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Como vacina contra febre aftosa virou ponto crucial na economia brasileira

220 milhões de bovinos e búfalos deverão receber vacina no Brasil até o dia 31 de maio - Caio Guatelli/Folhapress
220 milhões de bovinos e búfalos deverão receber vacina no Brasil até o dia 31 de maio Imagem: Caio Guatelli/Folhapress

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL

02/05/2018 16h00

A campanha de vacinação de bovinos e búfalos contra a febre aftosa começou nesta terça-feira (1) em 24 Estados e no Distrito Federal e deve durar todo o mês. Apesar de não afetar seres humanos, o combate à doença tornou-se um dos pontos cruciais da agropecuária e economia nacional.

Hoje um país livre de febre aftosa com vacinação, os únicos estados a não entrarem nesta etapa são o Amapá, que vacina seus rebanhos entre outubro e novembro, e Santa Catarina, que já erradicou a doença. Grande parte do rebanho nacional de 220 milhões de bovinos e búfalos deverão receber a dose de 5 ml até o dia 31 de maio.

Especialistas ouvidos pelo UOL explicam por que o controle da doença é uma questão tão importante para a agropecuária brasileira, mesmo sem afetar diretamente seres humanos.

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Impacto nas exportações

De acordo com Antônio Pitangui, presidente da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o ponto mais relevante da luta contra a febre aftosa é o status internacional que o país atinge ao erradica-la.

“Os mercados importadores querem saber se a carne tem qualidade e a matrícula de inscrição, vamos dizer, é a febre aftosa”, explica Pitangui. “É um status importante quando falamos em exportação.”

Pitangui afirma que, no dia 21 de maio, o Brasil deverá ser referendado com a chancela internacional de país livre de febre aftosa com vacinação. “É um divisor de águas para um país, um dos principais avaliadores da qualidade do rebanho”, argumenta. “Países evoluídos na agricultura estão livres dessa doença.”

Na metade de 2017, os Estados Unidos suspenderam decidiram suspender todas as importações de carne bovina in natura (fresca) do Brasil. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) afirmou, por meio de comunicado, que a decisão foi tomada por “recorrentes problemas sanitários”.

O problema estaria relacionado à reação à vacina contra a febre aftosa, como limpeza no uso das agulhas e falta de higiene durante o procedimento. E não ao problema com a doença em si.

“Hoje ela não é mais uma realidade. Fazem cerca de 11 anos que não há foco de febre aftosa no Brasil”, destaca Pitangui. “Mas não foi uma tarefa fácil, dado o tamanho do nosso rebanho. Passamos 60 anos para nos livrar dela.”

O especialista diz que o objetivo agora é atingir o status de país livre da doença sem vacinação até 2022. “Essa é a última etapa, a mais desejada. Por isso falamos tanto para o produtor sempre vacinar: não podemos andar para trás, temos de continuar lutando”, conclui.

Entenda a doença

A febre aftosa é uma doença viral transmissível em bovinos, bobalinos, caprinos e ovinos. No Brasil, no entanto, apenas bovinos e búfalos são vacinados.

“Seu principal problema não é nem a mortalidade, que é baixa, mas a produtividade”, afirma o médico veterinário Roulber Silva, gerente técnico da Boehringer Ingelheim Saúde Animal. “Ela causa febre e lesões na boca, as aftas, e nos cascos. Então, o animal não come nem se locomove direito, o que faz com que perca muito peso e não consiga se reproduzir, por exemplo.”

De acordo com o especialista, mesmo quando o animal se recupera, o que geralmente acontece em poucos dias, ele nunca volta ao normal.

“A febra aftosa é alarmante por causa do seu alto potencial de contágio”, completa Silva. “É um vírus transmitido pelo ar, então a chance de todo um rebanho não vacinado se infectar é de quase 100%.”

Não afeta seres humanos

Apesar do dano que causa aos animais, a febre aftosa não afeta seres humanos. “Ela não é uma zoonose, o homem pode no máximo ser um transportador, não um portador do vírus”, explica o veterinário. “O que significa que ele pode leva-lo nas roupas, na mão, nas botas e infectar outra fazenda, por exemplo.”

De acordo com o especialista, não haveria, inclusive, problema em consumir uma carne de um boi que já portou febre aftosa, embora isso não aconteça no Brasil.

“Além do país já estar livre da doença com vacinação, a Vigilância Sanitária tem como procedimento separar qualquer bovino que mostre sinais da doença e abatê-lo, então essa carne nem chega ao frigorífico”, explica Silva.

Ainda assim, o veterinário adverte para que frigoríficos e consumidores só comprem carnes em lugares que passaram pela inspeção federal e municipal de vigilância. “Este não é o único problema, é importante tomar cuidado”, conclui.