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'Desmame' de subsídios não pode ser radical, diz ministra da Agricultura

Adriano Machado/Reuters
Imagem: Adriano Machado/Reuters

Adriana Fernandes e Julia Lindner

Brasília

11/02/2019 11h35

Em meio à tensão dos produtores com o risco de corte pela equipe econômica da oferta de crédito com taxas subsidiadas pelo Tesouro Nacional, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, alerta que um "desmame" radical dos subsídios pode desarrumar o agronegócio, que responde por 20% do PIB do País. "Vamos quebrar a Agricultura? É esse o propósito? Tenho certeza de que não é", diz a ministra.

A tensão entre os produtores cresceu depois que o presidente do Banco do Brasil (BB), Rubens Novaes, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo afirmou que o "grosso da atividade rural" pode se financiar com as taxas de mercado.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, também avisou no Fórum Econômico Mundial de Davos que pretende cortar esse ano US$ 10 bilhões da conta de todos os subsídios do Tesouro em 2019.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo e ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Tereza Cristina, que liderou a bancada ruralista no Congresso, diz que o governo desenha um novo modelo de financiamento do setor agrícola, mas assegurou que nada será feito de forma unilateral pela área econômica.

A seguir, os principais pontos da entrevista.

Depois da declaração do presidente do BB de que o grosso da atividade rural pode se financiar a taxas de mercado, o setor ficou apreensivo. O que mudará no novo financiamento?

No Plano Safra atual, que não fui eu que fiz, já foi difícil porque o dinheiro do Tesouro está cada dia mais curto. Enquanto não resolvermos esse déficit público, é uma briga porque está todo mundo dentro da caixinha. Tira daqui e põe ali. É uma dança das cadeiras dentro do mesmo salão. Já estamos conversando sobre novas maneiras de financiamento.

O governo vai cortar os R$ 10 bilhões de subvenção, que estão previstos no Plano atual, já para a próxima Safra?

Não está pacificado. Está sob a mesa ainda em discussão. O Ministério da Agricultura tem que dizer o que ele pensa e quais são as consequências para a equipe econômica.

Qual a orientação do seu ministério?

Primeiro temos que ter uma discussão mais profunda. Não estou dizendo que eu sou contra fazer, mas temos que ter um tempo. Vamos tirar quanto dos grandes produtores? Qual a fonte de financiamento nova dos grandes? Quanto de juros estará disponível? É mercado livre? É, tá bom, o que os bancos privados vão fazer? O Banco do Brasil tem hoje 46% do crédito rural.

A reação tem sido grande à nova posição do BB?

Essa discussão tem de começar, mas não é unilateral. Se fosse, não precisava vir aqui na Agricultura. A Economia resolvia com os bancos e ponto final. Não é isso. Vamos quebrar a Agricultura? É esse o propósito? Tenho certeza de que não é. Foi criado um grupo de trabalho entre o Banco Central, Economia e nós. Está apertado o Orçamento, então vamos trabalhar.

Quais os riscos?

Não podemos criar um problema com a agricultura nesse momento. Além de tudo, teremos uma grande safra, mas ela é menor do que se previa, porque tivemos problemas climáticos pontuais. Temos uma agricultura crescente ainda no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul em áreas de pecuária que estão entrando para o setor produtivo. Isso é muito bom. Precisa ter crédito.

Pode desarranjar o setor?

Eu acho que pode. Se não tivermos cuidado, pode desarrumar muito o setor. Previsibilidade é a palavra de que precisamos. É muito bonito falar que vai tirar tudo. A vida inteira essa época (de preparação do Plano Safra) é tensa. O que precisamos é afinar, porque mudou o viés da política. Será que o presidente Bolsonaro quer que a agropecuária encolha no seu governo? Podemos fazer coisas novas, mas passo a passo. Não é de repente dizer que agora mudou a regra do jogo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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