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Crise da Petrobras dura 2 anos com queda de ação, prisão, dívida e processo

Letícia Marçal

Do UOL, em São Paulo

21/03/2016 06h00Atualizada em 21/03/2016 13h47

Nesta segunda-feira (21), após o fechamento dos mercados, a Petrobras divulga seu segundo balanço anual sob a sombra da Lava Jato.

Dois anos após o começo da operação, muita coisa mudou na estatal. Executivos foram presos e a empresa enfrenta processos na Justiça; as ações caíram e a petroleira passou a valer menos; e sua dívida, que já era grande, aumentou ainda mais.

Não que antes fosse as mil maravilhas: o alto endividamento já preocupava o mercado, por exemplo. Mas, certamente, a Lava Jato marcou o início de uma das piores fases já vistas nos mais de 60 anos da Petrobras.

O UOL destacou alguns pontos para ilustrar as mudanças enfrentadas pela companhia. Veja abaixo.

Executivos presos 
presos - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

O escândalo de corrupção envolveu diretamente membros do alto escalão da Petrobras. Ex-executivos foram presos e condenados.

Entre eles, estão Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento, que fechou o primeiro acordo de delação premiada da Lava Jato, em agosto de 2014, e foi o principal delator do esquema de corrupção na estatal.

Depois, vieram Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da petroleira e ex-diretor financeiro da BR Distribuidora, Renato Duque, ex-diretor de Serviços, Pedro Barusco, ex-gerente-executivo de Engenharia, e Jorge Zelada, ex-diretor da área Internacional.

Primeira mulher a comandar a Petrobras, Graça Foster não resistiu à pressão e renunciou ao cargo, junto com cinco diretores. Foi substituída pelo então presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine.

Ações em queda 
ações - Daniel Marenco/Folhapress - Daniel Marenco/Folhapress
Imagem: Daniel Marenco/Folhapress

Os preços das ações da Petrobras (PETR3, PETR4) dançaram ao som da Lava Jato nos últimos dois anos.

Quando a operação começou, em 17 de março de 2014, as ações preferenciais da petroleira (PETR4), com prioridade na distribuição de dividendos, valiam R$ 11,84. Dois anos depois, em 17 de março de 2016, elas fecharam a R$ 8,10 --queda de 31,6%.

No meio tempo, os papéis viveram um sobe e desce, atingindo um pico de R$ 24,56 (2/9/14), mas também meros R$ 4,20 (26/1/16).

PETR4 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

As ações também foram influenciadas pelo noticiário político, primeiro com as eleições e, depois, com a crise no governo Dilma Rousseff, conforme o mercado esperava maior ou menor interferência nos negócios da estatal. Pesou, ainda, a oscilação dos preços do petróleo no mercado global.

Processos na Justiça 
processo - iStock - iStock
Imagem: iStock

A Petrobras sofre processos movidos por investidores no Brasil e nos Estados Unidos, que reclamam terem perdido dinheiro ao comprar ações e títulos da empresa. Eles alegam que as perdas foram causadas pelo esquema de corrupção.

Investidores também ameaçam entrar com processos na Holanda.

Endividamento 
endividamento - Karen Bleier/AFP - Karen Bleier/AFP
Imagem: Karen Bleier/AFP

A todo esse cenário sombrio, soma-se o fato de a Petrobras ser uma empresa altamente endividada: US$ 127,5 bilhões, segundo a consultoria Economatica.

A petroleira gastou muito dinheiro no pré-sal e em outros projetos. Também comprou gasolina cara lá fora e vendeu mais barata aqui no Brasil, porque o governo queria segurar a inflação. Além disso, como a estatal tem muitas dívidas no exterior, a alta do dólar aumentou esse rombo.

De todas as empresas da América Latina e dos EUA que têm ações em Bolsa, a Petrobras é a segunda mais endividada, ficando atrás apenas da norte-americana General Eletric, de acordo com a consultoria.

Cortes generalizados 
investimentos - Shutterstock - Shutterstock
Imagem: Shutterstock

Diante da crise e da dívida, a Petrobras teve que fazer como muitos brasileiros: enxugar o orçamento e "adiar os sonhos".

O plano de investimentos, que um dia já foi de US$ 236,7 bilhões, ficou mais mirradinho. Em junho de 2015, a petroleira previa investir US$ 130,3 bilhões num período de cinco anos. Em janeiro de 2016, a previsão já havia encolhido para US$ 98,4 bilhões.

A empresa decidiu, ainda, colocar à venda bens e negócios: terminais, usinas, gasodutos, poços de exploração, transportadoras, participações em outras empresas e operações no exterior. O plano é vender o equivalente a US$ 15,1 bilhões entre 2015 e 2016, mas tem andado em marcha lenta.

Também houve corte de áreas e cargos de chefia, além de demissões, voluntárias ou não.

Queda do petróleo
petróleo - Reprodução/NBCnews - Reprodução/NBCnews
Imagem: Reprodução/NBCnews

Em paralelo ao escândalo de corrupção e ao desenrolar da Lava Jato, a Petrobras teve que lidar com outro fantasma: a queda dos preços do petróleo no mercado global. Nos últimos dois anos, o preço da matéria-prima caiu de um patamar acima de US$ 100 para algo entre US$ 30 e US$ 40.

Como é seu principal produto, a Petrobras também sofreu. Até o pré-sal ficou em xeque: se o petróleo estiver barato demais, não compensa financeiramente investir tanto dinheiro para sua exploração.

(Edição: Maria Carolina Abe)