Com desemprego, barraquinhas de brigadeiro gourmet tomam ruas de São Paulo

Se você mora em São Paulo, provavelmente já cruzou com alguma barraquinha de brigadeiro na rua. O desemprego é uma das razões para o aumento de vendedores informais, embora não haja números exatos. Além do tradicional, de chocolate, os doces nas ruas da cidade ganharam versões gourmet, com sabores como nutella, limão, beijinho, doce de leite e churros.
A vendedora Helena Sousa, 31, está há quatro meses na esquina das ruas Joaquim Floriano e Iguatemi, uma das mais movimentadas do Itaim Bibi, bairro executivo de São Paulo. “A maioria deles passa aqui depois do almoço, antes de voltar para o escritório”, disse.
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Como é uma região muito comercial, Helena fica no ponto das 11h30 às 15h, de segunda a sexta. “É quando há mais movimento. À noite, comem menos, e no fim de semana aqui é vazio”, afirmou a vendedora, que trabalha com brigadeiros há cerca de um ano.
Ela tem um patrão informal, que produz e repassa os doces para que venda. Helena recebe pagamento fixo mais uma porcentagem das vendas. Desempregada há quase dois anos, ela disse que vale a pena: em um dia bom, chega a vender 400 unidades. A média fica em 300 por dia útil.
Helena vende mais de dez sabores, de beijinho a limão. “Mas os clientes preferem mais o tradicional e o de Nutella”, afirmou. Sua estratégia é a venda casada: são quatro unidades por R$ 10. Para encomendar, a centena sai por R$ 100.
A poucas quadras dali, Adriana e Lucas Vasconcelos, 19, têm rotina semelhante. Há três meses vendendo brigadeiros na rua, a mãe, 48, disse que entrou no negócio para ajudar o filho desempregado.
Adriana só ajuda nas vendas. É o filho quem produz diariamente os cerca de cem brigadeiros vendidos pela dupla. Eles também chegam por volta das 11h30 e saem antes das 16h.
Os dois vendem por unidade (R$ 4) ou combo (quatro por R$ 15). “Usamos os melhores produtos e temos o maior cuidado com higiene”, afirmou Adriana.
Futura estudante de nutrição vende doce na Paulista
A estudante Regina Alves, 18, também saiu às ruas para vender seus brigadeiros. Com uma caixa e uma sacola, a jovem disse que roda a região da avenida Paulista, em especial a rua Augusta, oferecendo seus doces.
"Minhas amigas sempre amaram e falavam para eu fazer isso quando a gente vinha curtir por aqui, mas minha mãe não deixava", declarou Regina. Ela faz cursinho e quer entrar na faculdade de nutrição.
Regina vai à aula pela manhã, estuda e faz os doces à tarde e os vende à noite. "Fico até a hora de o metrô fechar. Meus melhores dias são quinta, sexta e sábado, porque vendo muito em barzinho, para o pessoal de larica", disse. Vende entre 40 e 60 doces por noite. “Meus pais pagam os estudos, e eu pago minha cerveja.”
Desemprego estimula aumento de vendedores
A falta de oportunidades tem sido um dos principais motivadores do aumento dessas barraquinhas de brigadeiro, parte da tendência na crise: segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil tem hoje mais de 37 milhões de cargos na informalidade. Como a grande maioria destes vendedores opera dessa forma, sem o TPU (Termo de Permissão de Uso) da Prefeitura, é difícil estimar quantas pessoas vendem doce na rua atualmente na cidade.
É o caso de Tamires Magalhães, 30, que vende seus brigadeiros gourmet na rua Oscar Freire, nos Jardins, um dos pontos de comércio mais caros da cidade. A vendedora já vende doces para encomenda há quatro anos, mas decidiu se dedicar somente a isso depois de perder o emprego como atendente de loja no começo do ano.
“Decidi fazer o que eu sei de verdade, pelo que as pessoas me elogiam”, disse Tamires, trabalhando no mesmo quarteirão entre a avenida Rebouças e a rua Dr. Melo Alves há três meses.
Ela fica no ponto das 13h às 18h30 ou até os 140 doces acabarem (e sempre acabam). “É o horário em que a rua tem mais movimento”, disse ela. Cada brigadeiro custa R$ 3.
Legalização do serviço
Para ambulantes regularizarem seu trabalho, a Prefeitura de São Paulo exige que o ocupante de um espaço público seja um MEI (Microempreendedor Individual) e tenha a TPU. O registro é feito em 25 postos fixos em todas as regiões da cidade, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
Tamires afirmou que já tentou sua TPU, mas não conseguiu. “Eu deixo meus documentos lá, e eles não me respondem”, disse. A Prefeitura afirma que o número de TPUs é limitado por subprefeitura. O órgão instrui os interessados a se informar na subprefeitura adequada. Também há orientações no site da Prefeitura.
A expectativa dos vendedores em geral é que o negócio dê certo. Tamires e Lucas afirmaram que pretendem expandir o negócio se as vendas continuarem a crescer, e Regina disse pensar em transformar a renda extra em profissão assim que ingressar no curso. “Por que não? Falam que emprego está difícil mesmo... Pelo menos assim eu faço o que eu gosto, conheço pessoas diferentes e ainda ganho uns elogios.”
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