Governo pode apoiar EUA, mas nunca esquecer Brasil, diz produtor de milho
Produtores brasileiros de milho dizem que o governo brasileiro pode se alinhar com políticas dos EUA contra o Irã, mas não deve esquecer da agricultura brasileira. O apelo é feito por causa da confusão envolvendo navios iranianos e a exportação de milho.
Com uma previsão de safra recorde de 70 milhões de toneladas de milho, produtores brasileiros demonstram preocupação com os navios iranianos parados no porto de Paranaguá (PR).
Desde junho, duas embarcações do país do Oriente Médio que trouxeram ureia estão impedidas de voltar para casa com cargas de milho brasileiro devido a uma decisão da Petrobras de não abastecê-los para não sofrer sanções dos Estados Unidos.
Na noite de quarta-feira (24), o STF determinou que a empresa brasileira forneça o combustível, mas até a tarde desta quinta-feira (25) não havia mudança no status dos cargueiros em Paranaguá, segundo a assessoria de imprensa do porto.
Conflito com parceiros comerciais é prejudicial
"Com o tamanho dessa safra, qualquer conflito com parceiros comerciais é prejudicial ao produtor brasileiro que está em plena comercialização do seu produto", diz André Sabará, que aumentou seu plantio na safrinha deste ano de 1.300 hectares para 2.000 hectares, em Nova Mutum (MT). Cerca de 40% das 240 mil sacas vão para exportação.
Ele afirma que essas sanções internacionais podem gerar uma instabilidade na relação comercial com o Irã, justamente o maior importador de milho do Brasil, se não forem resolvidas rapidamente.
No ano passado, o Irã foi o destino de 6,4 milhões das 22 milhões de toneladas de milho exportadas pelo Brasil. No primeiro semestre deste ano, continuou na liderança, com a importação de 2,4 milhões de toneladas do grão.
Atender os EUA, mas também o produtor brasileiro
"É preciso olhar o lado americano, mas o governo não pode esquecer o lado do produtor brasileiro, que precisa de mercado para as suas exportações. O Irã é um grande cliente nosso de milho e carne", diz Giovani Fritsch.
Ele deve terminar a colheita deste ano em Jaciara (MT) com quase 400 mil sacas de milho e exportar 30%. Afirma que o impasse preocupa porque a demora fará os grãos perderem qualidade. "Os políticos deveriam resolver logo isso e priorizar o escoamento agrícola."
Segundo ele, já há muito milho estocado nos armazéns, e a logística de transporte está pior do que a do ano passado, já que o preço da soja não ajudou e os produtores do Mato Grosso estão usando 50% dos silos para guardar soja.
Muito milho brasileiro sendo produzido
Flavio Albuquerque, que produz 60 mil sacos de milho em Castro (PR), afirma que a situação é complicada porque o Brasil está produzindo muito milho e não pode deixar de exportar para o Irã. "Se o milho ficar no país, o preço cai muito. Isso é bom para o pecuarista, mas muito ruim para o produtor."
O agrônomo Fabio Meneghin diz que, diante da importância do Irã como importador de milho e carne do Brasil, o país precisa encontrar uma solução rápida e diplomática que não interfira nos futuros negócios.
"Caso contrário, o Irã poderá passar a comprar mais milho da Argentina do que do Brasil." Meneghin é consultor na Agroconsult, empresa que realiza anualmente o Rally da Safra, monitorando as lavouras de soja e milho dos principais Estados produtores de grãos do país.
Produtor quer rejeitar países com terroristas
Para Lucas Antoniolli, também produtor de grãos no Mato Grosso, a questão com o Irã não preocupa. "Não temos que manter negociação com país que abriga terroristas e não respeita acordo nuclear. O Brasil deve buscar novos mercados para o milho e os outros produtos."
O que está tirando o sono dele no momento é a produtividade menor do milho em relação ao esperado e o alto valor do frete. Ele previa colher 120 sacas por hectare, mas o excesso de chuvas deve derrubar a média para 113 sacas.
O Ministério da Agricultura não comentou o caso.
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