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Bunkers armazenam US$ 10 bi em bitcoin para clientes ricos

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Imagem: Divulgação

Tom Metcalf

09/05/2018 12h05

(Bloomberg) -- Atrás dos guardas e das portas blindadas, passando por corredores de concreto armado, ficam os servidores de computadores criptografados - sem nenhuma conexão - que guardam as chaves de uma grande fortuna digital.

O empreendedor argentino Wences Casares passou os últimos anos convencendo milionários e bilionários do Vale do Silício de que o bitcoin é a moeda global do futuro, de que eles precisam comprá-lo e de que ele é a pessoa certa para protegê-lo. Sua startup, Xapo, construiu uma rede de cofres subterrâneos em cinco continentes, inclusive um em um bunker militar suíço desativado.

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No exclusivo mundo da administração de fortunas, a Xapo é famosa por contar com uma lista de clientes repleta de family offices e por permitir que, de vez em quando, algum jornalista dê uma olhadinha em uma de suas fortalezas para escrever sobre sua segurança. No entanto, um segredo nunca foi revelado: quanto dinheiro digital a companhia realmente armazena?

Dois clientes da Xapo disseram que a companhia abriga cerca de US$ 10 bilhões em bitcoin. Outra pessoa próxima ao empreendimento disse que esse número é uma boa aproximação. Afinal, o preço do bitcoin não é estável.

'Paciente zero'

Mesmo no rico mundo da criptografia, a quantia é notável - totalizando cerca de 7% da oferta global de bitcoin. Isso significaria que a Xapo, existente há apenas 4 anos, tem mais "depósitos" do que 98% dos cerca de 5.670 bancos nos EUA. Mas, como custodiante, ela é regulada de maneira diferente.

A subsidiária suíça é supervisionada pela Associação de Normas de Serviços Financeiros, que regula a si mesma e controla os membros para garantir o cumprimento das normas contra lavagem de dinheiro. A Xapo atende a clientes dos EUA por meio de uma corporação de Delaware registrada na Rede de Combate aos Crimes Financeiros do Departamento do Tesouro dos EUA e licenciada em vários estados.

Os ativos descomunais ressaltam a fé depositada em Casares - um empreendedor obstinado apelidado de "Paciente Zero" por ter despertado o interesse do Vale do Silício pelo bitcoin - por seus acólitos e por grandes empresas de investimento em criptografia, como Grayscale e CoinShares.

"Todo mundo que não guarda as próprias chaves deixa-as com a Xapo", disse Ryan Radloff, da CoinShares, que tem mais de US$ 500 milhões de bitcoin armazenados na Xapo. "Eu não as guardaria em um banco por dinheiro nenhum."

Entre os financiadores bilionários da Xapo estão o cofundador do Linkedin Reid Hoffman e o ex-trader de Wall Street Mike Novogratz, que está no processo de montar seu próprio banco mercantil de criptomoedas. Eles apostam que o bitcoin chegou para ficar, assim como seu maior flagelo, o roubo.

Custódia

A primeira regra de possuir um bitcoin é manter em segurança sua chave privada - o código que permite que você gaste esse dinheiro. Se um ladrão obtiver essa chave, ele poderá roubar suas posses num piscar de olhos, e não há esperanças de poder recuperá-las. Guardar as chaves em um aparelho conectado à internet é tão prático quanto perigoso: hackers provaram que são hábeis para obtê-las à distância.

A solução da Xapo é enterrar um dispositivo de armazenamento sem conexão externa em uma encosta sob camadas de proteção eletrônica.

"Eles foram os primeiros a perceber que as funções de custódia e segurança seriam fundamentais", disse Hoffman, cuja empresa de capital de risco Greylock Partners liderou um investimento de US$ 20 milhões na Xapo em 2014, alguns anos depois de Casares convencê-lo a comprar seu primeiro bitcoin. "Ele fez a apresentação de manhã e à tarde liguei para ele com uma oferta."

Casares, de 44 anos, não quis comentar para esta reportagem. Depois de uma enxurrada de publicidade no lançamento da Xapo, ele atraiu grandes públicos em conferências sobre criptografia, mas fugiu de entrevistas à imprensa.

--Com a colaboração de Yalman Onaran.