IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Com Brasil em recessão técnica, onde você tem de investir seu dinheiro?

Paula Pacheco

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/12/2021 04h00

O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou queda no terceiro trimestre deste ano, caindo 0,1% em relação ao período anterior e registrando o segundo trimestre consecutivo em baixa. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e representam uma recessão técnica do Brasil — ou seja, um alerta econômico sobre a situação financeira do país.

Com o resultado negativo, o Brasil atinge somente a 26ª posição em ranking da Austin Rating, que avaliou o crescimento trimestral da economia de 33 países, descontadas as variações sazonais.

O PIB indica a saúde da economia de uma região, sendo a soma de todos os bens e serviços finais produzidos. Assim, quanto maior o PIB, mais a economia está aquecida e em crescimento — o que rende lucros para empresas quanto um todo. O mesmo vale para o cenário contrário: quando há queda no PIB, ele aponta que a atividade econômica daquela região tem encolhido. Mas como, então, o resultado do PIB afeta os investimentos?

Confira abaixo como o Produto Interno Bruto pode afetar a carteira de investimentos e o mercado de capitais; e quais são as oportunidades a serem buscadas com o resultado negativo do indicador.

Como o bolso do investidor pode ser afetado

Analista da Constância Investimentos, Gustavo Akamine declara que o PIB é uma fotografia que mostra o passado recente de uma economia. Ou seja, revela quais setores estão vislumbrando alguma melhora, mesmo em um cenário de baixa atividade econômica.

Para Rafael Claudino, sócio-fundador da HCI Invest, outros componentes de impacto também devem entrar na análise do investidor. Segundo ele, o PIB tem um forte impacto na carteira de investimentos, principalmente para aquelas de perfil mais agressivo, mas ele não é único responsável; o resultado das empresas, o risco fiscal e o ambiente político são tão importantes quanto o indicador.

"Além disso, nossa economia é muito sensível ao que acontece no exterior, como crises ou crescimento global, volatilidade cambial e preço das commodities. Sem contar com as eleições no ano que vem, que também traz bastante volatilidade no mercado", diz.

É hora de investir em renda fixa?

Na análise de Claudino, o desempenho fraco da economia torna a renda fixa mais atraente. O especialista afirma, no entanto, que mesmo em renda fixa é preciso diversificar.

De acordo com o especialista, os títulos pós-fixados precisam fazer parte das carteiras, pois possuem liquidez e pagam acima da poupança. Mas o que de fato vai garantir um ganho acima da inflação são as chamadas NTN-Bs, que são títulos do Tesouro Direto que pagam o IPCA mais uma taxa de juros prefixada.

"Sendo essa [NTN-B] a forma mais segura de possuir uma rentabilidade acima da inflação. Hoje é possível investir em NTN-B com vencimento de dois anos com uma rentabilidade de 5% acima da inflação", declara.

Renda variável: ficar de olho ou fugir com o PIB baixo?

Sócios-fundadores da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig e Jonas Doi também avaliam que a renda fixa volta a ganhar relevância. De acordo com eles, como muitas empresas dependem do crescimento econômico brasileiro para sustentar suas projeções de rentabilidade, os investimentos em renda variável ficam menos atrativos.

"Mesmo investimentos estrangeiros se tornam menos rentáveis, pois o CDI [Certificado de Depósito Interbancário] alto cria um elevado custo de oportunidade ao investidor brasileiro. Uma excelente alternativa são os fundos multimercados, com a taxa CDI como benchmark (índice de referência usado para avaliar o desempenho de um ativo) porque podem se posicionar em produtos mais complexos, como derivativos e opções, ajudando o investidor a ter retorno neste momento de incerteza", avaliam os sócios da Alphatree.

Eles indicam, então, os fundos multimercados, cujo benchmark é a taxa CDI, por causa da possibilidade se posicionarem em produtos mais complexos, como derivativos e opções, ajudando o investidor a ter retorno neste momento de incerteza", avaliaram os sócios da Alphatree.

Investir em ações exige cautela

Já quem tem um perfil mais agressivo vê na retração da economia uma oportunidade de lucrar com o mercado de ações, segundo o sócio fundador da HCI Invest. Porém, afirma que a modalidade exige cuidado, principalmente porque mais da metade dos investidores entrou nesse mercado após 2018 buscando um retorno adicional à renda fixa, "que deixou de pagar o tão buscado 1% ao mês".

Diferentemente da realidade de hoje, com a taxa de juros em movimento de alta, naquele momento a Selic estava em queda. Por isso, avalia Claudino, é possível que muitos dos investidores em ações procurem novamente a renda fixa, que voltará a pagar uma rentabilidade de dois dígitos ao ano.

"Apesar do PIB ruim, não vale tomar decisão sobre investimento olhando para trás, mas sim olhando para produtos financeiros com uma rentabilidade média histórica que satisfaça", disse Pedro Secchin, sócio da Golden Investimentos.

Ele chama a atenção para oportunidades que podem surgir em atividades ligadas ao exterior — portanto, menos dependentes do mercado nacional e, então, do PIB brasileiro — e as ações de empresas de consumo não-cíclico, menos afetadas por períodos de alta e de baixa na economia, como as de alimentos e bebidas.

As ações de companhias com atividades ligadas ao mercado internacional também são a sugestão do analista da Constância. Ou seja, ações de empresas exportadoras que ganham com o real mais fraco. Ou ainda, ativos de juros pós-fixado, que acompanham os juros do dia a dia.

Além de observar de perto empresas com potencial de recuperação em suas cotações, o investidor deve se manter atento àquelas ligadas a atividades menos expostas ao baixo crescimento interno. É o caso, segundo Ariane Benedito, economista da CM Capital, dos bancos e de companhias como Vale (VALE3), Suzano (SUZB3), Petrobras (PETR3), Weg (WEGE3) e Cosan (CSAN3).

Diversificação é necessária

Diante de resultados fracos, Ariane recomenda ao investidor manter alguns cuidados que valem para qualquer cenário, como ter uma carteira de investimentos diversificada e fugir dos ativos correlacionados — por exemplo, todos ligados ao mercado exportador, ou ligados ao varejo ou ao agronegócio.

É preciso buscar alternativas que, mesmo que algumas não apresentem bom desempenho, outras compensarão com resultados positivos.

O humor do mercado financeiro

Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, não acredita que a divulgação do PIB do terceiro trimestre, apesar de apresentar um desempenho fraco, vá mexer com o humor do mercado, já que há outros temas que podem ter uma influência maior, como a votação da PEC dos Precatórios no Senado.

Para ele, o PIB é mais um dos componentes a serem considerados pelo investidor, que se soma ao aumento da expectativa de juros e da inflação e à queda de previsão para o crescimento econômico. "Essas previsões de piora já eram suficientes para o investidor ter rebalanceado a carteira ao longo dos últimos meses", afirmou.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.