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Oásis do bem-estar social está prestes a sofrer choque cultural

Peter Levring e Nick Rigillo

31/08/2017 12h28

(Bloomberg) -- Um ex-ministro da Cultura, também um dos membros mais ricos do governo da Dinamarca, quer promover uma revolução socioeconômica e combater o vício do país no bem-estar social.

Brian Mikkelsen, atual ministro de Negócios da Dinamarca, apresentou nesta semana medidas destinadas a convencer as famílias a colocarem uma fatia maior de suas economias no mercado de ações e a trabalharem mais horas. As propostas defendidas pelo governo de centro-direita representam alguns dos maiores cortes de impostos em uma geração.

As iniciativas reduzirão a carga tributária mais pesada do mundo rico (os últimos números da OCDE mostram que os impostos dinamarqueses representaram cerca de 47 por cento do PIB em 2015) e incentivarão o espírito de tomada de risco e autoconfiança, normalmente não associado aos estados de bem-estar social escandinavos.

"Queremos avançar em direção a uma cultura na qual as pessoas sejam mais independentes", disse Mikkelsen em entrevista em Copenhague, na quarta-feira. "Queremos recompensar aqueles que criam seus próprios negócios e oferecer melhores condições a eles."

Críticas da oposição

A Aliança Vermelho e Verde, de esquerda, criticou as últimas propostas, que classifica como "uma enorme mentira aos eleitores" já que tornam "muito claro que o governo está cuidando dos interesses dos ricos", disse a porta-voz Pernille Skipper. "O bem-estar está sendo engavetado enquanto o dinheiro é gasto em redução de impostos para os mais ricos", disse Skipper por e-mail, na quinta-feira.

A crítica ressoa dentro do Partido Popular Dinamarquês, que oferece um apoio crucial ao governo no Parlamento e pode tentar diluir suas propostas na tramitação legislativa.

Mas Mikkelsen afirma que uma economia mais baseada no mercado é a única forma de salvar o bem-estar social dinamarquês.

"O combustível que impulsiona o bem-estar da sociedade é o fato de as pessoas irem ao trabalho todos os dias", disse ele. "Queremos ter bons hospitais e financiar aqueles que são incapazes de se sustentar, mas só podemos fazer isso se as pessoas quiserem trabalhar." Ele afirma que o argumento de que não se pode ter reduções de impostos e um bem-estar melhor é "completamente louco".

A Dinamarca já aparece bem nos rankings de facilidade para fazer negócios. E alguns economistas questionam se este é o momento de reduzir impostos. As taxas de juros são negativas há meia década, os preços das residências estão se aproximando dos picos pré-crise e estão se formando gargalos no mercado de trabalho.

Coquetel perigoso

Jacob Graven, do Sydbank, sugere que a adição do estímulo fiscal a esse coquetel pode ser perigosa.

A economia cresceu a uma taxa anual de 2,7 por cento no segundo trimestre (depois de registrar taxas semelhantes nos dois trimestres anteriores) e o governo elevará suas perspectivas econômicas para este ano e o próximo, segundo documentos vistos pela Bloomberg que devem ser publicados nesta quinta-feira. O país também precisará tomar mais empréstimos por meio dos mercados de títulos de dívida para cobrir a lacuna deixada pela receita tributária menor, segundo o Ministério das Finanças.

"O foco desta reforma é aumentar as vantagens de trabalhar em comparação com não trabalhar", disse Mikkelsen. "Esses números são todos muito impessoais, mas acreditamos que a reforma também deverá criar uma mudança de mentalidade, porque o incentivo para trabalhar se tornará muito maior."