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O desafio triplo da economia dos EUA que ameaça retomada pós-pandemia

Caminho para recuperação econômica após impacto da pandemia encontrou alguns obstáculos nos EUA - Getty Images
Caminho para recuperação econômica após impacto da pandemia encontrou alguns obstáculos nos EUA Imagem: Getty Images

Cecilia Barría - BBC News Mundo

20/10/2021 07h47

A economia dos Estados Unidos está se recuperando após o cataclismo causado pela pandemia covid-19.

Se a previsão do Federal Reserve, o banco central americano, se concretizar, de um crescimento econômico de 5,9% para este ano, isso seria o maior desde 1984.

No entanto, embora a decolagem econômica esteja avançando, o caminho não está claro.

A inflação atingiu seu ponto mais alto em 13 anos, há escassez de alguns produtos devido a problemas nas cadeias de abastecimento globais e menos pessoas estão dispostas a entrar no mercado de trabalho.

Esse cenário ocorre enquanto a variante delta do coronavírus continua a se espalhar fortemente, apesar do extenso programa de vacinação existente no país.

Mais de 700 mil pessoas perderam a vida durante a pandemia nos EUA. A maioria dos que morreram nos últimos meses não havia sido vacinada.

"O primeiro grande desafio econômico é controlar a pandemia. E, para isso, temos que vacinar o maior número possível de pessoas", diz David Wilcox, pesquisador do Peterson Institute for International Economics em Washington DC.

"Se deixarmos para trás os temores causados pelo vírus, muitos dos outros problemas econômicos serão resolvidos", acrescenta ele, em entrevista à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.

Esses são alguns dos maiores desafios que a economia dos EUA enfrenta neste momento para estimular a recuperação.

1. Inflação

Um dos grandes debates econômicos que existem hoje nos Estados Unidos é o da inflação.

Os últimos dados disponíveis indicam que em setembro os preços subiram a uma taxa anual de 5,4%, a maior em mais de uma década.

Até agora, o Federal Reserve repetia que a inflação alta é um fenômeno transitório, mas outros economistas acreditam que pode ser um problema de longo prazo.

O Fed indicou que poderia começar a diminuir seu estímulo monetário no fim deste ano, provavelmente desacelerando as compras de títulos primeiro e depois aumentando as taxas de juros, que atualmente estão praticamente próximas a zero.

Nos bastidores, os opositores da agenda econômica do governo Joe Biden usaram o aumento da inflação como um dos argumentos para descrever seus planos de expandir os gastos fiscais como "excessivos".

As pessoas estão sentindo no bolso o aumento dos gastos com alimentação, moradia e gasolina, entre outros.

E as preocupações com o aumento do aluguel e dos preços das casas tornaram-se uma bússola para ajudar a prever se a inflação se manterá mesmo após o fim da pandemia.

2. Escassez de produtos

Igualmente complicados são os problemas nas cadeias de abastecimento de produtos em todo o mundo. Há poucos dias o presidente Biden anunciou que o Porto de Los Angeles passará a "operar 24 horas por dia, sete dias por semana" como forma de facilitar o fluxo de mercadorias.

O consenso entre os especialistas da área é que a chamada "crise dos contêineres" não será totalmente resolvida até o próximo ano. Os mais pessimistas acreditam que pode se estender até o início de 2023.

Mas os mais otimistas acreditam que o atraso na chegada e distribuição dos produtos nos portos do país é um sinal de que a recuperação econômica está ganhando força.

O problema é que muitas empresas não têm como importar seus produtos, seja porque não encontram espaço nos navios de carga, seja porque não podem pagar preços inesperadamente altos para transportá-los.

"O colapso da pandemia provocou uma grande mudança na demanda, do consumo de serviços para o de produtos físicos", explica Wilcox.

Em pouco tempo, a cadeia de suprimentos ficou sobrecarregada porque as pessoas queriam mais comprar coisas do que gastar em viagens, restaurantes ou outros tipos de serviços.

Essa demanda por produtos de consumo causou escassez de estoques e, de repente, embarques e portos, acrescenta o economista, não conseguiram dar conta daquele aumento de volume.

O que preocupa é que o aumento da inflação, as dificuldades no mercado de trabalho e a escassez de alguns produtos "são problemas interligados", diz Wilcox.

3. Mercado de trabalho

O mercado de trabalho é outro desafio da economia. Os americanos estão deixando seus empregos a uma taxa recorde que atingiu 4,3 milhões de pessoas em agosto, quase 3% da força de trabalho.

É um fenômeno conhecido como "a grande renúncia", outra das consequências econômicas deixadas pela pandemia.

E embora o abandono de empregos ocorra em diferentes níveis, ele se tornou mais evidente nos empregos com salários mais baixos e nos quais as pessoas estão mais expostas ao contágio por covid.

O exemplo mais simbólico é o das cadeias de fast food. Uma delas, a Pollo Tropical, da Flórida, ofereceu bônus extra de US$ 500 a novos funcionários, independente do salário.

Grandes redes, como Walmart ou Target, também passaram a oferecer tais vantagens, além de aumento salarial e outros incentivos como o pagamento de estudos superiores em determinados centros de ensino.

O número de pessoas deixando seus empregos indica que os salários vão subir a uma taxa anual entre 4% e 4,5%, escreveu Michael Pearce, economista da consultoria Capital Economics.

Se o crescimento da força de trabalho permanecer lento, alertou, isso pode contribuir para o aumento da inflação ou mesmo se tornar "um obstáculo duradouro à atividade econômica".

A verdade é que o mercado de trabalho se tornou um enigma.

"Muitos trabalhadores não estão dispostos a retornar ao mercado de trabalho, especialmente se o local de trabalho exigir um contato próximo com clientes ou colegas", explica Wilcox.

E isso acontece apesar do fato de que os salários estão crescendo.

Do ponto de vista deles, ter a pandemia sob controle tornará os trabalhadores mais dispostos a retornar aos seus empregos.

"Também fará com que os consumidores voltem a demandar mais serviços e, quando o fizerem, isso diminuirá a pressão na cadeia de abastecimento. E quando a pressão na cadeia de abastecimento for liberada, parte das pressões inflacionárias diminuirão", explica o economista.

"Esses problemas estão todos relacionados."