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Para especialistas, "guerra das maquininhas" ajuda lojista por pouco tempo

Téo Takar

Do UOL, em São Paulo

29/04/2019 14h12

Os lojistas e os consumidores deverão se beneficiar apenas temporariamente da "guerra das maquininhas", como está sendo chamada a disputa entre as credenciadoras de cartões. Especialistas ouvidos pelo UOL avaliam que as grandes empresas do setor estão testando a resistência dos concorrentes. Não há nenhuma intenção de favorecer os clientes a longo prazo.

Liderado pela Rede, credenciadora do banco Itaú, o movimento tem como objetivo proteger a participação de mercado dos grandes grupos financeiros contra a concorrência das novas empresas de meios de pagamento, especialmente as fintechs (empresas de tecnologia que prestam serviços financeiros.

"Não se iluda. Ninguém dá nada de graça sem querer algo em troca. Esse tipo de prática que estamos vendo é típica de um mercado oligopolizado. A briga não é por taxas, para ver quem oferece a melhor condição para o lojista. Na verdade, a briga é por participação de mercado", disse Manfred Back, professor de economia da Universidade São Judas.

"A empresa que conseguir tirar um ou dois pontos percentuais dos concorrentes vai reduzir seu custo unitário médio por transação e vai aumentar o custo do concorrente. Ou seja, a estratégia é assumir um prejuízo inicial agora para ganhar lá na frente. Vence quem tiver mais bala na agulha. E claro, ter um banco grande por trás para financiar antecipação de recebíveis dá uma vantagem de escala enorme", declarou Back.

Campanhas devem ser reavaliadas em alguns meses

Embora nenhuma credenciadora tenha estipulado prazo para encerrar as campanhas de redução de taxas, os especialistas avaliam que elas deverão durar apenas alguns meses.

"Cada empresa adotou uma estratégia um pouco diferente, com objetivo de atingir mais um determinado concorrente. A Rede, por exemplo, tem foco nos pequenos e médios lojistas, com faturamento até R$ 30 milhões. Isso não vai durar para sempre. Daqui a três ou quatro meses, cada empresa irá avaliar os resultados de suas estratégias. Quanto ganharam ou perderam de participação", afirmou Back.

Momento é bom para lojista renegociar contrato

Os pequenos e médios lojistas devem aproveitar o momento atual para buscar condições mais vantajosas, renegociar contratos e até trocar de credenciadora, recomendam os especialistas.

"Sem dúvida, essa guerra favorece o empresário. A possibilidade de receber pagamentos em apenas um ou dois dias, em vez de 30 dias, traz um alívio importante para o fluxo de caixa dos comerciantes", disse Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP.

"Não sabemos até quando essas campanhas irão ficar de pé. Afinal, alguém tem que financiar essa diferença [de prazos de pagamento]. Talvez elas durem mais tempo porque a concorrência no setor de cartões está grande. Na dúvida, o melhor é o empresário pesquisas condições agora e buscar aquela que atende melhor sua necessidade de fluxo de caixa", afirmou Dietze.

A expectativa da FecomercioSP é que o lojista aproveite a economia com as maquininhas e repasse a vantagem para o preço final dos produtos, beneficiando os consumidores.

"Talvez as vendas com cartão de crédito à vista sejam mais incentivadas no lugar do cartão de débito, uma vez que o lojista receberá o valor em até dois dias, como se fosse uma compra com cartão de débito. Já o cliente só terá que pagar a compra em 30 dias."

Cuidado com contratos de fidelidade e outras pegadinhas

As ofertas das credenciadoras são tentadoras, mas o lojista precisa tomar alguns cuidados antes de decidir trocar de empresa ou mudar seu contrato. Algumas ofertas podem esconder custos implícitos ou condições que amarram o lojista à empresa.

A Rede, por exemplo, exige que o lojista tenha conta no Itaú para usufruir do benefício da isenção de taxa de desconto para antecipar o pagamento de recebíveis para dois dias após a compra no cartão de crédito.

"O lojista deve olhar os custos de uma forma global. Ele pode ter um benefício inicial com a maquininha da Rede, mas terá que ficar amarrado ao banco Itaú que, eventualmente, pode cobrar tarifas mais caras pela conta jurídica do que outro banco, isso sem falar em outros custos e tarifas embutidos, mais difíceis de perceber", afirmou a professora Maribel Suarez, especialista em comportamento do consumidor e marketing da Coppead/UFRJ.

"Outro risco é a credenciadora estabelecer um contrato que obriga, por exemplo, o lojista a permanecer com o plano contratado por no mínimo 12 meses, sob pena de multa. Isso também amarra o cliente, que ficar sem poder buscar outras opções melhores nesse período. Basta lembrar do que acontecia quando você fazia contrato em uma operadora de celular ou de televisão a cabo até uns anos atrás", disse Suarez.

"Venda casada" é concorrência desleal

Os especialistas também alertam para o risco de aproveitar promoções que impliquem na adesão de outro produto ou serviço, prática conhecida como "venda casada".

"A campanha da Rede, que exige que o lojista tenha conta no Itaú, tem característica de venda casada. Tanto que está sendo analisada pelo Cade [Conselho administrativo de Defesa Econômica], que é responsável por combater práticas de concorrência desleal. Certamente, o Cade não vai permitir isso. Deve haver uma limitação a esse tipo de prática para que os grandes bancos não abocanhem as startups [pequenas empresas de inovação tecnológica] do setor de meios de pagamento. Senão você mata esse mercado e concentra tudo só nos grandes", afirmou Dietze.

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