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Acionistas aprovam acordo Embraer-Boeing, no penúltimo passo do processo

Vinícius Casagrande

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/02/2019 10h55Atualizada em 26/02/2019 15h20

A assembleia de acionistas da Embraer aprovou hoje, com 96,8% dos votos válidos, o acordo firmado com a norte-americana Boeing. As ações da empresa brasileira operavam em alta na Bolsa de Valores.

A área de aviação comercial da Embraer será transformada em uma nova empresa, controlada pela Boeing e avaliada em US$ 5,26 bilhões. Uma segunda empresa, controlada pela Embraer, será dedicada à produção e venda do cargueiro militar KC-390.

A assembleia havia sido suspensa pela Justiça Federal de São Paulo na semana passada, mas a decisão foi revogada ontem. Houve participação de acionistas que detêm 67% das ações da Embraer em circulação.

Este é o penúltimo passo para a finalização do acordo entre as fabricantes. Para que o negócio seja oficializado, falta ainda a aprovação das autoridades reguladoras do Brasil e dos Estados Unidos. As empresas afirmam que a conclusão do processo deve acontecer até o final deste ano. Até lá, ambas continuam operando de forma independente.

As duas empresas começaram as negociações no final de 2017 e aprovaram os termos do acordo em dezembro de 2018. A transação foi aprovada pelo presidente Jair Bolsonaro em janeiro. Embora a Embraer tenha sido privatizada em 1994, o governo é dono de uma "golden share", uma ação especial que dá direito a veto em decisões importantes, como a venda do controle da empresa.

Embraer pode vender sua parte depois

Segundo o acordo, a Boeing terá 80% da nova empresa de aviação comercial e a Embraer ficará com os 20% restantes. A operação foi avaliada em um valor total de US$ 5,26 bilhões, e a Boeing deve pagar à Embraer US$ 4,2 bilhões. Porém, a Embraer pode, a qualquer momento, vender essa fatia para a norte-americana e sair totalmente do negócio.

Na empresa dedicada à produção e venda do cargueiro militar KC-390, a Embraer terá 51% de participação e a Boeing, 49%.

A aviação executiva e as demais áreas de defesa e segurança continuam sob controle exclusivo da Embraer.

Executivo comemora; sindicato critica

Executivos das duas empresas comemoraram a aprovação do negócio. "Essa importante parceria posicionará as duas empresas para oferecer uma proposta de valor mais robusta a nossos clientes e investidores, além criar mais oportunidades para nossos empregados", disse Paulo Cesar de Souza e Silva, presidente e CEO da Embraer.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, no entanto, criticou negócio. "A venda da Embraer para a norte-americana Boeing, aprovada nesta terça-feira (26), em Assembleia Geral Extraordinária (AGE) dos acionistas, é um crime contra o país e coloca sob ameaça milhares de empregos, a indústria aeronáutica e a soberania do país no setor", afirmou o sindicato em nota.

De acordo com a entidade, a assembleia ocorreu em um ambiente irregular e, por isso, será questionada na Justiça pelos sindicatos dos metalúrgicos de São José dos Campos, Araraquara e Botucatu. "As entidades entrarão com recurso contra a decisão da presidente do Tribunal Regional Federal - 3ª. Região, Therezinha Cazerta, responsável por ter cassado a liminar que suspendia a AGE."

Mercado competitivo

As negociações da Boeing com a Embraer começaram após as concorrentes Airbus e Bombardier anunciarem um acordo semelhante, em outubro de 2017. A linha de jatos regionais CSeries da Bombardier, principal concorrente dos aviões comerciais da Embraer, foi incorporada à produção da Airbus e rebatizados como A220-100 e A220-300.

Após a aquisição da Airbus, os jatos regionais ganharam um impulso de vendas. A norte-americana JetBlue, por exemplo, decidiu trocar os aviões da Embraer pelo A220-330. A companhia aérea fez um pedido de 60 aviões do modelo.

A venda da divisão dos aviões comerciais da Embraer para a Boeing é justificada como uma forma para concorrer nessa nova realidade do mercado. O presidente da Azul, John Rodgerson, afirmou que a empresa pode se beneficiar do acordo com a redução do preço dos aviões da Embraer. A Azul tem uma encomenda para 51 jatos E195-E2. 

(Com Reuters)