Covid na China preocupa investidor até no Brasil; seu bolso está protegido?
O surto de covid-19 na China, segunda maior economia do mundo, tem causado preocupação entre os investidores. A volta do aumento dos casos da doença fez com que algumas cidades decretassem lockdown novamente. Portos foram fechados, indústrias paralisaram suas atividades e o país desacelerou, impactando os planos de importadores e exportadores de outras nações.
Com isso, as commodities (matérias-primas, como petróleo, minério de ferro, soja), que vinham aquecidas desde o início da invasão russa à Ucrânia, começaram a perder força. Atraídos por juros mais altos e menos riscos políticos e comerciais, investidores internacionais estão procurando alternativas.
Diante disso, como o cenário na China pode afetar seu bolso como investidor? E como se proteger dessas incertezas? Confira abaixo as respostas a essas dúvidas, segundo especialistas ouvidos pelo UOL, e mais detalhes sobre a situação atual no país asiático.
Os desafios da China
Recentemente, o governo chinês anunciou um pacote de estímulo à infraestrutura na esperança de reaquecer a economia. Para os investidores, ainda não há clareza quanto ao tempo que deve levar para a economia chinesa se recuperar.
A recuperação do preço das commodities, por exemplo, está atrelada à permissão de reabertura das fábricas e do afrouxamento das regras de confinamento para conter os casos de covid em locais como Tangshan — maior polo de produção de aço da China.
Antes da volta das restrições para isolamento, o país já vinha sofrendo com dificuldades no mercado imobiliário, abatido pelo aumento da inadimplência e alta alavancagem.
O conjunto de fatos desfavoráveis também tem seus efeitos no yuan, moeda oficial da China, que alcançou o menor nível em 19 meses em relação ao dólar nesta quinta-feira (12), acumulando desvalorização de quase 6% em um mês.
Relatório recente do MUFG (Mitsubishi UFJ Financial Group, Inc), holding do Banco MUFG Brasil, cita a preocupação com a inflação por causa do bloqueio da circulação em parte da nação.
"Considerando que a China é um grande fornecedor global de produtos industrializados, isso leva a uma pressão nos preços mais alta sobre bens eletrônicos, eletrodomésticos e roupas", diz a nota.
Já a análise feita pela Guide Research afirma que, mesmo com números melhores do que o esperado na balança comercial de abril, há sinais de desaceleração da economia chinesa.
Impactos da China em investimentos no Brasil
Por ser a segunda maior economia do mundo — e a maior exportadora e o principal mercado consumidor em termos de população —, o desempenho da China tem impacto no crescimento global, em particular nas commodities.
"Tão importante quanto o aumento dos juros do Fed [Federal Reserve, o Banco Central americano], os desafios para o Ibovespa [principal índice de ações da Bolsa de Valores brasileira] estão intrinsecamente ligados ao futuro do nosso maior parceiro comercial", diz o relatório da Guide Research.
Isso porque o aperto monetário promovido pelo Fed, ao elevar o dólar, diminui o interesse por investimentos em mercados emergentes. O movimento já tem reflexos no mercado de crédito corporativo da China, que vem enfrentando dificuldades.
O UOL ouviu especialistas para saber como proteger a carteira de investimentos de instabilidades internacionais como a China tem sofrido.
Como proteger sua carteira
Luís Barone, gestor de renda fixa, títulos públicos e privados da Galapagos Capital, afirma que, em parte, a reação do dólar em relação ao real, observada nas últimas semanas, tem a ver com a economia chinesa, mas também com a alta dos juros americanos.
De um modo geral, segundo Barone, os ativos com risco de mercado, expostos a uma oscilação muito elevada, além de hoje sofrerem com o elevado déficit fiscal e o clima pré-eleitoral no Brasil, são os mais afetados por fatores externos, como o momento enfrentado pela China e as decisões do Fed.
O pequeno investidor, como diz o gestor da Galapagos Capital, deve, neste momento, tentar sair do risco de mercado.
Agora, a opção como menor exposição às incertezas, inclusive as vindas da China, é a renda fixa que, como diz o especialista, quase sempre pagou juros elevados e agora está "particularmente atraente".
Apesar de a expectativa ser de uma inflação cadente [que vai caindo] no Brasil, os preços devem seguir em alta, por isso é interessante investir em ativos atrelados aos índices inflacionários. Até porque, vamos continuar a ver por um tempo os efeitos dos problemas com as cadeias de suprimentos e com o escoamento dos produtos em alguns portos, desencadeados pela pandemia na China e a guerra na Ucrânia, o que reflete no aumento dos custos.
Luís Barone, gestor na Galapagos Capital
Os investimentos mais expostos à crise da China são as empresas brasileiras exportadoras, como a mineradora Vale (VALE3), em forte queda desde o pregão de 7 de março, na B3 — e que, pelo seu peso, tem comprometido a performance da Bolsa brasileira como um todo. A avaliação é de Renato Breia, sócio-fundador da Nord Research.
Apesar de os problemas chineses não serem recentes e já serem sentidos na economia brasileira, o especialista acha difícil calcular a sua extensão.
Sandra Blanco, estrategista da plataforma de investimentos Órama, tem uma opinião diferente de Barone. "A inflação está elevada no mundo, assim como por aqui. Mas no Brasil devemos estar próximos do pico".
Outra sugestão de Barone são os títulos públicos prefixados, que vêm atingindo rentabilidades recordes graças a outros fatores do mercado, como a aversão ao risco e as expectativas para o preço do petróleo.
Na quinta-feira (12), o Tesouro Prefixado com vencimento em 2033 e pagamento de juros semestrais era negociado com uma rentabilidade anual de 12,71%. Outros exemplos são o Tesouro Prefixado 2025 e o Tesouro Prefixado 2029, ambos com retorno anual de 12,56%.
Breia, da Nord Research, diz que na Bolsa brasileira não há muitas empresas ligadas a commodities. Entre as que estão mais expostas atualmente, ele cita, além da Vale (VALE3), a Petrobras (PETR3/PETR4) e a PetroRio (PRIO3).
Para quem pretende aproveitar o momento de perda de vigor chinês, o sócio da Nord Research explica que o melhor momento pode ter ficado para trás.
"O melhor momento para reposicionamento da carteira já passou. A maior parte do upside [previsão de quanto um ativo pode subir em um determinado período] das commodities já passou", diz Breia.
Ainda assim, o executivo vê algumas oportunidades na Bolsa brasileira, que tem bons ativos negociados abaixo do valor potencial.
Entre eles, a própria PetroRio (PRIO3), porque, segundo ele, não está atrelada apenas ao preço da commodity, mas ao aumento da produção, e a expectativa é que os preços fiquem altos por um tempo.
Breia sugere ainda a compra de ativos em dólar, aproveitando o atual patamar de câmbio, porque a Bolsa americana também caiu bastante.
A estrategista da plataforma de investimentos Órama inclui em sua lista de ativos mais expostos à desaceleração chinesa as commodities (grãos, petróleo e as metálicas), a renda variável (em particular as empresas exportadoras, as de consumo e frigoríficos), as classes de ativos ligadas à inflação e a renda fixa (no Brasil, o juro pode chegar ao fim do ciclo de alta).
Mesmo com o ambiente instável, é possível encontrar oportunidades ao comprar ativos com preços abaixo do seu potencial, de acordo com Sandra. "Para o investidor que tiver horizonte de longo prazo, com as quedas recentes, surgiram algumas boas oportunidades", declara.
Abaixo, a sugestão de carteira da estrategista da Órama:
A estrategista, porém, alerta os investidores que estão assustados com o comportamento de retração de alguns ativos, como as commodities.
O mercado já caiu bastante, mas agora não é momento para reduzir a posição e realizar prejuízo. É melhor aguardar agora. O Brasil ainda é um país atraente para os estrangeiros,
Sandra Blanco, estrategista da Órama
O executivo da Galapagos Capital faz outra recomendação: investidores com pouca experiência não devem tentar encontrar oportunidades, por conta própria, em um cenário desfavorável na China ou da guerra entre Rússia e Ucrânia. Por exemplo, tentando ganhar com uma nova alta das commodities ou com produtos atrelados à moeda estrangeira.
"É muito difícil prever o preço de uma commodity, que tem uma volatilidade mais alta do que a do próprio país. Da mesma forma, não dá para antecipar os movimentos do câmbio, ainda mais com tantas incertezas", afirma Barone.
Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.