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Agro espera de Bolsonaro menos imposto, estrada boa e segurança no campo

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Imagem: Getty Images

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/12/2018 04h00

Para permitir o crescimento do setor agropecuário, o governo Bolsonaro deve aprovar as reformas da Previdência e tributária, melhorar as estradas, aumentar a segurança no campo, fazer acordos comerciais com novos mercados e desburocratizar o financiamento da produção, entre outras dezenas de medidas. Esta é a avaliação da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA).

"Um sistema tributário modernizado trará maior competitividade ao setor agropecuário", disse o presidente da CNA, João Martins, 77.

Melhor infraestrutura em estradas, ferrovias e portos

A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) disse esperar do novo governo investimentos em infraestrutura, como a integração dos modais (rodovias, ferrovias, hidrovias e portos), para facilitar o escoamento da produção e aumentar a competitividade do setor. 

"Hoje a nossa infraestrutura está sucateada", afirmou o presidente Bartolomeu Braz Pereira, 53. A Aprosoja, presente em 16 estados, é associada da CNA e do Instituto Pensar Agro (IPA), que dá embasamento à Frente Parlamentar de Agricultura, do Congresso Nacional.

Segundo Pereira, outro ponto importante é a consolidação dos mercados para exportação, principalmente a Ásia, e a busca por novos acordos internacionais. 

"O Brasil precisa mostrar a qualidade de nossos produtos, para poder competir em pé de igualdade com outros mercados, sem tarifação", afirmou ele, que defende a desoneração de impostos.

Desburocratização e respeito às leis

O presidente da Aprosoja Brasil disse que também espera do novo governo "desburocratização e respeito às leis brasileiras". "A burocracia é o que reina no Brasil hoje. É preciso cumprir as leis com simplificação. Se o governo dificulta na burocracia, isso leva a propinas, que leva à corrupção", afirmou.

Para ele, leis ambientais, por exemplo, têm trazido dificuldade à produção sustentável. "Muitos falam que somos nós que desmatamos, mas é o contrário, nós preservamos. Dos 66% do território brasileiro que está preservado com vegetação original, 25% estão dentro das nossas propriedades rurais. Quem zela por essas áreas preservadas somos nós, os produtores rurais. Se há desmatamento de madeireiro, que ele seja punido. Mas nossa produção é sustentável", declarou.

Mais liberdade de mercado

O presidente da Associação Nacional de Defesa dos Agricultores, Pecuaristas e Produtores da Terra (Andaterra), Sérgio Pitt, 61, disse que a entidade espera do governo Bolsonaro menos burocratização, para reduzir custos e desonerar o setor, e mais liberdade de mercado.

"Esperamos a menor intervenção possível do governo no setor. O Estado deve, claro, cuidar da regulamentação e da infraestrutura, mas precisa apenas desonerar a carga tributária e deixar o mercado andar por si só", afirmou.

Com cerca de 3.700 associados em 17 estados, a Andaterra presta assessoria jurídica em ações coletivas do setor.

Documento aponta gargalos e soluções

Em agosto passado, a CNA lançou o documento "O Futuro é Agro 2018-2030", que aponta gargalos e soluções possíveis para a agropecuária. 

O documento, de 140 páginas, foi elaborado pelo Conselho do Agro, que é composto por 15 entidades do setor, em parceria com representantes do meio acadêmico, da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar).

No documento, uma espécie de radiografia da agropecuária brasileira, foram definidos dez temas prioritários para o setor:

  • Macroeconomia e os desafios
  • Política agrícola: aperfeiçoamento e modernização
  • Agro no mercado externo
  • Sustentabilidade dos sistemas de produção
  • Segurança jurídica
  • Tecnologia e inovação no agro
  • Logística: transporte e armazenagem
  • Defesa agropecuária e indústria do agro
  • Educação e assistência técnica
  • Agroenergia

Na logística, por exemplo, para otimizar o escoamento dos produtos agrícolas nos próximos dez anos, o setor aponta 34 obras essenciais em rodovias, ferrovias, hidrovias e portos. 

No item segurança jurídica, o documento traz algumas propostas, entre elas coibir as invasões às propriedades privadas e criar um marco regulatório das reintegrações de posse e uma política de combate à criminalidade no campo.

Quanto ao comércio exterior, o setor pede, entre outras medidas, diversificação da pauta exportadora, inclusão de pequenos e médios produtores no processo de exportação e conclusão dos acordos comerciais em negociação com Coreia do Sul, México, Canadá e outros mercados, para promover a competitividade da agropecuária brasileira.

"Se essa agenda moderna, sustentável e de livre mercado (sem tabelamento de preços) for concretizada, levará o país a ampliar em 33% a produção agrícola até 2030", disse Martins. Criada há 66 anos, a CNA reúne produtores rurais de todo o país, tendo em sua base 1.949 sindicatos.

Tamanho do setor em 2018

Segundo a CNA, o setor do agronegócio representa 23,5% do Produto Interno Bruto (PIB). De janeiro a novembro deste ano, as exportações chegaram a US$ 93,3 bilhões, aumento de 4,6% em relação ao mesmo período de 2017. 

O setor responde, neste ano, por 42% das vendas externas totais do país e por 7,2% das exportações mundiais do agronegócio, o que consolida o Brasil na terceira posição entre os maiores fornecedores de alimentos do mundo.

Em 2018, os produtos de maior destaque, segundo a CNA, foram soja em grãos, celulose, farelo de soja, carne de frango e açúcar de cana. China (29%), União Europeia (17,2%) e Estados Unidos (6,7%) foram os destinos principais das exportações.

Mas 2018 teve também seu lado ruim. O setor foi prejudicado, segundo a CNA, pela greve dos caminhoneiros e pelo tabelamento do frete, que inflacionou o preço dos insumos agropecuários. Os produtores tiveram aumento dos custos de produção e queda dos preços e de lucro. Isso refletiu no PIB do agronegócio, que deve fechar 2018 com queda de 1,6% em relação ao de 2017.