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O que significa o surpreendente 'cessar-fogo' entre EUA e UE após ameaças de guerra comercial

26/07/2018 18h56

O governo dos EUA e a União Europeia (UE) decidiram dar uma "trégua" na guerra comercial e trabalhar por tarifas alfandegárias mais baixas, em um esforço qualificado pelo presidente americano, Donaldo Trump, como um "entendimento muito sólido".

Trump e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, anunciaram uma "nova fase" nas relações entre Estados Unidos e União Europeia após reunião na Casa Branca nesta quarta-feira (25).

A ameaça de Trump de impor tarifas sobre carros produzidos na Europa foi posta de lado e a União Europeia planeja comprar mais gás natural e soja americanos.

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Um comunicado conjunto dos dois líderes afirmou que ambos concordaram em "trabalhar juntos na direção de tarifas zero para importação e exportação e subsídios zero para produção de bens industriais não automotivos".

No entanto, tarifas para importação de aço, de 25%, e alumínio, de 10%, impostas pelos Estados Unidos em março, seguirão valendo.

Um grupo de trabalho de assessores das duas partes se reunirá para encontrar meios de facilitar o comércio e diminuir barreiras. Os dois lados se comprometeram a evitar qualquer nova restrição comercial durante tais negociações.

Como a guerra começou?

A guerra comercial foi deflagrada em março deste ano, depois que Trump anunciou suas primeiras medidas protecionistas.

As relações entre Estados Unidos e Europa se desgastaram ainda mais após gestos de Trump favoráveis ao presidente Russo, Vladimir Putin, e os ataques dele à Otan e à própria União Europeia.

Trump mostrou entusiasmo após o encontro com Juncker, em contraste com seu tom agressivo adotado anteriormente, quando ele qualificou a União Europeia como "inimiga" nas relações internacionais.

O americano passou a enfrentar pressão doméstica por causa das tarifas retaliatórias impostas aos produtos dos EUA por China, União Europeia, Canadá e México. Na última terça-feira, o republicano anunciou auxílio de US$ 12 bilhões para fazendeiros americanos cujos negócios foram prejudicados por essas barreiras alfandegárias.

O que prevê a trégua?

"Estamos iniciando a negociação agora, mas sabemos muito bem para onde vamos caminhar", disse Trump, na Casa Branca. "É um grande dia para o comércio livre e justo", acrescentou.

Juncker agradeceu o presidente americano e comemorou o que classificou como uma "reunião construtiva".

Trump afirmou que a União Europeia se tornaria um "grande comprador" de gás natural americano. O comunicado dos líderes afirma que a Europa deve realmente aumentar seu consumo de gás americano, para diversificar suas fontes de energia.

O líder americano condenou as intenções da Alemanha de expandir importações de gás natural da Rússia, via um novo gasoduto báltico.

"A União Europeia vai comprar muita soja dos nossos fazendeiros, especialmente os do Meio Oeste", disse Trump.

Alívio após meses de turbulência

Segundo Adam Fleming, repórter da BBC em Bruxelas, trata-se de um cessar-fogo, não um tratado de paz.

No longo prazo, ambos os lados concordaram em negociar as questões comerciais. Enquanto isso, nenhum deles vai introduzir novas tarifas, o que significa supostamente que Trump não cumprirá sua ameaça de taxar carros europeus importados.

Juncke vai precisar, por sua vez, da aprovação dos estados-membros do bloco, que têm interesses nacionais diferentes. E será que ele realmente tem o poder de fazer a economia europeia importar mais grãos de soja?

De uma maneira geral, são apenas palavras cordiais, mas após alguns meses de relações transatlânticas turbulentas, têm seu valor.

A dupla também concordou em trabalhar pela reforma da OMC (Organização Mundial do Comércio). Trump acusa a OMC de tratar injustamente os EUA --embora o país tenha vencido a maior parte das disputas de arbitragem.

Como repercutiu o acordo?

Pelo Twitter, a comissária de Comércio da União Europeia, Cecilia Malmstrom, disse que os dois líderes estavam "virando uma página" nas relações comerciais, enquanto o ministro da Economia da Alemanha, Peter Altmaier, considerou um "avanço".

Outros, no entanto, foram mais cautelosos. "Juncker mostrou em Washington que não se trata de quem tuita de forma mais agressiva, mas sobre quem oferece soluções reais. Porque a base de Trump também sente que só perde quando impomos cada vez mais tarifas sem sentido uns aos outros", tuitou Heiko Maas, ministro alemão de Relações Exteriores.

A política "America First", de Trump, fez do republicano um feroz crítico da proposta de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP, na sigla em inglês), entre os EUA e a UE, que está paralisada. Mas seu "acordo" com Juncker ecoa parte das ambições do TTIP.

Anthony Gardner, ex-embaixador dos EUA na UE, lembrou esse ponto em um tuíte.

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