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Juro cai a 10,25% e é o menor desde 2013, na 1ª decisão pós-delação da JBS

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Do UOL, em São Paulo

31/05/2017 18h01Atualizada em 01/06/2017 12h47

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (31) cortar a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, de 11,25% para 10,25% ao ano. A decisão foi unânime. 

Com isso, a Selic volta ao seu menor nível desde novembro de 2013, quando os juros estavam em 10% ao ano. A decisão repete o corte feito em abril, quando o BC também derrubou a taxa em 1 ponto percentual: de 12,25% para 11,25%.

Em nota (leia íntegra abaixo), o BC afirmou que suas projeções "envolvem maior grau de incerteza" e que o principal fator de risco é "sobre a velocidade do processo de reformas e ajustes na economia".

Essa foi a primeira reunião do BC para definir os juros desde que o governo de Michel Temer foi atingido pelas delações de executivos da JBS. O escândalo veio à tona em 17 de maio. 

Antes disso, analistas de mercado chegaram a apostar num corte de 1,25 ponto na taxa de juros, já que a inflação tem se mantido baixa (foi de 4,08% em 12 meses, até abril), mas a economia ainda se recupera em ritmo lento.

Juros X Inflação

Os juros são usados pelo BC para tentar controlar a inflação. De modo geral, quando a inflação está alta, o BC sobe os juros para reduzir o consumo e forçar os preços a caírem. Quando a inflação está baixa, o BC derruba os juros para estimular o consumo. 

A meta em 2017 é manter a inflação em 4,5% ao ano, mas há uma tolerância de 1,5 ponto, ou seja, pode variar entre 3% e 6%.

Por outro lado, os juros também interferem no crescimento econômico. Quando estão altos, a tendência é as empresas investirem menos na produção e as famílias consumirem menos, o que prejudica o crescimento. 

Juros para o consumidor são mais altos

A Selic é a taxa básica da economia e serve de referência para outras taxas de juros (financiamentos) e para remunerar investimentos corrigidos por ela. Ela não representa exatamente os juros cobrados dos consumidores, que são muito mais altos.

Segundo os últimos dados divulgados pelo BC, a taxa de juros do cheque especial em abril era de 328,3% ao ano. Já os juros do rotativo do cartão de crédito eram de 422,5% ao ano.

Decisão dentro do esperado

A decisão veio dentro do esperado. A maioria dos economistas consultados pelo BC no Boletim Focus e pela agência de notícias Reuters esperava corte de 1 p.p. na Selic.

Dos 38 economistas ouvidos pela Reuters, 30 acertaram a nova taxa de juros. Cinco profissionais previram corte de 0,75 p.p., dois citaram redução de 1,25 p.p. e apenas um acreditava em uma redução 0,5 ponto.

Sexta queda seguida

O BC reduziu a Selic pela sexta vez seguida. A redução dos juros começou no fim do ano passado, com dois cortes de 0,25 ponto percentual, derrubando a taxa de 14,25% para 13,75% ao ano.

Em 2017, o BC acelerou o ritmo de baixa, com dois cortes de 0,75 ponto percentual e mais dois de 1 ponto, incluindo o desta quarta-feira.

Leia a íntegra da nota do Copom

"O Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic em um ponto percentual, para 10,25% a.a., sem viés.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

O conjunto dos indicadores de atividade econômica divulgados desde a última reunião do Copom permanece compatível com estabilização da economia brasileira no curto prazo e recuperação gradual ao longo do ano. A manutenção, por tempo prolongado, de níveis de incerteza elevados sobre a evolução do processo de reformas e ajustes na economia pode ter impacto negativo sobre a atividade econômica;

Até o momento, o cenário externo tem se mostrado favorável, na medida em que a atividade econômica global mais forte tem mitigado os efeitos de possíveis mudanças de política econômica nos países centrais;

O comportamento da inflação permanece favorável, com desinflação difundida inclusive nos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária. É necessário acompanhar possíveis impactos do aumento de incerteza sobre a trajetória prospectiva da inflação;

As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus recuaram para em torno de 4,0% para 2017, situam-se ao redor de 4,4% para 2018 e encontram-se em torno de 4,25% para 2019 e horizontes mais distantes; e

No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom encontram-se em torno de 4,0% para 2017 e 4,6% para 2018. Esse cenário supõe trajetória de juros que alcança 8,5% ao final de 2017 e 2018.

Ressalta-se que, neste momento, as projeções condicionais do Copom envolvem maior grau de incerteza.

O Comitê entende como fator de risco principal o aumento de incerteza sobre a velocidade do processo de reformas e ajustes na economia. Isso se dá tanto pela maior probabilidade de cenários que dificultem esse processo, quanto pela dificuldade de avaliação dos efeitos desses cenários sobre os determinantes da inflação.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros em um ponto percentual, para 10,25% a.a., sem viés. O Comitê entende que a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e, em maior grau, de 2018, é compatível com o processo de flexibilização monetária.

O Copom ressalta que a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá, dentre outros fatores, das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira. O Comitê entende que o aumento recente da incerteza associada à evolução do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira dificulta a queda mais célere das estimativas da taxa de juros estrutural e as torna mais incertas. Essas estimativas continuarão a ser reavaliadas pelo Comitê ao longo do tempo.

Em função do cenário básico e do atual balanço de riscos, o Copom entende que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequada em sua próxima reunião. Naturalmente, o ritmo de flexibilização continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Viana de Carvalho, Isaac Sidney Menezes Ferreira, Luiz Edson Feltrim, Otávio Ribeiro Damaso, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel."