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FGTS: vale investir o dinheiro em outras opções ou deixar lá rendendo?

FGTS: benefício pode ser sacado em algumas situações, como em caso de demissão da empresa - Marcelo Camargo/Agência Brasil
FGTS: benefício pode ser sacado em algumas situações, como em caso de demissão da empresa Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

28/03/2022 04h00

O FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) é considerado um dos instrumentos mais eficazes de proteção social aos trabalhadores com carteira assinada. Todo mês as empresas depositam um montante que equivale a 8% do salário do colaborador no fundo mais juros, sem qualquer desconto na sua remuneração mensal.

Mas com a nova alta da taxa básica de juros (Selic), vale a pena deixar o dinheiro rendendo no FGTS? Para responder a essa dúvida, o UOL ouviu especialistas no ramo —e que dizem ainda quais investimentos garantem mais ganhos que o fundo.

Como funciona o FGTS

Em caso de uma eventual emergência, a pessoa pode sacar e utilizar os recursos do FGTS. Isso acontece quando ela é demitida, ou quando financiará um imóvel e precisa dar uma quantia de entrada, por exemplo.

Atualmente, o FGTS possui o retorno fixo de 3% ao ano mais a taxa referencial (TR) variável (atualmente em 0,048% ao ano).

A remuneração também pode ser um pouco mais robusta, já que vez ou outra o governo federal também faz uma distribuição dos lucros que são revertidos ao fundo. Em 2021, a distribuição total foi de R$ 8,1 bilhões, o que adicionou uma fatia de 1,8% ao ano à base de remuneração. Assim, o saldo final do período registrou rentabilidade de 4,92%, superando a inflação apurada entre janeiro e dezembro (4,52%).

A rentabilidade do FGTS é boa?

De acordo com o CEO do app Renda Fixa, Francis Wagner, com o aumento da Selic pelo Banco Central —para 11,75% ao ano—, o FGTS deixa de ter um rendimento interessante frente a outras opções.

"No cenário atual, o rendimento do FGTS fica bastante prejudicado. Hoje, até a poupança tem rendimento superior", diz Wagner. Ele lembra que a regra da caderneta estabelece que quando a taxa básica de juros ultrapassar os 8,5% ao ano, seu rendimento deve ser de 0,5% ao mês mais o pagamento de TR.

Dessa maneira, a remuneração da poupança alcança 6,10% mais as taxas variáveis. A coordenadora de investimentos do sistema de cooperativas de crédito Ailos, Nayara Reichert, afirma que, em momentos de níveis baixos da Selic —como foi no início do último ano, quando a taxa estava em 2% ao ano—, o FGTS tende mesmo a ter uma remuneração superior. No cenário inverso, como o atual, os investimentos em renda fixa passam a ser mais vantajosos.

No caso da poupança, os especialistas entendem que o grande benefício é a alta liquidez, ou seja, a disponibilidade imediata de resgatar o dinheiro. Por sua remuneração baixa, dificilmente pode ser considerada como uma forma importante para investir os recursos no longo prazo.

Assim, ao sacar o dinheiro em busca de rentabilidade, os investidores devem olhar para outras opções, como os títulos do Tesouro Direto e os CDBs (Certificado de Depósito Bancário), que funcionam como espécies de empréstimos ao governo e às instituições financeiras, respectivamente.

Investimentos mais interessantes que o FGTS

Para ajudar os investidores a decidir qual o melhor investimento em renda fixa —caso haja o saque do FGTS e que rendem mais que o dinheiro parado no fundo—, o UOL realizou duas breves simulações com a ferramenta do Tesouro Direto.

Para o título prefixado em 11,77% ao ano, o investimento inicial de R$ 5 mil mais 33 aportes mensais de R$ 400 resultariam no retorno R$ 22.312,09 com prazo de vencimento para janeiro de 2025. Com a mesma quantia e prazo em CDBs (Certificados de Depósito Bancário) ou na poupança, o retorno recebido ao final seria de R$ 20.575,06 e R$ 20.189,92, respectivamente.

No Tesouro Selic, que possui pagamento de 0,0494% mais a variação da taxa básica de juros, os mesmos R$ 5 mil e 35 aportes de R$ 400 por mês renderiam o saldo de R$ 22.216,06. Neste caso, o vencimento seria em março de 2025. Vale lembrar que o Tesouro Selic possui pagamento de 0,0494% mais a variação da taxa básica de juros.

Pontos de atenção

O investidor deve estar atento na hora de fazer os cálculos. Se decidir pelo resgate antes do vencimento, os valores investidos no Tesouro Direto podem sofrer oscilações se o investidor decidir pelo resgate antes do prazo de vencimento.

Outro ponto é que é necessário calcular ainda o pagamento do Imposto de Renda, cuja a cobrança começa em 22,5%, para o resgate em seis meses (180 dias), até 15%, para o saque em cerca de dois anos (720 dias).

Renda fixa privada pode ser alternativa

Para o especialista em produtos de investimentos e sócio da B.Side Investimentos, Eduardo Scheffer, os títulos de renda fixa de instituições privadas podem ter remuneração ainda melhor que os títulos públicos e contam com a isenção do Imposto de Renda.

"Mas o que importa mais para o investidor pessoa física não é nem o instrumento em si [qual deles escolher], mas sim a estratégia. Hoje, os títulos pós-fixados estão com taxas bastante atrativas", afirma Scheffer.

Alguns exemplos são os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), além das debêntures incentivadas —títulos de renda fixa para projetos específicos, como logística aviação e transporte.

Esses títulos são emitidos para financiar os diferentes setores da economia e têm como referência o pagamento do CDI (Certificado de Depósito Bancário), que por sua vez acompanha a Selic.

Segundo Rodrigo Zauner, sócio da SVN Investimentos, é possível encontrar CRIs e CRAs com pagamento acima da inflação. "Existem bons ativos além do CDB e do Tesouro, como os fundos de renda fixa de bons gestores", diz.

O avanço da inflação e as instabilidades externas causadas pela guerra entre Ucrânia e Rússia reforçam a preocupação com a proteção do patrimônio, explica Scheffer. "Os que a gente vê como mais interessantes [com este objetivo] são as debêntures incentivadas, CRAs e CRIs, com um prazo médio de recebimento entre dois e cinco anos", afirmou.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.