"Situação do Brasil é diferente da Turquia", diz economista
A crise monetária na Turquia, que já derrubou o valor da lira em relação ao dólar em 40% neste ano, gerou temores de que poderia haver um efeito dominó em outros mercados emergentes, como o Brasil.
A turbulência na Turquia, que há anos sofre com crescente déficit em conta corrente e no comércio exterior, é atribuída à crescente inflação, a excessos de intervenção do governo Recep Tayyip Erdogan na economia e às tensões com os Estados Unidos. Seus efeitos já respingam em outros países emergentes.
Nesta segunda-feira (13), a cotação do real chegou a passar de R$ 3,90 frente ao dólar. A preocupação em relação à Turquia foi sentida também nos mercados europeus e asiáticos.
Em entrevista à DW, o economista Marcos Troyjo, diretor do BricLab da Universidade de Columbia, nos EUA, vê o impacto no mercado brasileiro como passageiro. Segundo ele, o momento econômico é de congelamento até a primeira segunda-feira pós-eleição, e a economia brasileira está relativamente blindada do que está ocorrendo na Turquia.
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DW - A instabilidade da economia turca teve um reforço negativo na semana passada, quando o presidente americano, Donald Trump, anunciou que iria dobrar as taxas de aço e alumínio da Turquia. Desde então, diversas Bolsas operaram em queda. Isso deve continuar?
Marcos Troyjo - A imposição de sobretaxas dos EUA sobre aço e alumínio é algo que afetou muitos países. Mas a queda da economia turca não começou agora e não é só por causa das taxações dos EUA, é bom deixar claro. Há um fator geopolítico na situação turca que é mais grave, pois o governo Erdogan tomou diversas atitudes centralizadoras, e isso afeta o humor de investidores internacionais.
A sobretaxa da semana passada anunciada por Trump no Twitter foi apenas o torresminho do paciente que já estava com pressão alta há algum tempo.
No Brasil o movimento foi semelhante, com alta do dólar já na sexta-feira (10) e agora novamente na segunda. Qual o impacto dessa crise no mercado brasileiro?
Marcos Troyjo - Todos os mercados caíram por causa dessa situação da Turquia. Existe uma apreensão natural sobre a possibilidade de a reforma tributária dos EUA provocar uma retração de investimentos, principalmente o capital de curto prazo, em economias emergentes.
Mas o Brasil tem uma situação diferente em comparação com a Turquia, pois hoje temos cerca de US$ 400 bilhões em reservas.
E isso diante das incertezas sobre as eleições de outubro...
Marcos Troyjo - Costumo dizer que o momento econômico brasileiro é de congelamento até a primeira segunda-feira pós-eleição. Há um tipo de investidor maior que já define antes o que vai fazer, mas os pequenos não. Tudo depende do tipo de governante que vamos escolher. Pode ser um com visão mais estatal sobre a formação de demanda ou outro mais liberal, que vê reformas importantes como prioridade. Dependendo do vencedor, podemos ter um cenário muito positivo no mercado internacional, principalmente entre a eleição e janeiro, quando a expectativa do investidor deve crescer bastante sobre o novo governo.
Qual seria o caminho de uma retomada da economia já após a eleição?
Marcos Troyjo - O Brasil pode aproveitar esse cenário de guerra de sobretaxas e fazer negócios importantes em commodities agrícolas e minerais.
Acredito que, se tudo correr bem, o dólar deve ficar entre R$ 3,50 e R$ 3,70 já nos primeiros trimestres de 2019.
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