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Saraiva vende ativos e recebe R$ 160 mi para pagar dívidas

Fachada de loja da Livraria Saraiva - Reprodução
Fachada de loja da Livraria Saraiva Imagem: Reprodução

Fernanda Guimarães

17/06/2022 17h00

Ex-líder de mercado de livrarias no Brasil, a Saraiva ganhou fôlego para superar sua grave crise financeira e tentar sair de um processo de recuperação judicial que se arrasta há mais de três anos. Em um leilão judicial realizado nesta semana, a empresa vendeu o ponto de uma loja do Shopping Ibirapuera, em São Paulo, hoje alugada pela varejista Centauro, além de créditos tributários, segundo apurou o Estadão.

Com o leilão, a varejista abaterá cerca de R$ 160 milhões de sua dívida, que já alcançava a casa de R$ 500 milhões. O negócio será concretizado apenas após homologação judicial das propostas vencedoras.

"Ainda há muito a ser feito, mas se trata de um passo importante. E a venda também foi de uma loja que a Saraiva já sabia viver sem", comenta uma fonte próxima da empresa, que pediu anonimato.

O espaço agora ocupado pela Centauro era o único ponto que ainda pertencia à Saraiva - o restante das lojas abertas funciona em áreas alugadas. Os créditos tributários pertenciam originalmente ao Banco do Brasil, mas estão hoje nas mãos do fundo Travessia, do BTG Pactual.

Esses eram os únicos ativos disponíveis para venda, conforme o plano de recuperação judicial. Anteriormente, a companhia tentou vender seu e-commerce (Saraiva.com), ativo que foi a leilão em mais de uma ocasião, sem sucesso.

O dinheiro da venda não entrará no caixa da empresa. Será destinado exclusivamente para o abatimento do endividamento. O restante da dívida deve ser pago pela geração de caixa. Os credores também poderão optar, conforme o último plano de recuperação aprovado, trocar a dívida por ações.

RECUPERAÇÃO

A visão interna é de que, para sair da recuperação judicial, a Saraiva precisará voltar a ter produtos em consignação (sistema em que a loja expõe o produto, sem a necessidade de compra). Assim, não precisaria mais gastar seu caixa para ter sortimento em suas prateleiras.

É uma prática comum de mercado. No entanto, depois de tomar vários calotes, várias editoras estão se recusando em atuar nesse esquema com a rede. Ou seja: a Saraiva só recebe livros se comprá-los, segundo fontes de mercado.

No último relatório divulgado nos autos do processo, o administrador judicial, a RV3, informa que a Saraiva registrou prejuízo de R$ 15,8 milhões de janeiro a abril deste ano, mais do que as perdas referentes a 2021 como um todo.

Segundo o mais recente resultado da empresa, relativo a março, a Saraiva tinha 34 lojas. No início de 2017, um ano antes da recuperação judicial, eram 113 lojas. A mineira Leitura, que assumiu algumas lojas que anteriormente eram da Saraiva, é hoje a líder do setor, com mais de 90 unidades.

SEM MEGASTORES

Diferentemente do que faz a Saraiva, que durante anos apostou em grandes lojas e chegou a fazer um forte investimento na comercialização de produtos eletrônicos, a tendência atual das livrarias é de unidades com custos menores, mais focadas em livros e papelaria.

O modelo de megastores também era usado pela Cultura, antiga segunda colocada do mercado, que fechou quase todas as suas lojas e também está em recuperação judicial há cerca de quatro anos.

A substituição de lojas maiores por unidades de menor porte está ficando clara no Shopping Iguatemi, onde até pouco tempo atrás a Cultura tinha uma megastore, que está sendo substituída por uma unidade menor da Livraria da Vila.