Por que a Bolsa tombou e o dólar disparou hoje, fechando a R$ 5,115?
O dólar comercial disparou 2,54% nesta segunda-feira, fechando a R$ 5,115 na venda. Ao longo do dia, o dólar chegou a passar de R$ 5,13. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, operava em queda de 2,73%, a 102.598,18 pontos, com praticamente todas as ações se desvalorizando.
O mercado financeiro enfrentou um dia turbulento no mundo inteiro, não só no Brasil. Também registraram forte queda as Bolsas da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia. O pessimismo é reflexo de preocupações generalizadas com a inflação, que está acelerando globalmente, mas sobretudo nos EUA. Entenda abaixo.
O que está acontecendo?
Hoje foi o famoso dia de 'risk-off', ou seja, de tirar o dinheiro do risco.
Marcio Loréga, analista-chefe do PagBank
Os investidores tiraram seus recursos da renda variável (ações) e foram para aplicações mais seguras, como o dólar. Com a venda de ações, a tendência é as cotações dos papéis caírem. Por outro lado, com o aumento na busca por dólares, a moeda tende a subir.
E por que os investidores estão fugindo de aplicações mais arriscadas e buscando as mais seguras?
Inflação e juros nos EUA
O que conduz esse movimento é a expectativa de que os Estados Unidos subam os juros mais do que esperado, em 0,75% ao ano em vez de 0,5%, diz Loréga.
A mudança na expectativa aconteceu após os EUA divulgarem seus dados de inflação em maio, na sexta-feira (10). Os preços no país atingiram alta de 8,6% no acumulado em 12 meses, ao maior índice desde dezembro de 1981 (8,9%). Em relação a abril, a alta foi de 1%.
E tem mais. Com alta de 4,1% em maio, a gasolina nos EUA atingiu preço recorde, com o galão de gasolina (3,7 litros) chegando a um valor médio de US$ 5 (R$ 26) pela primeira vez. Essa barreira numérica impressiona os investidores.
"Os dados de sexta pesaram muito, e o cenário de estagflação se confirmando na Europa também", diz Loréga.
Estagflação é um cenário de estagnação da economia e inflação. Significa alta de preços com desaceleração da atividade e aumento do desemprego.
Um profissional da tesouraria de um banco em São Paulo afirmou que "os BCs podem precisar rifar crescimento para segurar os preços", ou seja, subir os juros para conter a inflação, o que prejudica também o crescimento.
Tanto o Brasil quando os EUA farão sua reunião para definir os juros nesta semana. A decisão sai na quarta-feira.
Risco de recessão
Nos EUA, a curva de juros entre os Treasuries de dois e dez anos inverteu-se brevemente nesta segunda-feira pela primeira vez desde abril. O movimento é visto por muitos como um sinal confiável de que uma recessão pode acontecer no próximo ano ou dois.
Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe e sócio-fundador da Levante, também citou o temor de recessão na newsletter Por Dentro da Bolsa desta segunda.
Para economistas do Itaú Unibanco, os riscos de uma recessão iminente parecem exagerados, considerando o crescimento resistente nos EUA e na Europa e a reabertura na China.
"No entanto, esses fatores não devem trazer um alívio significativo e duradouro para preços de ativos, uma vez que a inflação elevada irá levar a maiores taxas de juros nos Estados Unidos e na Europa", afirmou a equipe liderada por Mario Mesquita, em relatório enviado a clientes hoje.
Covid na China
Além disso, a covid-19 na China voltou a ser uma ameaça. Houve aumento das restrições na China, com alta de casos de covid em Pequim e Xangai.
"O recente surto é de natureza fortemente explosiva e de alcance generalizado", afirmou o porta-voz do governo municipal de Pequim, Xu Hejian, no sábado (11).
"Por isso, a pressão nas commodities, os produtos básicos", como petróleo e minério de ferro, diz Loréga. "Há receio de 'lockdown', por enquanto descartado. Mas o mercado precificou o pior de tudo hoje. Nessa leva, o dólar dispara, sendo a defesa natural."
Queda acontece no mundo todo
"A queda nas Bolsas está acontecendo em vários países, e não é só o real que está perdendo valor para o dólar", ressalta Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.
Nos EUA, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq registraram forte queda. As Bolsas europeias também tombaram.
As Bolsas asiáticas fecharam em queda de até 3,52% (Coreia do Sul). O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, fechou em queda de 1,17%, enquanto o índice de Xangai recuou 0,89%.
(Com Reuters)
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