BRF surfa alta na Bolsa: está na hora de comprar ações de carne?
Enquanto o Ibovespa está no campo negativo este ano, com queda de 6%, a BFR (BRFS3) surfa uma onda de alta. O papel da dona da marca Sadia acumula ganhos de 21,07% no ano, segundo a Investing.com (até 03 de maio).
Já outras estão em queda. A Marfrig, que no primeiro trimestre acumulava ganhos de 6%, agora tem queda de 0,93% no ano. Também estão no negativo Minerva (BEEF3), com queda de 16,35% e JBS (JBSS3), que caiu 4,22%. Mesmo assim, há grandes bancos, como o americano Goldman Sachs, recomendando a compra de JBS e de Minerva.
O que está acontecendo?
BRF e Marfrig anteciparam a compra de grãos, o que garantiu menos custo para elas. Os grãos são usados para alimentar os animais. "A Ucrânia, por exemplo, um dos maiores produtores de trigo do mundo, por mais de um semestre, teve o fornecimento comprometido", explica Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital.
Assim, as duas empresas escaparam do aumento de preços. É o que explica Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais. "Dessa maneira, as duas empresas conseguiram diminuir custos e melhoraram suas margens e tiveram bons resultados", diz ela.
A dona da marca Sadia teve o primeiro lucro depois de nove trimestres no negativo. No quarto trimestre de 2023, lucrou R$ 754 milhões, saindo de um prejuízo de R$ 956 milhões em igual período de 2022. Todas as companhias apresentam resultados do primeiro trimestre de 2024 na segunda quinzena de maio.
A Marfrig também saiu do vermelho. A dona das marcas Bassi e Montana terminou o quarto trimestre de 2023 com lucro líquido de R$ 12 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 628 milhões registrado um ano antes.
Mas a JBS teve queda no lucro. A empresa ficou com ganhos de R$ 83 milhões no quarto trimestre, queda de 96% em relação ao mesmo intervalo de 2022.
A Minerva teve um bom quarto trimestre. A maior exportadora de carne bovina da América do Sul encerrou o período com lucro líquido de R$ 19,8 milhões, contra um prejuízo líquido de R$ 25,7 milhões em igual intervalo de 2022.
Mas o dólar no ano passado não ajudou. JBS e Minerva, como são exportadoras ou têm muitas operações fora do país, sofreram com a queda do dólar em 2023. A moeda teve baixa de 8,08% no ano, a maior queda anual desde 2016.
O que muda agora?
O dólar está em alta. A previsão da maioria dos analistas é de que a divisa chegue ao final do ano valendo de R$ 5,30 a R$ 6. Por isso, muitas casas de análise estão recomendando a compra de ações de frigoríficos.
A tendência é de retomada da demanda. É o que publicou a Planner Investimentos, em documento para investidores. Para JBS, segundo o relatório, deve haver gradual melhora de rentabilidade em 2024.
Vale a pena investir?
É o que diz também o Goldman Sachs. O banco aumentou o preço alvo dos papeis da JBS de R$ 29,2 para R$ 32,4 (estimativa para 12 meses). O banco americano espera "forte recuperação dos lucros em 2024".
O GS também recomenda compra de Minerva. Mas mesmo apostando em compra, ele diminuiu o preço alvo para a ação. "Temos classificação de compra para as ações da Minerva, com preço-alvo de 12 meses de R$ 8,00 a ação, queda de 13% em relação aos R$ 9,20 anteriores", disse no relatório o analista do banco, Thiago Bortoluci. O que pode interromper a tendência de alta da empresa, segundo ele, é a China. Pode ser, segundo ele, que o consumo por lá caia este ano.
Das quatro ações, JBS é a preferida de Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital. "BRF teve um resultado bom porque a Marfrig comprou uma parte dela", diz ele. No ano passado, a Marfrig ultrapassou 50% do capital da BRF. A empresa de Marcos Molina passou de 33,2% do negócio para 50,06% em pouco menos de meio ano. "Isso gerou caixa para a BRF e por isso não quer dizer que ela vai continuar a ter bons resultados daqui para frente", diz o especialista.
Marfrig também não é a escolhida de Corano, da Corano Capital. "O lucro de R$ 12 milhões para uma empresa que fatura bilhões é a mesma coisa do que zero. De qualquer forma é melhor do que os prejuízos que ela vinha tendo.A indústria de alimentos, em geral, é super lucrativa", diz ele.
O Banco do Brasil, porém, gosta da ação. "Apesar da continuidade do cenário negativo para bovinos nos Estados Unidos, entendemos que a Marfrig poderá contornar algumas das adversidades e entregar números mais alinhados às nossas estimativas para esta operação nos próximos resultados", publicou o BB, que tem preço alvo de R$ 12 para o papel. Atualmente, o ativo está cotado a R$ 10,23.
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