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Juros devem demorar para cair, dizem especialistas; como fica seu bolso?

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/09/2022 15h35

A semana está sendo agitada para os bancos centrais: o Fed, dos Estados Unidos, aumentou a taxa de juros em 0,75 ponto percentual, com a taxa anual subindo para 3,25%, e o Banco Central decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano no Brasil. Mas o que isso significa para você e para a economia?

Quando os governos aumentam as taxas de juros - ou mantêm elas em taxas elevadas - isso significa que o custo do dinheiro fica mais alto. Pegar um empréstimo sai mais caro. No fim das contas, menos dinheiro passa a circular na economia, e as pessoas gastam menos. Isso, em tese, teria que forçar os preços a baixar, e a inflação seria controlada.

No Brasil, foi por isso que o BC manteve a taxa de juros nesse patamar alto, de 13,75% - o que já era esperado pelo mercado. "Foi reforçada a intenção de perseverar (com essa taxa) até que o processo de desinflação se consolide e a expectativa (de menor inflação) seja alcançada", publicou o Itaú BBA em documento para investidores.

Veja abaixo quais as consequências desse movimento para seus investimentos.

Por que a Selic foi mantida? Mas o comunicado do BC, no entanto, indicou que essa manutenção pode ser apenas uma pausa para avaliação e não necessariamente do fim do ciclo de aperto monetário.

"A decisão pela manutenção da Selic não foi unânime. Dois membros do Copom votaram a favor de uma alta adicional de 0,25 ponto percentual. Foi a primeira decisão não unânime desde março de 2016", disse a economista da corretora XP, Tatiana Nogueira.

Ou seja: o Banco Central deu uma pausa para ver como tudo pode ficar daqui para frente. Mas também preferiu passar um recado rígido para assustar o mercado. "A estratégia foi de trazer uma mensagem dura para evitar que o mercado passe a antecipar um corte prematuro da taxa no começo do próximo ano", publicou Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital.

O BC sinalizou que, se a inflação não cair além da queda provocada pelo desconto no preço dos combustíveis - e se o cenário internacional piorar -, ele pode voltar a subir os juros.

Como os juros nos EUA impactam a economia brasileira? É aí que entram os juros americanos. "Essa alta de 0,75 ponto percentual é um aumento muito relevante considerando a conduta histórica da política monetária nos EUA. Entre 1990 e 2021, o Fed alterou a taxa de juros em 92 ocasiões, mas em apenas quatro movimentos foram de 0,75 ponto", publicou Francisco Nobre, economista da XP, em relatório para investidores.

E quando os Estados Unidos sobem sua taxa, outros mercados acabam fazendo o mesmo. "Com uma mensagem mais austera do Fed e um mercado que ainda não se ajustou, acreditamos que a pressão sobre os bancos centrais nos mercados emergentes persistirá", analisou Jaime Valdivia, economista-chefe da Galápagos Capital.

A Selic pode subir mais? Vai cair? Há fatores que podem fazer com que a taxa brasileira se mantenha, sem novas altas. Entre eles, está a queda do preço dos produtos básicos (commodities, como minérios e itens agrícolas) no mercado internacional e a diminuição do preço dos combustíveis por aqui, que acabam puxando a inflação para baixo, segundo Pedro Tiezzi, analista da SVN Investimentos, de Maringá (PR).

Resumindo: há forças que puxam os juros para cima e fatores que podem ajudar a manter a Selic estável. E por já estar num patamar bem alto, as possibilidades de que ela continue onde está são muitas, segundo o banco americano Goldman Sachs.

O GS, embora ressalte que ainda exista o risco de uma nova alta de juros nos próximos quatro ou seis meses, aposta mais na estabilidade: "Em nossa avaliação, o cenário mais provável é que o Copom continue estável e paciente e mantenha a taxa básica de juros no atual patamar por um tempo e espere até o final do segundo trimestre de 2023, ou possivelmente até o terceiro trimestre do ano que vem para começar a cortar as taxas", publicou o GS, em documento para o mercado.

Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital, concorda. "A gente acredita que agora o remédio está dado. É uma questão de quanto tempo o BC vai manter isso. Por quanto tempo os juros vão ficar lá em cima", disse. "Acreditamos que seguirão com essa taxa por, pelo menos, uns seis meses, ou seja, a gente vai ver provavelmente o primeiro corte de juro só em maio do ano que vem."

Para Débora, da Tenax, os juros devem ficar parados até o fim do ano e chegarão ao fim de 2023 em torno de 11%.

E como ficam as ações? "Nesse cenário de inflação mais pressionada e provável elevação mais forte dos juros ou manutenção por mais tempo das taxas altas, as empresas ficam muito endividadas, como o setor de tecnologia. As companhias que dependem de ciclos de consumo interno, como varejo, também devem seguir mais pressionadas em um primeiro momento", diz Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, de Goiânia.

É provavelmente por isso que, por volta de 12h30, papéis de varejo estavam em queda na Bolsa. Magazine Luíza (MGLU3) caia 4,21%, para R$ 4,55, e Via (VIIA3), a dona das Casas Bahia, perdia 2,09%, caindo para R$ 3,28.

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