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Bolsonaro quer estudos sobre moeda única entre Brasil e Argentina

O presidente Jair Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em viagem a Buenos Aires (da esq. para a dir.)  - Marcos Corrêa/Presidência da República
O presidente Jair Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em viagem a Buenos Aires (da esq. para a dir.) Imagem: Marcos Corrêa/Presidência da República

Luciana Amaral

Do UOL, em Buenos Aires

07/06/2019 07h24Atualizada em 07/06/2019 11h39

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) confirmou hoje ser favorável a estudos para uma eventual implementação de moeda única entre Brasil e Argentina, inicialmente, com a possibilidade de se expandir para o restante do Mercosul (Mercado Comum do Sul).

O assunto foi tratado ontem pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em reunião com empresários e integrantes do governo, inclusive Bolsonaro, em Buenos Aires, capital da Argentina. A moeda já teria até nome: "peso-real".

"O Paulo Guedes nada mais fez do que dar um primeiro passo para o sonho de uma moeda única na região do Mercosul. O peso-real. Como aconteceu com o euro lá atrás, pode acontecer o peso-real aqui", afirmou Bolsonaro.

Ao ser questionado se apoia a ideia, o presidente voltou a dizer que seu forte não é economia, mas disse acreditar no conhecimento e no patriotismo de Guedes. Ao ser indagado se o Brasil teria de "pagar um preço" no caso da moeda única, devido à crise econômica pela qual vive a Argentina, Bolsonaro usou o casamento como metáfora.

"Em todo casamento alguém perde alguma coisa e ganha outras. Eu sou pelo casamento. Eu sou pela família tradicional", afirmou.

No Twitter, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), levantou dúvidas sobre os impactos de uma eventual adoção do peso-real. "Será? Vai desvalorizar o real? O dólar valendo R$ 6? Inflação voltando? Espero que não", escreveu.

Só cinco moedas no mundo

De acordo com Guedes, no futuro é possível que haja cerca de cinco moedas no mundo, e a integração na América Latina poderia eventualmente levar a região a ter uma moeda única. Ele preferiu não citar um prazo para a implementação. Questionado ontem se teria como fazer essa moeda de maneira rápida, respondeu: "claro que tem. Tem jeito de fazer tudo na vida".

Guedes afirmou que, para a moeda única se tornar realidade, é preciso fazer ajustes fiscais nos países envolvidos. Ao mesmo tempo, disse, é preciso aceitar riscos, como os que a Alemanha assumiu na União Europeia e, depois, acabou ganhando competitividade. Hoje, é um dos países com a economia mais bem-sucedida no mundo.

Questionado pela reportagem se o Brasil então poderia virar uma Alemanha no contexto da América Latina, Guedes respondeu "você concluiu bem". Na avaliação do ministro, apurou a reportagem, o Brasil "engoliria" a Argentina e os outros países da região.

Discussões começaram durante viagem aos EUA

O UOL também apurou que o tema foi tratado em reunião em Washington, nos Estados Unidos, com a equipe econômica argentina, quando o presidente Jair Bolsonaro visitou o presidente norte-americano, Donald Trump. Integrantes da equipe, como o ministro da Economia argentino, Nicolás Dujovne, inclusive, já teriam tratado novamente do assunto com Guedes há algumas semanas, no Rio de Janeiro.

O conceito teria sido discutido entre Guedes e a equipe, mas a aplicação imediata foi descartada. O governo brasileiro sabe que, pelo grupo de Macri, a ideia já seria lançada nos próximos meses, a tempo das eleições de outubro na Argentina.

Macri gostaria de se cacifar com a possibilidade perante uma população que não confia no sistema bancário de seu país e, em tese, se sentiria mais confortável com um Banco Central em comum.

BC nega que moeda única esteja em estudo

Após a reunião em Buenos Aires, o Banco Central do Brasil publicou uma nota negando que a moeda única esteja em estudo. O UOL apurou que o texto teria sido escrito para acalmar os ânimos do empresariado brasileiro por um secretário de Guedes que o acompanha na viagem.

Um integrante da equipe econômica disse que a nota foi redigida durante o jantar da comitiva brasileira na embaixada do país em Buenos Aires, e que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, "ligou apavorado", dizendo "estar o maior tumulto" no Brasil, com pessoas do setor econômico ligando para ele. Guedes, inclusive, teria adotado uma metáfora marítima.

Para ele, hoje o "Brasil seria uma canoa que tem de dar a mão ao Macri" para este não afundar, mas tomando "cuidado para não o puxar de corpo inteiro". Se resgatar o colega para a canoa, acredita, todos viram e ficam à deriva. O Brasil só teria capacidade de atuar como um transatlântico, no caso, após a aprovação da reforma da Previdência e a reeleição de Macri.

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