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ONU alerta contra planos de austeridade por ameaçar desenvolvimento de países pobres

Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres, assina o documento - Fabrice Coffrini/AFP
Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres, assina o documento Imagem: Fabrice Coffrini/AFP

25/01/2023 16h18Atualizada em 25/01/2023 16h19

Apesar de previsões de crescimento econômico pessimistas para 2023, agora não é o momento de implementar planos de austeridade que ameacem as metas de desenvolvimento, em particular nos países pobres, disse a ONU em um relatório publicado hoje.

O Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas prevê um crescimento mundial de apenas 1,9% este ano, "uma das taxas mais baixas das últimas décadas".

O Banco Mundial já revisou fortemente para baixo seu prognóstico: 1,7% para 2023, frente a 3% de junho do ano passado, devido à persistente inflação, a alta das taxas de juros e os efeitos da guerra na Ucrânia.

Mas "este não é o momento para o pensamento a curto prazo ou a austeridade fiscal que exacerba a desigualdade, aumenta o sofrimento e corre o risco de afastar os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), aponta o secretário-geral da ONU, António Guterres, na introdução do relatório.

Os 17 ODS adotados em 2015 buscam conseguir até 2030 a erradicação da pobreza, segurança alimentar para todos e acesso a energia limpa e barata.

Uma cúpula em setembro, em Nova York, avaliará a situação atual dos ODS. Mas a maioria deles não está perto de ser alcançada.

E "o crescimento mais lento, a inflação elevada e as crescentes vulnerabilidades da dívida ameaçam retroceder ainda mais conquistas de ODS obtidas com tanto esforço, aprofundando os efeitos já negativos da pandemia de covid-19", alerta o documento.

Seu autor principal, Hamid Rashid, diz que "nesse cenário, a receita típica dos economistas seria cortar o gasto público" e indica que alguns governos já foram chamados a "apertar o cinto".

Por outro lado, "nossa mensagem chave no relatório é que os governos dos países em desenvolvimento, especialmente, devem evitar a austeridade", o que "seria extremamente prejudicial para os ODS", explicou à AFP.

Nesse contexto, Rashid defende uma reestruturação da dívida dos países com problemas, antes que entrem em default.

De acordo com o relatório, em 2022, em oito países em desenvolvimento, a carga da dívida representou mais de 25% da renda do governo, chegando a 80% no caso do Sri Lanka.

A ONU também está preocupada pelo risco de uma redução da ajuda ao desenvolvimento.

A guerra da Ucrânia e uma futura reconstrução estimada entre 350 e 500 bilhões de euros "desviarão alguns recursos", afirma Rashid, que teme "um grande revés para os países de baixa renda".

Em setembro, o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) estimou que o mundo havia retrocedido cinco anos em desenvolvimento humano como consequência de uma crise sem precedentes.