Com frio, é melhor vender ou comprar ações das empresas de agro na Bolsa?
Desde a última semana, as geadas e o frio intenso têm afetado as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, locais conhecidos pela vasta produção de alimentos. Essa dinâmica climática prolongada pode apertar as margens das empresas agrícolas no Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores (B3) — em maior ou menor escala, conforme o setor.
Com isso, será que este é o melhor momento para comprar ou vender ações das companhias listadas na Bolsa? Quais segmentos são prejudicados?
Os analistas consultados pelo UOL afirmam que, além de frutas tropicais e hortaliças, culturas como café, cana-de-açúcar e milho, importantes na formação de preço tanto para o mercado interno quanto externo, seriam afetadas.
De forma geral, todas as empresas dependentes de commodities [matérias-primas] agrícolas devem sofrer um impacto negativo.
Enrico Cozzolino, head de análise da Levante Ideias de Investimentos
É possível dividir as empresas entre aquelas que correm riscos diretos — quando o negócio depende essencialmente daquela produção — ou indiretos — em que os itens de outras companhias são usados como insumos de suas atividades.
Para ficar mais claro, no primeiro grupo se encaixam nomes como São Martinho (SMTO3), Raízen (RAIZ4) e Jalles Machado (JALL3), grupos sucroenergéticos que dependem da colheita de cana-de-açúcar para gerar açúcar ou etanol.
Cana e café
"O cenário não é favorável para as empresas brasileiras. Uma geada poderia queimar a cana ou atrapalhar o seu desenvolvimento, gerando a quebra de safra ou eficiência reduzida do plantio", diz o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura.
O cenário é similar para o café, em que perdas na produção poderiam elevar ainda mais o valor do grão.
Segundo Komura, o grande entrave é que as perdas substanciais da produção teriam dificuldades de repasses nos preços para o consumidor, dado o nível da inflação no país, que acumula alta de 12,13% nos 12 meses encerrados em abril.
No caso específico do etanol, os valores acompanham a alta da gasolina, ou seja, há um teto para reajustes.
Desde o início de 2022, a São Martinho registra aumento nos preços das ações de 42,6% na Bolsa, a R$ 47,62. Por outro lado, Jalles Machado e Raízen acumulam perdas de 2,3% e 7,5%, a R$ 9,81 e R$ 5,80, respectivamente.
Milho, aves e gado
Na outra ponta, se encaixam companhias como JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3), gigantes produtoras de proteína que dependem da produção de milho para servir de ração durante o ciclo dos animais. Dessa forma, o aumento das matérias-primas é traduzido em custos maiores de produção na indústria.
O Brasil é um player importante na produção de produtos agrícolas. Mas, com a alta nos preços da soja e milho, há um aumento nos custos de ração animal, o que pressiona as margens dessas empresas de suínos e aves.
Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos
Entre as produtoras de proteína, a JBS, que abriu o ano na casa dos R$ 36, chegou a valer R$ 39 em abril. Hoje, gira em torno dos R$ 35. Já Marfrig e BRF acumulam queda de 28% e 38% em 2022, a R$ 15,18 e R$ 14,37.
O que fazer com as ações?
De forma geral, o sócio e head de análise da plataforma de investimentos Monett, Luiz Cesta, afirma que o investidor de longo prazo está mais preparado para os choques que afetam a dinâmica das ações.
São nesses momentos que é preciso olhar com mais carinho para empresas sólidas e que negociam com preços mais atraentes por problemas pontuais.
Luiz Cesta, sócio e head da Monett
Para o investidor que não possui ações, é recomendável aproveitar a baixa das empresas exportadoras e com bons desempenhos, afirma Cozzolino, da Levante.
Ele cita especificamente São Martinho (SMTO3); SLC Agrícola (SLCE3), de soja, milho e algodão; e BrasilAgro (AGRO3) — de soja, milho, cana e algodão e setor imobiliário rural) como aquelas que devem estar no radar dos investidores.
"Há boas empresas deste ramo, com múltiplos favoráveis, que estarão descontadas [baratas] com o efeito das geadas, sendo, portanto, uma oportunidade de investimento", declara Cozzolino.
Na opinião de Crespi, da Guide Investimentos, o momento requer cautela. Para quem possui as ações de empresas que podem ser afetadas, ele indica a manutenção da carteira.
"São previsões meteorológicas com a expectativa de temperaturas mais baixas, e é esperado uma pressão por venda desses papéis, caso as previsões se concretizem. Caso não se concretizem, não deve haver grandes mudanças", afirma.
Acho que o mais adequado a se fazer é manter. Eu não venderia [as ações] -- porque [o efeito do frio] é um risco, mas [o prejuízo] não é algo certo.
Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos
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