De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio da gasolina comum ficou em R$ 4,53 em dezembro de 2019, antes da pandemia do coronavírus. Em janeiro deste ano, o valor chegou a R$ 6,63, um aumento de R$ 2,10 —ou quase 50%, em relação ao observado há cerca de dois anos.
No mesmo intervalo, o preço médio do óleo diesel saiu de R$ 3,73 para R$ 5,49, um aumento de R$ 1,76 ou quase 50%, gerando revolta entre caminhoneiros e aumentando os custos operacionais de companhias que atuam no ramo de transportes.
O petróleo deve seguir em alta? Como as eleições podem movimentar os preços? Felipe Bevilacqua, analista da Levante Ideias de Investimentos, responde a essas dúvidas e mostra se é possível o brasileiro lucrar com a alta dos combustíveis, além dos motivos para esse acontecimento.
Por que os combustíveis estão mais caros?
De 2019 para 2022, muitos eventos e fatores contribuíram para a disparada dos preços dos combustíveis. "Mas podemos simplificar dizendo que este fenômeno se deve à valorização do petróleo no mercado internacional e à disparada do dólar com relação ao real", afirma Bevilacqua.
De acordo com informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ao final de 2019 o barril de petróleo tipo Brent —ou seja, aquele que é extraído no Mar do Norte e negociado na Bolsa de Londres— era negociado a US$ 67,77 (cerca de R$ 350).
Em março de 2020, quando a pandemia seguia acelerada na China e na Europa e passou a ganhar corpo no Brasil, o petróleo tipo Brent despencou para US$ 24,88 (R$ 128,44), o menor valor desde 2003. Já em 24 de fevereiro deste ano, porém, com a invasão russa à Ucrânia, o preço do barril ultrapassou a marca dos US$ 100 (aproximadamente R$ 516).
"Tratando-se de uma commodity negociada no mercado internacional, o petróleo tem seu preço cotado na moeda norte-americana", diz o analista. O dólar encerrou 2019 cotado a R$ 4,01 e chegou a bater a marca de R$ 5,70 em 29 de dezembro de 2021, antes de dar início a um movimento de recuo no começo deste ano.
Portanto, a disparada da moeda norte-americana frente ao real somou-se à disparada do preço do petróleo, o que fez com que a alta dos preços dos combustíveis fosse sentida com ainda mais intensidade pelos brasileiros.
Felipe Bevilacqua, analista da Levante Ideias de Investimentos
E como ficam as petrolíferas?
"Ninguém gosta de pagar mais caro nos combustíveis, cuja alta acaba impactando os preços de diversos produtos e serviços", declara Bevilacqua. Entretanto, ele diz que empresas que atuam na exploração e no refino do petróleo tendem a apresentar resultados muito mais robustos quando os preços da commodity (matéria-prima) estão mais altos.
Sendo assim, é possível se beneficiar da alta dos preços dos combustíveis ao investir em empresas que lucram com esse fenômeno.
Atualmente, há cinco companhias que atuam no setor listadas na B3, a Bolsa de Valores brasileira. São elas:
O caso da Petrobras
"Quando falamos de petróleo no Brasil, é impossível não pensar na gigante Petrobras, estatal fundada em 1953 durante o governo de Getúlio Vargas", declara o analista da Levante.
Ele afirma que, após anos afundada em uma profunda crise, provocada por intervenções políticas na gestão da companhia e por escândalos de corrupção que desviaram quantias bilionárias dos cofres da empresa, a Petrobras (PETR3, PETR4) vive um dos melhores momentos de sua história.
A companhia tem reportado resultados cada vez mais robustos e pagando mais dividendos aos acionistas —dentre os quais o governo federal, que detém 50,5% das ações ordinárias da empresa.
"A Petrobras já vinha apresentando resultados sólidos nos últimos anos, colhendo os frutos da boa administração iniciada por Pedro Parente, que assumiu a presidência da estatal em 2016 com a missão de torná-la lucrativa novamente. Ainda assim, a disparada do preço do petróleo e a alta do dólar ante o real foram fatores determinantes para colocar a companhia entre as mais lucrativas do país - e entre as melhores pagadoras de dividendos da B3", diz.
Diante desta conjuntura favorável, a Petrobras obteve lucro líquido recorde de R$ 106,668 bilhões em 2021, cifra 15 vezes maior que o lucro auferido no ano anterior.
O petróleo deve seguir em alta?
É sempre difícil prever o comportamento dos preços de um determinado ativo, mas o mercado tem motivos para acreditar que o petróleo deve sustentar cotações mais altas no curto prazo.
Bevilacqua declara que o primeiro motivo para o petróleo seguir em alta é que, com a reabertura da economia global diante do controle da pandemia, tem sido observado um aumento da demanda por combustíveis fósseis em todo o planeta.
Em adição a isso, os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados, liderados pela Rússia, têm aumentado a produção de petróleo em um ritmo inferior ao crescimento da demanda pela commodity, e não têm demonstrado grande preocupação com a disparada dos preços.
Por fim, a invasão russa à Ucrânia tende a elevar ainda mais os preços do petróleo, uma vez que a Rússia é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com capacidade de produção de mais de 10 milhões de barris por dia.
O país também fornece cerca de 40% do gás natural consumido na Europa, e tem entre seus principais consumidores algumas nações que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar liderada pelos Estados Unidos.
Eleição pode representar riscos
"Apesar da perspectiva de que os preços do petróleo devem seguir elevados com a demanda aquecida por combustíveis, a eleição presidencial de 2022 promete trazer volatilidade às companhias brasileiras do setor", declara o analista.
Isso porque a alta da gasolina e do diesel tem provocado insatisfação popular, e colocado o debate sobre mudanças na política de preços da Petrobras e cortes na tributação dos combustíveis no centro das discussões eleitorais.
É importante ter em mente que uma mudança na política de preços da Petrobras não afetaria apenas a estatal, mas também impactaria os negócios de seus pares privados, que possuem uma participação muito menor no mercado brasileiro de óleo e gás.
No que ficar de olho
"Em suma, o petróleo e o dólar devem se manter em patamares elevados no curto prazo, criando um cenário favorável para as petrolíferas e para aqueles que possuem ações destas companhias na carteira", diz Bevilacqua.
Todavia, tendo em vista o impacto da alta dos preços dos combustíveis no dia a dia dos cidadãos, ele declara que não é possível descartar o risco de intervenção governamental no setor, o que pode minar os ganhos das companhias, especialmente se tratando da Petrobras.
Acesse aqui o relatório completo da Levante sobre a alta dos combustíveis.
Carteiras conforme o perfil
Para quem ainda não pegou as recomendações de investimentos, elas estão a seguir:
- Carteira para quem não aceita risco algum
- Carteira para quem tem perfil mais conservador, mas aceita um pouquinho de risco
- Carteira para quem é mais moderado
- Carteira para quem aceita mais risco
- Carteira para quem aceita alto risco
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Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo analista Felipe Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.
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