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'Perdi R$ 70 mil num dia, mas hoje ganho R$ 40 mil por mês', diz day trader

Leo Nonato chegou a perder R$ 70 mil no primeiro dia como day trader em 2015, mas hoje dá aulas sobre o assunto - Arquivo pessoal
Leo Nonato chegou a perder R$ 70 mil no primeiro dia como day trader em 2015, mas hoje dá aulas sobre o assunto Imagem: Arquivo pessoal

Vinícius de Oliveira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/12/2022 04h00

O mineiro Leo Nonato achou que ia ganhar muito dinheiro da noite para o dia na Bolsa. Mas ele perdeu R$ 70 mil no primeiro dia como day trader em 2015. Os day traders operam na Bolsa de Valores comprando e vendendo ativos a curtíssimo prazo, geralmente no mesmo dia.

Sem salário fixo, eles conseguem a própria remuneração com essas operações de compra e venda. Nas redes sociais, há diversos relatos de quem supostamente conquistou a tão sonhada independência financeira fazendo isso. No entanto, é uma estratégia bastante arriscada: os ganhos e as perdas podem ser bem altos. Aliás, cerca de 90% das pessoas que tentam comprar e ações no mesmo dia acabam perdendo dinheiro.Veja abaixo histórias de quem transformou essa forma de investir na sua profissão e de quem desistiu do day trade depois de perder dinheiro.

Quis investir R$ 70 mil sem ter conhecimento: Nonato diz que perdeu R$ 70 mil na sua primeira tentativa de fazer trade porque não tinha conhecimento suficiente. Mesmo assim resolveu apostar as próprias economias e acabou perdendo tudo.

"Hoje, as corretoras são muito mais seguras porque elas limitam o tamanho das suas operações dependendo do tanto que você tem investido na carteira. É diferente de quando eu comecei", declara ele. Hoje ele só trabalha com isso e mora em Campinas (SP).

Estudou, melhorou e hoje dá cursos: Depois dessa perda inicial, Nonato resolveu estudar o day trade. Para ele, o maior erro de quem quer entrar nesse mercado é a falta de planejamento. "Quando você não planeja algo, você entra na seara das apostas", afirma Nonato, que atualmente dá cursos e fez mentoria com quase 10 mil alunos.

"O problema não é o day trade. Eu conheço gente que quebrou investindo em renda fixa. Temos que ser superfrancos e transparentes: o problema está mais para a falta de educação financeira do que para o 'mercado malvadão'", declara.

Agora ganha até R$ 40 mil por mês: Nonato conta que os seus ganhos não são fixos, por isso é difícil mensurar quanto ele consegue tirar no mês. "Tem dias que faço R$ 7.000 e no outro perco R$ 4.000. Na média, consigo tirar algo entre R$ 30 mil e R$ 40 mil por mês", afirma.

Foi pedreiro e lixeiro e virou day trader: O paulista Jean Lira, 41, começou a trabalhar como servente de pedreiro em Ribeirão Preto (SP). Depois, ele foi lixeiro, segurança patrimonial, encarregado, torneiro mecânico e representante de vendas antes de entrar para o day trade.

"Professor" levou dinheiro dele embora: Lira revela que se interessou pelo mercado quando conheceu um amigo do irmão dele, que trabalhava com operações na Bolsa de Valores, e que o ensinou sobre investimentos. "Na empolgação do início, dei um bom valor para ele investir e ele sumiu com esse dinheiro", conta.

A grana era fruto da venda de uma casa que Lira construiu, antes de se mudar para o Rio Grande do Sul. Desanimado com a perda do investimento e com as aulas muito básicas, o futuro day trader resolveu em 2018 que iria aprender como negociar na Bolsa por conta própria.

Jean Lira já trabalhou como pedreiro e lixeiro antes de se dedicar ao day trade - Divulgação - Divulgação
Jean Lira já trabalhou como pedreiro e lixeiro antes de se dedicar ao day trade
Imagem: Divulgação

Muitas horas de dedicação: Para realmente se tornar um bom investidor, Lira deixou o emprego que tinha como representante comercial em uma empresa. "No mercado financeiro, para você ser um bom trader, leva no mínimo de três a quatro anos.".

Para apressar isso, diz que estudava das 8h da manhã até às 2h da manhã no escritório de casa. Nesses quase cinco anos de mercado, o day trader conta que já investiu cerca de R$ 70 mil em cursos.

"Precisamos nos capacitar muito, porque é muito difícil. Os ganhos são altos, mas os riscos também", diz.

Faça simulados antes de investir de verdade: Assim como muitos, Lira começou a operar com dinheiro de verdade. Ele considera hoje um grande erro. Há muitos simuladores no mercado, que podem servir de base de estudo para quem deseja investir na Bolsa, antes de entrar para valer.

"Boa parte do capital que eu tinha guardado eu fui perdendo. Meu psicológico ficou abalado. Você não está acostumado a trabalhar o mês inteiro e, no final, perder dinheiro", relembra.

Precisa entender os indicadores das ações: O investidor conta que, na época, se desesperou e chorou na frente da esposa. Foi ela quem o ajudou a recuperar a confiança e não deixou que ele desistisse. "Eu não tinha plano B, tinha que dar certo. E aí eu comecei a ter mais calma, olhar mais e aplicar menos. Descobri como configurar os indicadores para eles fazerem sentido para mim e vi uma luz no fim do túnel", conta.

Os indicadores são índices que as plataformas de operação oferecem, que vêm com configurações prontas. Quando ele começou a estudar melhor como eles funcionavam, começou a parar de perder dinheiro e a fechar o mês no positivo.

Cuidado com a ganância: Ao se especializar em indicadores, hoje o Lira dá aulas sobre o assunto para outros day traders e é chamado de "o mestre dos indicadores". Ele conta que começou a ganhar muito dinheiro e passou a esnobar pequenos lucros. Por isso, começou a investir mais e, como consequência, passou a perder mais.

"Cheguei a ficar 63 dias sem perder dinheiro. Aí voltei a fechar o mês negativo. Tive uma perda de capital grande. Foi quando voltei às origens, voltei a investir pequeno, gerenciando melhor o meu risco", diz. Para ele, a ganância é o que precede a ruína de quem investe em day trade.

Perdeu dinheiro e nem conseguia pagar as contas: Uma das críticas ao mercado de day trade é que as promessas de lucro são grandes, mas muita gente acaba perdendo valores altos. É o caso do consultor de projetos Gustavo Bicalho, 44 anos, de Belo Horizonte. Em 2016, ele resolveu arriscar e tentar viver apenas de investimentos na Bolsa de Valores.

Gustavo Bicalho Day Trader - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Gustavo Bicalho: "Eu sinto que caí no conto do vigário e perdi três anos da minha vida"
Imagem: Arquivo pessoal

"Eu entrei sem um valor reservado, e isso me atrapalhou muito. Você tem um processo de aprendizado, que pode demorar alguns anos. E nesse período você tem que se sustentar. A aflição de ganhar dinheiro urgente acaba te atrapalhando", disse.

Bicalho até chegou a ganhar dinheiro com day trade, mas não o suficiente para pagar suas despesas —se ele precisava de R$ 4.000 por mês, ele conseguia fazer algo em torno de R$ 2.000, por exemplo. O consultor desistiu do mercado depois de pegar um dinheiro emprestado com um familiar, para conseguir investir mais e impulsionar suas operações, mas acabou perdendo tudo.

Não se iludam com as redes sociais: Bicalho conta que hoje ainda faz operações na Bolsa, mas "apenas o suficiente para a cervejinha". O que ele recomenda é que as pessoas não se iludam com o que é prometido nas redes sociais.

"Caí no conto do vigário": "Eu sinto que caí no conto do vigário e perdi três anos da minha vida. Day trade é uma modalidade de investimento, longe de ser a melhor. Não é o milagre que se vende", afirma.

Começou ganhando R$ 50 por dia e hoje dá aula: A day trader Ariane Campolim diz que tem lucros diários e hoje dá aulas. Ela estuda o setor desde 2013, mas começou a investir somente em 2018.

Ariane Campolim Day Trader - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ariane Campolim
Imagem: Arquivo pessoal

Para entrar no mercado, ela contou com o dinheiro de uma rescisão após deixar o trabalho em uma instituição bancária. No entanto, a maior parte desse valor, de R$ 30 mil, foi gasta em cursos para aprender sobre day trade.

"No começo, eu fazia algo em torno de R$ 50 a R$ 100 por dia e era uma alegria", relembra.

Ariane também dá aulas no YouTube e conta que sua meta é ajudar as pessoas a saírem do sufoco, fazendo dinheiro para pagar as contas do dia a dia.

90% dos traders têm prejuízo: De acordo com um estudo encomendado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), cerca de 90% das pessoas físicas que entram no mercado de day trade acabam tendo prejuízo.

O trabalho, coordenado por professores da EESP-FGV (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas), constatou que, entre as pessoas físicas que atuam como day traders, 91% fecharam o período analisado com prejuízo.

Apenas 0,8% tiveram lucro diário superior a R$ 300 no período. O lucro das pessoas jurídicas com o day trading saltou de R$ 5 milhões para R$ 110 milhões no mesmo intervalo.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Leo Nonato é mineiro, e não paulista. Ele nasceu em Belo Horizonte e mora atualmente em Campinas (SP). A informação foi corrigida.