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Intervenções do BC no câmbio custaram R$ 25,2 bi em 10 anos

Adriana Fernandes e Fabrício de Castro

Brasília

14/06/2018 07h00

Usados pelo Banco Central como instrumento de contenção para a alta do dólar em momentos de volatilidade do mercado, os swaps cambiais - que equivalem à venda futura de dólares - custaram ao governo R$ 25,2 bilhões nos últimos dez anos. Esse gasto é menor do que o impacto de R$ 27 bilhões de cada ponto porcentual de aumento da taxa básica de juros, a Selic, mantido por um ano.

Pesquisa da corretora Tullett Prebon também mostra que essas despesas não chegam a 1% do total gasto com o pagamento de juros nos últimos dez anos, que somaram R$ 2,971 trilhões.

O swap é uma forma pela qual o BC interfere no câmbio. Funciona assim: o BC oferece um contrato de venda de dólares, com data de encerramento definida, mas não entrega a moeda. No vencimento, o investidor se compromete a pagar uma taxa de juros sobre valor dos contratos e recebe do BC a variação do dólar no mesmo período.

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Apurados a partir de 2008, quando os swaps começaram a ser usados em maior escala, os dados foram compilados no período até maio passado. Com a disparada do dólar nas últimas semanas, o Banco Central (BC) intensificou a oferta de swaps para segurar o movimento de alta da moeda americana.

A ação alimentou o debate em torno do uso das reservas internacionais, o "seguro", atualmente em US$ 382 bilhões, que o País tem para se defender em momentos de alta volatilidade (forte sobe e desce das cotações no mercado à vista).

"O custo dos swaps foi pequeno. Não dá nem 1% da despesa gigantesca de juros nesse período", disse ao jornal O Estado de S. Paulo e ao Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado) Fernando Montero, economista-chefe da Tullet.

Segundo ele, o custo do swap tem sido muito debatido, mas quando se faz uma retrospectiva de longo prazo, se verifica que o impacto é pequeno porque os períodos de queda compensam parte dos custos do período de alta cambial. Para Montero, os swaps sairão efetivamente caros se o câmbio continuar subindo sem mais recuar. "Nesse caso, contudo, se agradecerá ter colocado swaps e não reservas. O custo é igual e vamos precisar delas", disse.

Com as operações das últimas semanas, o estoque de swaps do BC (posição vendida) está próximo de US$ 50 bilhões. No pico histórico, esse valor chegou a US$ 115 bilhões.

Banco Central

Questionado pela reportagem sobre o custo dos swaps, o BC reafirmou que ele é equivalente ao das reservas. "O que se perde com swaps se ganha muito mais com volume maior das reservas. Nos últimos anos, a combinação entre reservas e swaps deu lucro ao Banco Central", disse a instituição, por meio de sua assessoria.

O economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria Integrada, afirma que o aumento das operações de swap pelo BC nas últimas semanas preocupa, em função do custo para as contas públicas. Segundo ele, o atenuante é que, por outro lado, com a alta do dólar, o BC obtém ganhos com sua posição de cerca de US$ 382 bilhões em reservas internacionais. "Os swaps têm um efeito fiscal. O fluxo acaba aumentando quando o dólar sobe e o BC está exposto nessa posição de swap", explica. "Isso gera uma despesa financeira que eleva o déficit nominal a cada mês, o que aumenta a necessidade de financiamento, potencializando a alta da dívida."

Em 2015, a posição vendida do BC em swaps causou prejuízo para a instituição de R$ 89,657 bilhões, em função do avanço da moeda americana sobre o real. No ano seguinte, porém, com a queda do dólar, a posição passou a gerar ganhos, que chegaram a R$ 75,562 bilhões. É por isso que, ao se observar um período mais longo - como dez anos -, o custo fiscal do swap parece menor.

Liquidez

Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" e ao Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado), o presidente do BC, Ilan Goldfajn, deixou claro que a instituição somente passará a promover outras operações no mercado, além das de swap, se houver necessidade. Ilan vem afirmando que o BC ainda não vê necessidade de promover leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra no futuro) ou vender dólares das reservas.

Nos números mais recentes de fluxo e nos preços dos ativos, ainda não há indicações de falta de liquidez de dólar à vista.

No passado, com Alexandre Tombini no comando do BC, a instituição chegou a promover leilões regulares de swap e também de linha. A situação naquela época, no entanto, era diferente: havia forte pressão no mercado futuro de dólar, que justificava a oferta de swaps, mas também um processo de saída de investidores do Brasil, o que demandava dólares à vista e justificava as operações de linha. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".