O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou, no dia 16 de março, uma nova elevação da Selic —a taxa básica de juros—, que passou para 11,75% ao ano. Há um ano, em março de 2021, a taxa subia pela primeira vez em quase seis anos, de 2% para 2,75% ao ano.
A decisão do aumento veio em resposta à recente aceleração da inflação global, principalmente em decorrência da disparada dos preços de alguns produtos e insumos que têm a Rússia e a Ucrânia dentre os principais exportadores, como o petróleo, o gás natural e os grãos.
Diante da alta da Selic, como fica o rendimento da caderneta de poupança? Felipe Bevilacqua, analista da Levante Ideias de Investimentos, responde a essa pergunta e mostra como a taxa tem favorecido o investimento em ativos seguros de renda fixa. Logo abaixo, ele mostra o quanto você deixa de ganhar ao deixar seu dinheiro na conta poupança.
Selic a 11,75%: a alta não deve parar aí
No último Relatório de Mercado Focus divulgado pelo Banco Central (BC), as projeções indicavam uma inflação de 6,59% em 2022, acima do teto da meta, de 5%.
O analista da Levante afirma que, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) —o indicador oficial de inflação ao consumidor— não dá sinais de recuo em direção à meta, a perspectiva é de que novos aumentos nos juros sejam anunciados nas próximas reuniões do Copom, que já sinalizou mais uma alta de 1 ponto percentual no próximo encontro.
Portanto, segundo ele, as chances de que a Selic termine 2022 acima do patamar de 13% são altas. O mercado já começa a projetar que o recuo dos juros deve ter início apenas em 2023, caso a inflação reaja conforme o esperado.
Assim, podemos esperar um cenário de juros mais altos e por mais tempo do que o estimado anteriormente.
Felipe Bevilacqua, analista da Levante
Como fica a poupança com a alta da Selic?
Diferentemente de grande parte dos ativos de renda fixa, a caderneta de poupança não sofre impacto significativo com a alta da Selic a partir do momento em que a taxa ultrapassa o patamar de 8,5% ao ano. Isso se deve a duas fórmulas de cálculo utilizadas para definir a rentabilidade da poupança.
Quando a Selic é menor ou igual a 8,5% ao ano, o rendimento da poupança equivale a 70% da Selic mais a Taxa Referencial (TR) —uma taxa calculada pelo Banco Central (BC). Já quando a Selic é maior do que 8,5%, o cálculo da rentabilidade da poupança muda para 0,5% ao mês mais a TR.
É preciso levar em consideração ainda que a TR, de acordo com informações do Banco Central, está em 0,09% para o mês de março —exercendo, portanto, pouca influência sobre a rentabilidade do investimento.
Logo, ignorando a TR e levando em consideração a rentabilidade de 0,5% ao mês oferecida pela poupança, Bevilacqua declara que o retorno do investimento no intervalo de um ano seria de 6,17% —menos da metade da taxa Selic projetada para o final deste ano, de 13% ao ano, e insuficiente para cobrir a inflação estimada para 2022.
Isso quer dizer que, investindo R$ 1 mil na poupança, o valor a ser resgatado após um ano seria de R$ 1.061,70. Entretanto, a inflação projetada para o período é maior do que os rendimentos estimados do investimento, o que significa que a rentabilidade real da poupança, caso se confirmem as projeções, seria negativa nesse intervalo.
Sendo assim, como aproveitar a alta dos juros para realmente ganhar dinheiro?
Usando a alta dos juros a seu favor
O custo de oportunidade é uma expressão frequentemente utilizada no mundo das finanças. Ele refere-se ao valor ao qual você renuncia ao tomar uma decisão.
Para exemplificar esse conceito, Bevilacqua recomenda imaginar que você possui R$ 2.000 e tem de escolher entre investir essa quantia em um ativo que promete uma rentabilidade de 10% em um ano ou fazer uma viagem para o litoral.
Ao optar pela viagem, ele diz que você está renunciando ao retorno financeiro oferecido pelo investimento —no caso, os 10% de rentabilidade. Assim, o custo de oportunidade da sua escolha é justamente esse rendimento que poderia ter sido obtido.
O analista da Levanta afirma que "há opções de investimento em renda fixa (muitas, por sinal) que são tão seguras quanto a poupança, mas que podem te oferecer uma rentabilidade muito maior que a inflação".
Ou seja, ao optar por investir na poupança, você está renunciando aos rendimentos mais expressivos oferecidos por outros ativos.
Além disso, de acordo com ele, a alta da Selic cria uma interessante janela de oportunidade no curto prazo, uma vez que quanto mais altos forem os juros, mais rápido tende a ser o recuo da inflação.
"Investidores que souberem se posicionar em ativos cuja rentabilidade está atrelada à Selic devem se beneficiar de retornos expressivos em 2022 e 2023, uma vez que deve haver uma discrepância significativa entre inflação e juros no período", afirma.
Os melhores investimentos em renda fixa para se beneficiar da alta da Selic são os títulos públicos do tipo Tesouro Selic com vencimentos curtos, disponíveis para compra no Tesouro Direto, programa do Tesouro Nacional em parceria com a B3, a Bolsa brasileira.
De acordo com dados do dia 17 de março, o Tesouro Selic com vencimento em 2025 oferecia uma taxa de retorno anual equivalente à Selic mais uma taxa de 0,05%. "Assim, o investidor consegue aproveitar ao máximo a alta dos juros", declara o analista.
O investimento no Tesouro Direto está sujeito à cobrança de Imposto de Renda, com alíquotas partindo de 15% e indo até 22,5%. O imposto incide sobre os rendimentos auferidos no período e é cobrado automaticamente no momento do resgate. A alíquota de 15% é válida para todos os investimentos com prazo superior a 720 dias.
Fuja da poupança
Em síntese, deixar o dinheiro na poupança no presente momento, em meio ao atual ciclo de alta da taxa Selic, é uma estratégia que pode lhe custar caro.
O analista da Levante diz que não vale aplicar na poupança, "uma vez que é possível obter rendimentos mais altos sem abdicar da segurança". Ele afirma ainda que, "para aproveitar ao máximo a oportunidade trazida pela alta da taxa Selic, é preciso sair da zona de conforto e conhecer novas modalidades de investimento".
Carteiras conforme o perfil
Para quem ainda não pegou as recomendações de investimentos, elas estão a seguir:
- Carteira para quem não aceita risco algum
- Carteira para quem tem perfil mais conservador, mas aceita um pouquinho de risco
- Carteira para quem é mais moderado
- Carteira para quem aceita mais risco
- Carteira para quem aceita alto risco
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Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo analista Felipe Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.
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