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Brasil perde 492 mil postos de trabalho em 2 meses de enxugamento, diz Ipea

Rio

26/10/2022 13h34

O mercado de trabalho mostrou uma redução no número de trabalhadores ocupados no País por dois meses seguidos, quase meio milhão de vagas a menos no período, segundo cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) obtidos pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram mensalizados e dessazonalizados por pesquisadores do Ipea. Os resultados mostram que a população ocupada passou de 100,439 milhões em junho para 99,982 milhões em julho, descendo a 99,947 milhões em agosto. Em dois meses, a queda no número de vagas foi de 0,5%, 492 mil postos de trabalho a menos.

A população desocupada também caiu, passando de 9,903 milhões em junho para 9,690 milhões em julho, descendo novamente a 9,251 milhões em agosto. O total de pessoas em busca de emprego diminuiu 6,6% em dois meses, 652 mil desempregados a menos.

O que cresceu foi a inatividade, um aumento de 2% em agosto em relação a junho, 1,289 milhão de pessoas a mais nessa situação. A população inativa aumentou de 63,063 milhões em junho para 63,681 milhões em julho, alcançando 64,352 milhões em agosto.

Na série livre de influências sazonais, a taxa de desemprego recuou pela 15ª vez consecutiva, saindo de 9,0% em junho para 8,8% em julho, caindo a 8,5% em agosto de 2022, o menor patamar desde julho de 2015.

"A queda da desocupação foi explicada, nos últimos dois meses, por uma retração da taxa de participação na margem, pois a população ocupada e o nível da ocupação não apresentaram crescimento nesse período", observaram os pesquisadores do Ipea Maria Andreia Parente Lameiras e Marcos Hecksher, na Carta de Conjuntura publicada pelo instituto neste mês.

A taxa de participação, que mostra a proporção de pessoas em idade de trabalhar que efetivamente participam do mercado de trabalho, diminuiu de 63,7% em junho para 63,4% em julho e 62,9% em agosto.

O nível da ocupação, que mostra a fatia de pessoas ocupadas entre a população com idade para trabalhar, caiu de 58% em junho para 57,7% em julho e 57,6% em agosto, na série mensalizada com ajuste sazonal.

A perda de fôlego no mercado de trabalho coincide com o enfraquecimento da atividade econômica registrado em agosto tanto pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) quanto pelo Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ambos os indicadores antecipam os rumos do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, apurado pelo IBGE.

O IBC-Br caiu 1,13% em agosto ante julho. Já o Monitor do PIB da FGV apontou uma retração de 0,8% em agosto ante julho.

"É um padrão que já era esperado", lembrou Rodolpho Tobler, responsável pelo Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). "Pode ser o início dessa desaceleração do mercado de trabalho."

Segundo ele, a previsão era que a geração de vagas no mercado de trabalho arrefecesse acompanhando a desaceleração da atividade econômica projetada para o segundo semestre, mas, principalmente para o ano que vem, em meio a um cenário de impacto defasado da política monetária, de juros elevados para conter a inflação.

"É esperado que agora comece a ficar um pouco mais estável, com estabilização da taxa de desemprego até o ano que vem. Mas, na virada para 2023, pode ter até um aumento na taxa de desemprego. Claro que nada perto do que teve durante a pandemia", ponderou Tobler.

Tobler lembra que tanto o varejo quanto a indústria dão sinais de desaquecimento, o que contribui para o mercado de trabalho "ficar um pouco de lado".

A Tendências Consultoria Integrada corrobora a expectativa de um mercado de trabalho mais estável no médio prazo: a projeção para a taxa de desemprego média de 2022 é de 9,4%, sucedida em 2023 por uma taxa média praticamente no mesmo patamar, aos 9,3%.

"De modo geral, agora, com esse arrefecimento da atividade econômica no segundo semestre de 2022 e ao longo de 2023, a gente deve ver uma forte desaceleração no crescimento da população ocupada pela Pnad na margem e a geração de vagas formais pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados)", previu o economista Lucas Assis, analista da Tendências Consultoria Integrada. "Então esse cenário de impactos cumulativos da política monetária doméstica e esse esgotamento do impulso gerado pela normalização do consumo de serviços presenciais, e também pela redução significativa de parte dos estímulos fiscais, deve limitar o mercado de trabalho", acrescentou.

O levantamento do Ipea desconta influências sazonais depois que as séries trimestrais da Pnad Contínua sobre contingente de ocupados, desempregados e inativos são mensalizadas, portanto, não há uma relação contábil exata entre elas.