva — de querer ganhar mais cada vez mais rápido — que cresce conforme aumenta também o número de jovens operando na Bolsa.

Quem entrou na Bolsa este ano para especular, por exemplo, colocando dinheiro para tirar em pouco tempo, tem grandes chances de ter se dado mal.

Desde janeiro, a perda do Ibovespa foi de 6%. Quem resolveu entrar depois de ter visto as ações baterem recorde de valorização, no começo de junho, teve perdas expressivas até agora: 15% desde o pico.

"Temos apenas 3 milhões de pessoas na Bolsa de Valores, e imagino que metade seja de maneira muito especulativa, talvez pessoas muito jovens, e talvez sem experiência, sem ter passado por crises", afirma Cerbasi.

Os resultados ruins deste ano estão atrelados à crise econômica e ao aumento dos juros, fatores que nem sempre são considerados pelos menos experientes na hora de aplicar. Mas quem manteve os investimentos desde o meio do ano passado, conseguiu retornos superiores a 8%. A solução está, portanto, na paciência e no estudo do cenário.

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