Boeing pode ser multada por não consertar luz em cabine do 737 Max
Resumo da notícia
- Em 2017, engenheiros da Boeing descobriram que uma luz de aviso do 737 Max não funcionava em 80% dos aviões
- Empresa optou por não consertar nem informar autoridades reguladoras dos EUA
- Ausência da luz de alerta infringe regras da Administração Federal de Aviação dos EUA
- Boeing pode ser punida com multa de milhões de dólares
- Em 2018, um jato da Lion Air teve o problema que o alerta deveria detectar e caiu
- Acidentes com o 737 Max mataram 346 pessoas, suspenderam voos com o avião e custaram cerca de US$ 18,6 bilhões à Boeing
(Bloomberg) — Em 2017, engenheiros da Boeing descobriram que, por causa de uma falha de software, uma luz de aviso no recém-lançado 737 Max não funcionava em 80% dos aviões. Mas a empresa optou por não consertar ou informar autoridades reguladoras dos Estados Unidos.
No ano seguinte, um jato da Lion Air apresentou o problema que o alerta deveria detectar e caiu no mar de Java. A falta do alerta foi citada como um fator no acidente por investigadores indonésios. A falha da Boeing em corrigir o problema provocou críticas de políticos e famílias das vítimas.
Agora, a falta da luz de aviso ameaça se tornar uma nova dor de cabeça para a fabricante de aviões: sua ausência no jato violou os regulamentos da Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA. A FAA avalia impor multas, de acordo com documentos e autoridades, que podem chegar a milhões de dólares.
"Um fabricante não pode alterar as características do avião depois de ter sido certificado", disse o então diretor interino da FAA, Daniel Elwell, em carta aos congressistas em julho passado, referindo-se ao alerta de mau funcionamento.
As multas podem se acumular rapidamente. Segundo as diretrizes da agência, grandes empresas como a Boeing podem ser multadas entre US$ 3.000 e mais de US$ 34 mil por violação. Esse valor poderia ser aplicado a cada um dos mais de 300 aviões nos quais o alerta não funcionou.
Além disso, um acordo de 2015 para arquivar 13 investigações separadas contra a Boeing —algumas delas que envolviam questões semelhantes de certificação de aeronaves— oferece à FAA uma maneira de agir rapidamente contra a empresa. A Boeing pagou US$ 12 milhões naquele caso, mas poderia ser multada em outros US$ 24 milhões se a FAA constatar que as violações continuaram.
No mínimo, a falha em divulgar que a luz de aviso não funcionava e outras divulgações recentes da empresa —como mensagens entre funcionários zombando da FAA— azedaram significativamente o relacionamento entre a fabricante de Chicago e sua reguladora.
J.E. Murdock, que atuou diretor jurídico da FAA e vice-administrador interino na década de 1980, disse que nunca viu nada parecido com o que chamou de recente "desrespeito" da Boeing por normas durante suas quatro décadas de trabalho no setor de aviação. "Não sei como isso aconteceu, mas é preocupante", disse Murdock.
A decisão da Boeing de omitir da FAA dois grupos de mensagens de texto e emails ácidos e sarcásticos entre seus funcionários é contrária à política da agência, que incentiva a divulgação de informações voluntariamente. A Boeing havia compilado pelo menos algumas das mensagens no início do ano passado, mas apenas as divulgou à FAA no fim do ano passado e em janeiro.
A FAA disse em comunicado enviado por email que não comenta possíveis penalidades.
Gordon Johndroe, porta-voz da Boeing, disse que a empresa não comentaria nenhuma possível investigação em andamento. A empresa havia dito que pode estar sujeita a multas não especificadas em documento enviado à SEC no mês passado, mas acrescentou que não antecipou impacto significativo em seus resultados.
Os acidentes com o 737 Max —houve um segundo na Etiópia em março passado, no qual o alerta também não funcionou— mataram 346 pessoas, suspenderam os voos com o avião em todo o mundo e causaram custos estimados em US$ 18,6 bilhões à empresa.
--Com a colaboração de Tom Schoenberg, Julie Johnsson e Ryan Beene.
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