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Quebra do Silicon Valley Bank vai afetar os seus investimentos?

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/03/2023 15h14

A falência de uma instituição financeira como o Silicon Valley Bank, que não acontecia desde a crise de 2008, enviou ondas de choque ao mundo financeiro. Como a quebra desse banco americano pode afetar os bancos e investidores aqui no Brasil?

O maior risco é uma reação em cadeia, dizem especialistas. As ações de grandes bancos americanos estão em queda hoje. No entanto, como o Tesouro americano assegurou o resgate dos recursos dos clientes do SVB, esse risco diminui.

Investidores devem ficar ainda mais temerosos com risco. Isso pode prejudicar investimentos na Bolsa e na renda variável. Mas economistas já enxergam mudanças e preveem que o banco central americano pode começar a diminuir os juros no médio prazo.

Qual o impacto nos bancos?

Risco é efeito cascata. O sistema financeiro é todo interligado, diz William Castro Alves, estrategista chefe da Avenue. "Se você deposita em um banco, esse banco pode estar securitizado (segurado) por fundos ou títulos emitidos por outros bancos", declara ele

Grandes bancos estão em queda hoje. As ações da Wells Fargo estão em queda de 5,72% hoje, o Bank of America cai 3,22%, o Citigroup está em queda de 5,93% e o JP Morgan, de 0,45%.

No pregão desta segunda-feira (13), alguns pequenos bancos brasileiros tinham queda. Por volta das 13h, o Banco ABC Brasil (ABCB4) tinha queda de 3,58% para R$ 17,50. O Banco do Estado de Sergipe (BGIP4) caia 3,30% para R$ 17,89. Por outro lado, outras instituições, como o NuBank (NUBR33), subiam 2,60% para R$ 3,95.

Mas ações de grandes bancos podem ganhar. Os bancos grandes, como JP. Morgan, Credit Suisse e Citigroup, podem se valorizar. Isso porque os clientes podem sair de bancos menores e concentrar seu dinheiro nos grandes. Isso também pode fazer com que as BDRs, recibos de ações americanas negociadas na Bolsa brasileira, se valorizem.

Mercado de startups pode sofrer. De acordo com a Bloomberg Línea, startups brasileiras usavam o banco para receber investimentos estrangeiros. Na semana passada, tinham dúvidas se conseguiriam resgatar o dinheiro para pagar salários.

Mas, mesmo que essas empresas brasileiras tivessem dinheiro no banco, o governo americano garantiu no domingo que elas poderiam receber seu dinheiro. "Acabou gerando uma histeria em massa injustificável", diz Bernardo Brites, presidente da Trace Finance, que opera com câmbio para startups brasileiras.

O maior problema pode ser a dificuldade de conseguir novos investimentos, já que investidores vão buscar ativos mais seguros.

A preocupação é que a mesma coisa aconteça com outras fintechs brasileiras
Charo Alves, especialista da Valor Investimentos

Fintechs brasileiras já se posicionaram sobre o assunto. O Nubank informou hoje que não tem "qualquer exposição ao Silicon Valley Bank", nem nenhuma de suas subsidiárias.

O banco C6 também informou que "nunca teve nenhum tipo de relacionamento ou exposição" ao SVB. O PagBank PagSeguro (NYSE: PAGS) informou que também não tem exposição ao banco americano, nem qualquer de suas controladas.

Qual será o impacto nos investimentos?

Ações devem sofrer no curto prazo. "A aversão a risco pode afetar todos os pequenos bancos, principalmente os que operam nesse nicho de startups, porque ela pode gerar um resgate em massa", afirma Alves.

"Alguns investidores mais arrojados veem que essa é uma boa hora para comprar porque o preço cai. Mas a recomendação para quem tem ações de bancos menores agora é não vender. Esperar um preço melhor", diz o estrategista da Avenue.

BDRs de grandes empresas de tecnologia americanas, como Apple, Microsoft e Meta, dona do Facebook, não devem ser afetadas. Elas estão entre os investimentos queridinhos dos brasileiros no exterior. Isso porque o Silicon Valley Bank era voltado a startups, empresas que estão no início do seu crescimento, e essas gigantes já estão consolidadas no mercado e não teriam muita exposição ao banco.

Para quem tem investimentos no exterior, a dica é buscar empresas mais sólidas em detrimento das que ainda estão em crescimento, segundo os analistas.

Renda fixa se valoriza. Com fuga de investimentos de risco, esses papéis podem subir, diz Castro Alves.

O dólar também é uma boa proteção, segundo os analistas. Isso porque quando há algum tipo de crise, os investidores buscam moedas mais seguras.

O que pode acontecer com os juros nos EUA?

Juros americanos podem ser afetados. Quando essa alta do juros - como agora - começa afetar o sistema financeiro, o mercado começa a acreditar que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, vai ser forçado a pôr um pé no freio da alta de juros, para evitar maiores danos

A previsão de juros nos EUA para daqui dois anos era de 5,10% ao ano antes desse evento do SBV. Agora já está em 4,10%, diz o especialista da Avenue.

Com queda dos juros no futuro, isso poderá favorecer o mercado de ações. Empresas terão mais meios de financiar seu crescimento, diz Heitor Martins, especialista em renda variável na Nexgen Capital.

O que aconteceu com o Silicon Valley Bank

O Silicon Valley Bank era um banco focado em startups e em venture capital, que é o investimento nessas startups em fase de crescimento.

Garantia estava no valor de startups. Parte das garantias desses empréstimos estava em ações e participação nessas startups, o que perdeu muito valor nos últimos meses, diz Heitor Martins, especialista em renda variável na Nexgen Capital. Além disso, com juros altos, as aplicações - principalmente em ações - rendem bem menos. E o SBV teve prejuízo com isso.

Aumento de juros levou startups a ficarem sem dinheiro. As startups não conseguiam mais pegar precisaram empréstimos de dinheiro e começaram a sacar recursos que estavam no SVB.

O banco ficou sem recursos para bancar todos os resgates. Na quinta-feira (9), os clientes fizeram saques de US$ 42 bilhões e o banco fechou para evitar a falência.

O SVB teve no dia 10 de março seus ativos bloqueados pela FIDC (Federal Deposit Insurance Corporation), agência governamental dos EUA responsável pela proteção dos depositantes e pela estabilidade do sistema bancário do país.

Governo americano lança socorro. No domingo (12), o Tesouro dos Estados Unidos e o Fed, o banco central americano, entraram em jogo e prometeram proteger os depósitos dos clientes no banco, além dos limites já assegurados pelo governo.

Sem esta ação do governo, os clientes poderiam ter grandes prejuízos.

Haddad descarta crise sistêmica. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o colapso do banco não parece suficiente para gerar uma crise em todo o sistema bancário. Mesmo assim, o ministro reconheceu que ainda não há informações suficientes para dimensionar o problema criado pelo episódio. "Não vi ninguém ainda tratar desse episódio como um Lehman Brothers, mas o fato é que é grave o que aconteceu", disse ele nesta segunda-feira.

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